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Desvendando uma moradia do século I da nossa Era

Gonçalo Cruz
Opinião \ quinta-feira, outubro 11, 2018
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Cristóvão Aires falava de uma "depressão quadrada de terreno" onde desembocaria esta conduta. Verificámos agora que esta "depressão" mais não é do que um dos compartimentos da casa.

Como aqui escrevemos no mês passado, pretendemos divulgar alguns dos resultados preliminares da intervenção arqueológica realizada no presente ano de 2018 na Citânia de Briteiros. Parte dos trabalhos abrangeram um dos balneários que conhecemos neste grande castro. Outra parte incidiu sobre uma grande casa localizada junto à rua principal do castro, na encosta virada a sudeste, por onde começam, aliás, as visitas ao monumento. É deste espaço que falaremos.

Tínhamos aqui escrito, no passado mês de Junho, que existe uma referência do século XIX à existência de um tanque no pátio desta casa, que recolheria água da canalização que abastecia o conjunto, a partir da via pública. Cristóvão Aires falava de uma "depressão quadrada de terreno" onde desembocaria esta conduta. Verificámos agora que esta "depressão" mais não é do que um dos compartimentos da casa que, localizado a Leste do pátio, se implanta a um nível mais baixo. A canalização que abastece a casa parece atravessar o pátio por debaixo do seu impressionante pavimento lajeado, levando a água para este compartimento. Parece efetivamente tratar-se de uma oficina, embora não se possa ainda concluir se era uma forja, uma olaria, ou nenhuma das duas, embora mais provavelmente a primeira hipótese.

A limpeza da totalidade do espaço, que estava praticamente recoberto de matéria orgânica, revelou todos os compartimentos que se conservam. Os materiais recolhidos nesta limpeza testemunham a habitação deste espaço no século I da nossa Era, mais provavelmente até aos inícios do século II, tendo em conta a recolha de um fragmento de terra sigillata de produção hispânica, entre os muitos fragmentos cerâmicos recolhidos. Não se conseguiu ainda datar a construção da casa, nem documentar edifícios anteriores, uma vez que os trabalhos de escavação se resumiram aos últimos dias da campanha, dedicada em grande parte à limpeza e registo do conjunto.

A entrada principal desta grande casa de família, com 408 metros quadrados de área, fazia-se não a partir da rua principal, mas de uma rua secundária perpendicular à primeira. Daqui, entrava-se num grande átrio, cujo lajeado se conserva quase na totalidade. Para o lado esquerdo do átrio ficava a já referida oficina, para o lado direito, um espaçoso compartimento que tinha também um piso empedrado. Em frente, ao fundo, duas outras divisões de cada lado, e um compartimento fundeiro, centralizado em relação ao átrio, que é o espaço que mais se destaca.

A zona do átrio que dá acesso a este espaço central, e aos laterais, era coberta, formando um pequeno pórtico. Os surpreendentes elementos detetados nesta zona permitiram identificar o que seria o espaço ritual da família, que descreveremos no nosso próximo texto.