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Covid-19: reflexões dispersas

José Cunha
Opinião \ quinta-feira, abril 30, 2020
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Não deixem de participar na vida política e social, pois como bem referiu António Guterres, “precisamos transformar a recuperação em uma oportunidade real de fazer as coisas certas para o futuro.”

Apesar da vastidão de incertezas que o Covid-19 despoletou, algumas certezas ainda permanecem, e a avaliar pelo que tenho lido, existe um amplo consenso de que uma delas é o potencial de oportunidade de mudança que as crises proporcionam.

Já Albert Einstein dizia que “no seio de qualquer crise existem grandes oportunidades”. Mas para a ativista Naomi Klein, que passou duas décadas a estudar as transformações ocorridas após grandes crises e desastres, as mudanças registadas foram na sua grande maioria para pior. Através do que ela denomina por “Terapia do Choque”, os governos e grandes corporações aproveitam a apatia das populações para orquestrar estratégias e planos que sob a fachada da ajuda e salvação económica e social, servem o propósito de privilegiar os poderosos grupos económicos e enfraquecer a equidade social.

Assim, e para não deixar que esta oportunidade seja desperdiçada, pois por muito justificado que o nosso foco esteja no bem-estar individual e familiar, é o nosso futuro que está em causa, devemos estar preparados e atentos, permitindo que sejamos uma parte ativa e informada no processo de transformação que agora se impõe e avizinha.

A nível global, a grande maioria dos líderes apelam para uma reconstrução que tenha em conta a sustentabilidade e o impacto no ambiente através dos denominados “New Green Deal”. É cada vez mais consensual que os impactes do aquecimento global estão eminentes, apesar de assim não serem percecionados pela grande maioria da população e até por alguns decisores políticos. Eu estou convencido de que os seus efeitos efetivos, ou mesmo antes disso, as medidas impostas para os evitar, serão o grande desafio no futuro próximo.

Nesta fase em que os recursos serão escassos, e devem ser aplicados com parcimónia na tal recuperação sustentável e resiliente, qual será o custo de oportunidade de projetos que em nada servem estes propósitos, e que até representam um perpetuar do modelo económico de crescimento cujas vulnerabilidades e fraquezas tanto desgastaram o ambiente.

Em que é que o novo aeroporto lá na margem sul serve a sustentabilidade?

Ou cá bem mais perto, em que é que a via do Avepark serve a resiliência dos vimaranenes e o seu contributo para amenizar o aquecimento global?

Mantenham-se atentos e informados, e não deixem de participar na vida política e social, pois como bem referiu António Guterres, Secretário Geral das Nações Unidas, na comunicação sobre o Dia da Terra, “precisamos transformar a recuperação em uma oportunidade real de fazer as coisas certas para o futuro.”