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Crónica da guerra futebolística

António Bárbolo
Opinião \ segunda-feira, julho 09, 2012
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Ronaldo é uma máquina de guerra. Yebda

Agora que se aproxima o final do Campeonato da Europa de Futebol, em que alguns duelos ultrapassaram largamente as quatro linhas do retângulo de jogo, adquirindo conotações políticas que não deveriam ter, proponho-lhes uma viagem pelo vocabulário futebolístico, também ele impregnado de imagens e significados que, à partida, não lhe pertencem. Num país onde o futebol é paixão, mesmo que já não se fale na famosa trilogia fátima, futebol, e fado, é bem provável que tais valores semânticos sejam próprios à nossa língua e à nossa cultura e decorram da relação apaixonada que mantemos com o chamado desporto-rei.

No momento em que escrevo estes primeiros parágrafos está prestes a iniciar-se o duelo ibérico, também chamado batalha ibérica, expressões que nos trazem à memória as pelejas seculares que opuseram estes dois países peninsulares. Hoje, o combate trava-se sobretudo dentro das quatro linhas. Contudo, por fora, há muitos milhões a sofrer para que a dita batalha tenda para um dos lados. E não faltarão comentadores a empregar no seu vocabulário todas as metáforas a lembrar essas antigas refregas. Na verdade, o futebol cristalizou, simbolicamente, os duelos corpo a corpo, as lutas tribais, as guerras entre nações que fizeram parte do nosso quotidiano de outrora. Vale a pena estar de ouvido atento, respigar e apreciar algumas dessas imagens e metáforas.

Quando entrarem em campo, as duas formações serão armadas com onze guerreiros, prontos a deixar em campo tudo o que têm para dar. Os ponta de lança irão à procura do golo, com a pontaria bem afinada e a baliza adversária sempre na linha de tiro. O poder de fogo de uma equipa depende muito da capacidade destas linhas avançadas. E cada vez que armarem o seu remate é bom que o façam com força e determinação, de forma a não qualquer hipótese ao adversário. Nas alas quem não ouviu falar na famosa ala dos namorados que tão famosa ficou na Batalha de Aljubarrota! estarão os defesas, também eles com a missão de farejar a bola e de romper com as linhas inimigas. Mas o verdadeiro duelo travar-se-á a meio campo. A luta será mais renhida do que em qualquer outro espaço, pois os artistas em jogo não são de molde a deixar os seus créditos por mãos alheias, uns a tapar as investidas do adversário, outros a lançar a bola de forma a visar a baliza adversária.

Esperemos pelo jogo.

Terminou a primeira parte. Tudo zero. A verdade é que apesar de alguns episódios atacantes, os primeiros quarenta e cinco minutos foram bastante mornos e pouco pródigos nas imagens bélicas que normalmente pululam em alguns comentários. Ficamos apenas com a imagem do jogador espanhol, Arbeloa, que apareceu na carreira de tiro, mas sem conseguir armar convenientemente o remate. Ficamos também a saber que alguns jogadores não sabem matar a bola o que, convenhamos, mesmo que o fizessem, sempre seria melhor do que matar o adversário. Aguardemos então pelas emoções da segunda parte. Talvez ela seja um pouco mais generosa neste capítulo imagético. E, já agora, em golos na baliza adversária.

E assim chegámos ao final do tempo regulamentar. Muita luta mas poucos resultados. O comentador ainda deixou sair que Ronaldo aparecia que nem uma flecha apontada à baliza de Espanha. Mas não deu em nada. Os espanhóis parecem mais cansados e fizeram já duas substituições. Por isso, diz o repórter, Portugal pode fazer ainda três substituições, o que dá outras armas à equipa portuguesa. Que armas serão essas? Esperemos para ver pelo prolongamento.

E ao final da primeira parte do prolongamento nem sinais de golo, nem vestígios de finalista. Os comentadores também não parecem inspirados. Apenas a menção de que Patrício salva Portugal pois, como se sabe, se a bola de Iniesta tivesse entrado seria a condenação portuguesa.

Mais quinze minutos de sofrimento e de espera. Deram em nada. A seleção nacional esteve remetida à defesa. Agora vai a espécie de corpo a corpo final. Portugal caiu de pé. Viva Portugal.