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De professora a escritora na 1.ª pessoa...

Teresa Portal
Opinião \ quinta-feira, outubro 28, 2021
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E como duas carreiras deste cariz (professora e escritora) não se fazem em simultâneo, pois uma corre o risco de sair lesada, esta é a minha opinião, arrumei a escritora na gaveta.

A realização profissional é muito importante para a realização pessoal. E, nesse campo, embora tendo começado pelo secundário no Liceu de Guimarães (a lecionar Alemão, Inglês e Português), acabei a desempenhar funções que nada tinham a ver com o meu curso de base - Filologia Germânica (Inglês e Alemão). Adaptei-me, dancei conforma a música que me deram para dançar. Enviaram-me para o ciclo preparatório, hoje 2ºciclo, onde fiz estágio para lecionar Português e Inglês. E, vesti ainda outra camisola quando cheguei à EB2,3 de Caldas das Taipas. Delegada de Português desde a primeira hora (ontem como hoje, os “tachos” não eram desejados por muitos porque dão trabalho e exigem muitas horas extraordinárias não remuneradas, se encarados com seriedade e competência), eu e a Maria José de Inglês dividíamos os cargos, pois ambas lecionávamos as duas línguas em anos contrários. Desfeito esse imbróglio, em que ficámos a lecionar apenas a língua em que orientávamos o grupo, fiquei-me pelo Português e, nessa altura, há 35 anos, chegámos a ser 19 professores para os 1400 alunos do 2º ciclo.

Hoje, enfrentamos uma grave crise demográfica, como todos sabem. Os alunos diminuem cada vez mais e os “idosos” aumentam exponencialmente. Vejam só a quantidade de pessoas que chegam aos noventa e muitos e ultrapassam mesmo a fasquia dos cem anos!

E eis-me a lecionar Português. Devo dizer que fiz formação para orientar professores de Português e quanta era oferecida em todos os domínios, incluindo a Administração Escolar, já que pertencia ao Conselho Diretivo.

Fui infeliz? Não. Realizei-me completamente no campo profissional onde tive de tudo; ótimos alunos que me deixaram saudades, péssimos alunos que me fizeram duvidar da minha competência (nos primeiros anos da minha carreira!) e alguns desses não esqueci por motivos afetivos. Vou abster-me de falar na gestão da escola que não envolve alunos.

Sempre guiei o meu projeto de vida seguindo um pequeno poema de Sebastião da Gama que adotei desde o primeiro dia.

Pelo sonho é que vamos,
Comovidos e mudos.
Chegamos? Não chegamos?
Haja ou não frutos,
Pelo Sonho é que vamos.

Basta a fé no que temos.
Basta a esperança naquilo
Que talvez não teremos.
Basta que a alma demos,
Com a mesma alegria,
Ao que desconhecemos
E ao que é do dia-a-dia.

Chegamos? Não chegamos?
-Partimos. Vamos. Somos.

 

E como duas carreiras deste cariz (professora e escritora) não se fazem em simultâneo, pois uma corre o risco de sair lesada, esta é a minha opinião, arrumei a escritora na gaveta, abafada em tantas histórias, contos, poesias e até romance(s).

A escritora aparecia ocasionalmente com histórias no jornal escolar O PEQUENO JORNALISTA (que criei, dei substância e pus ponto final no dia em que acabei a carreira docente), no Jornal da vila O REFLEXO com as minhas crónicas e no POVO DE GUIMARÃES que desapareceu…

Sempre me deu um enorme prazer manuscrever o que escrevo já que o monitor do computador sempre me bloqueou. E, espalhados por cadernos, folhas soltas, bloquinhos, há escritos, frases, textos, contos, poemas que suplicam para ver a luz do dia. Alguns já andam espalhados por antologias e um ou outro prémiozito sem grande importância.

Surge agora a publicação das BRUXAS BRUXINHAS, um tema que me é grato porque “A ALQUIMIA DAS PALAVRAS”, o nome do meu site de escritora, em construção, define tudo. As palavras como os medicamentos são mágicas. Uns curam o corpo, as outras curam a alma. E mais não digo. Ficará para uma outra nota autobiográfica.

“Isso era o que ela queria. Sabiam que o seu sonho era ser farmacêutica? Que começou a escrever em Inglês?” E a Bruxa Rebelde sorriu, satisfeita com a partida feita à Teresa que nada soube deste último parágrafo acrescentado com magia e que, só vocês, leitores, sabem da sua existência.