Demasiado cedo e demasiado tempo: o impacto dos ecrãs nas crianças
Desde os telemóveis aos tablets, é difícil encontrar uma casa onde não haja dispositivos digitais. Este fenómeno não passa despercebido pelas crianças, que cada vez mais cedo começam a contactar com estes aparelhos. Mas qual é o impacto desta exposição na saúde e desenvolvimento infantil?
A tecnologia, quando bem utilizada, pode ser uma aliada no processo educativo e até no entretenimento saudável. No entanto, o excesso de tempo de ecrã, especialmente nos primeiros anos de vida, tem sido associado a vários riscos: atrasos na linguagem, dificuldades de atenção, problemas de sono e aumento do risco de obesidade.
As recomendações da Organização Mundial da Saúde são: nenhum tempo de ecrã para crianças com menos de dois anos e no máximo uma hora por dia para crianças entre os dois e os cinco anos.
É importante evitar o consumo passivo e prolongado de vídeos que tenham linguagem repetitiva, rápida ou pouco rica. Além disso, é cada vez mais comum que as crianças assistam a estes conteúdos em línguas estrangeiras. Na primeira infância pode interferir na aquisição da linguagem.
Assim, devemos optar por conteúdos produzidos ou adaptados para o contexto linguístico e cultural da criança, e sempre que possível, com supervisionamento, comentando, explicando, de forma a ser um tempo de partilha e aprendizagem.
Mais do que proibir, o papel dos pais e cuidadores deve ser o de mediar, orientar e dar o exemplo. É possível criar alternativas simples e eficazes para reduzir o tempo de ecrã e promover um desenvolvimento mais equilibrado. Por exemplo:
- Substituir o tablet antes de dormir por a leitura de uma história.
- Apostar em jogos de tabuleiro, desenhar, brincar com plasticina ou montar construções.
- Organizar pequenas tarefas domésticas adaptadas à idade, que além de ocuparem o tempo, estimulam a autonomia e o sentido de responsabilidade.
- Passar tempo ao ar livre, seja no parque ou numa simples caminhada em família.
BIBLIOGRAFIA
- Sociedade Portuguesa de Neuropediatria. (2024). Recomendações da Sociedade Portuguesa de Neuropediatria para a utilização de ecrãs e tecnologia digital em idade pediátrica.
- Dumuid D. (2020). Screen time in early childhood. The Lancet. Child & adolescent health, 4(3), 169–170.
- Domingues-Montanari S. (2017). Clinical and psychological effects of excessive screen time on children. Journal of paediatrics and child health, 53(4), 333–338.
Elaborado por Marta Isabel Dias, interna de Formação Específica de Pediatria na Unidade Local de Saúde de Trás-os-Montes e Alto Douro