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É tão difícil ser-se mãe/pai!

Teresa Portal
Opinião \ quinta-feira, maio 13, 2021
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Receitas não há para o desempenho de tão nobre papel e, desde que o mundo é mundo, os pais são pais, nem melhores nem piores do que foram os seus, que, no final de contas, lhes serviram de modelo.

Que chatice as crianças pequenas! “Quem me dera que já fosse autónomo, fizesse xixi sozinho, se vestisse de manhã, tomasse o leite e fosse para a escola!” É tão bom ter filhos autónomos! E suspiramos por um pouco mais de tempo para nós, pais, podermos respirar e fazermos atividades que até já esquecemos (ir ao cinema, por exemplo!)...

E estimulamos a sua autonomia. Nessa ocasião, somos pedagogos e utilizamos todos os subterfúgios pedagógicos para lhes elevarmos a autoestima e lhes incutirmos a autoconfiança. E aqueles seres minúsculos ganham poder e nunca mais o perdem, impondo-se como seres independentes, pequenos tiranos dos progenitores.

Só que, incongruência das incongruências! Ainda mal largaram as fraldas e deram os primeiros passos hesitantes nas letras e nos algarismos, damos connosco a dizer: “Era tão bom quando eras pequeno! Vestias o que te dava, fazias o que te mandava e com boa cara!” E isso ainda não é nada comparado com o que vem a seguir!

Que chatice ter filhos adolescentes que estão na fase da contestação, de serem senhores absolutos da verdade, da justiça, do saber universal até! E procuramos anular-lhes a autonomia e queremos que fiquem junto de nós, recusando-lhes o direito de serem eles próprios, de terem a sua identidade...

A transformação por que passamos não é bem aceite, pois... de pais - protetores e pais - camaradas (a que se agarram como lapas), tornamo-nos de repente velhos da Idade da Pedra, chatos, ultrapassados, antiquados,... cotas, como dizem atualmente... apesar dos trinta e muitos, quarenta e poucos anos de idade. Desaparecem os beijinhos, as meiguices, a necessidade do colinho e surge o “Basta! Deixa-me! Chega-te para lá!”, a que se segue a fase do isolamento, depois a dos grupinhos (tão perigosa quando não se quer ser excluído!) e logo a seguir o diálogo de surdos, como se costuma dizer, em que tudo é posto em questão, a começar pelo poder parental “Se mandasse, fazia...”, “Dá-me isto... faz-me aquilo”, em que o progenitor necessita de aprender a ler nas entrelinhas, a interpretar os silêncios, a ouvir os gritos não proferidos e a ouvir as palavras que não chegam a ser expressas.

É tão difícil ser-se mãe/ pai! Esta é, sem dúvida, a missão mais espinhosa que um ser humano pode desempenhar, mas também a mais gratificante de todas pelo sentido de realização profunda que traz à nossa existência, que não acabará connosco, mas que se prolongará através dos nossos rebentos. Deste modo, cumprimos o ciclo de vida pelo qual somos responsáveis, completando o elo de ligação: com um pé no passado, ouvimos as avós e as suas lições de vida, necessariamente tão divergentes e simultaneamente tão semelhantes às nossas; com um pé no futuro, aprenderemos com os nossos netos sobre um mundo que será diferente daquele em que vivemos mas em que as relações serão tão semelhantes...

Receitas não há para o desempenho de tão nobre papel- ser mãe/ pai- e, desde que o mundo é mundo, os pais são pais, nem melhores nem piores do que foram os seus, que, no final de contas, lhes serviram de modelo. Não é a imitação a melhor forma de aprendizagem? Importa, então, é ser-se um bom modelo!

Mas que custa, custa! Só é pena que a paciência e o bom senso não estejam à venda nos supermercados como artigos de primeira necessidade! Claro que os adolescentes dirão o mesmo de nós, pais - educadores em geral, e, quantas vezes, com carradas de razão! Há tanto adulto que ainda está psicologicamente na adolescência! E tanto mãe/ pai que só estará à altura de o ser, quando os filhos lhe saírem do ninho, para também darem as suas cabeçadas e educarem os seus filhos à sua maneira e com a qual, frequentemente, os seus progenitores, para fazerem jus ao seu papel, não estarão de acordo ou só muito dificilmente estarão.

Claro está que, tanto num caso como noutro, há honrosas exceções e essas constituirão a regra, ou pelo menos a sua base, quem sabe!

E assim, neste círculo vicioso, em que tudo se repete incessantemente, a vida vai desenrolando o seu fio interminável de anos, séculos, milénios… até que o Homem lhe resolva pôr fim de uma vez por todas, dando cabo do Planeta e nos force a embarcar numa nave para irmos viver numa qualquer estação espacial a deambular pelo espaço à procura de um outro planeta habitável.

Ficção científica? Pode ser. Acho que já faltou mais!