Capital Verde (V): Natureza e Biodiversidade
Continuando a análise que tenho vindo a fazer à candidatura de Guimarães ao galardão de Capital Verde Europeia (CVE), eis que chega a vez de um indicador que muito me surpreendeu: Natureza e Biodiversidade.
A surpresa foi o segundo lugar obtido por Guimarães, quando comparado com as restantes 11 cidades em competição, sabendo que até a própria estrutura que preparou a candidatura admitia ser este o indicador em teríamos mais debilidades.
Essa expectativa de uma fraca classificação terá certamente resultado dos dados e informações requeridos no formulário de candidatura. Cada cidade concorrente teria que informar sobre a quantidade e área de sítios naturais com gestão de espécies/habitats, bem como sobre a forma como eram monitorizados e geridos, devendo tudo isto constar de um plano de ação para a biodiversidade.
Mas a coisa, com alguma criatividade (e uma dose de falta de ética), lá se compôs ao ponto do perito que avaliou este indicador ficar convencido de que “Guimarães identificou a importância da sua rede urbana ecológica” e que “a cidade possui um bom conjunto de planos e estratégias que identificam e procuram proteger e gerir paisagens, biodiversidade e áreas verdes urbanas, assim como o controlo de espécies não nativas”.
Aqui ficam alguns exemplos da dita criatividade:
Como sítio da Rede Natura 2000 é dado a Peneda-Gerês (próximo da cidade), quando a verdade é que não temos nenhum, e ponto;
Como áreas de gestão de espécies/habitats de interesse nacional é apresentado a Reserva Ecológica Nacional (REN) e a Reserva Agrícola Nacional (RAN). Esta última é descrita na candidatura como tendo foco no cultivo de espécies diversificadas e de subsistência por aposição à monocultura e agricultura intensiva, e que por isso preserva a biodiversidade. Uma completa falsidade pois a RAN apenas identifica e protege os terrenos com aptidão agrícola, não impondo ou proibindo qualquer tipo de cultura ou modo de cultivo. De qualquer modo a REN e a RAN, ainda que fazendo parte da Rede Fundamental para a Conservação da Natureza como áreas de continuidade, não fazem parte do Sistema Nacional das Áreas Classificadas;
Como áreas de gestão de espécies/habitats de interesse local, e apesar de à data não existir qualquer plano de monitorização e gestão, são identificados 5 locais: Montanha da Penha, Veiga de Creixomil (que dizem ter 300ha!), Monte Latito, Parque da Cidade e Citânia de Briteiros;
São referidos vário planos e estratégias: o Plano de Ação para a Biodiversidade uma “coisa” chamada P2GREeN, Plano de Controlo de Espécies Invasoras, Plano de Gestão de Áreas Verdes, Plano da Paisagem, Plano Estratégico para a Biodiversidade 2030, Guimarães sem Glifosato. À semelhança do que acontece noutros indicadores, alguns destes planos não existem, ou não são verdadeiramente planos mas sim uma listagem de ações ou intenções desconexas;
É apresentado um Corredor Verde Urbano que não existe;
É dito, e transcrevo numa tradução livre, que “Guimarães tem 21% do seu território formado por Áreas Classificadas com fortes valores de natureza e biodiversidade – fauna, flora e qualidade da paisagem e ambiente”. Uma completa falsidade.
No que respeita à Natureza e Biodiversidade em Guimarães vão sendo feitas coisas interessantes e de mérito, mas que não deixam de ser uma “realidade pouco mais que cinzenta” quando comparada com a “ficção mais do que verde” que nos impinge o Município.