Capital Verde (IV): mobilidade
Ao percorrer os conteúdos da comunicação social vimaranense, ainda sem tema definido para este artigo, deparei com um conjunto relevante de notícias com um denominador comum: mobilidade. São notícias de rotundas em execução, em fase de lançamento a concurso e em fase de estudo; notícias de estradas e ligações a campos de futebol; notícias do serviço de transportes públicos; e notícias da criação de Zonas 30. E vai daí, decidi analisar o indicador “mobilidade” na série de textos sobre o formulário da candidatura de Guimarães ao galardão de Capital Verde Europeia (CVE), acrescentando algumas considerações mais atuais.
No documento submetido à Comissão Europeia são apresentados números dos censos de 2011 e do estudo feito no âmbito do quadrilátero urbano, mas é também feita referência a planos que não estão acessíveis aos cidadãos. É disso exemplo um mapa que apresenta uma enorme rede urbana de linhas cicláveis previstas para 2018, mas eis que chegados a 2020, ainda nada está feito e ninguém sabe do documento onde estariam previstas.
Numa atitude que não me parece inocente e não honra a cidade, o Plano de Mobilidade Urbana Sustentável (PMUS) é apresentado na candidatura (set/2017) como se já existisse, quando este apenas foi colocado em discussão pública um ano mais tarde (dez/2018). Acrescento a este propósito que, considerando o tempo decorrido desde a discussão pública, solicitei informações ao Município sobre o relatório das ponderações, e sobre a submissão do PMUS a reunião do executivo e posterior envio à Assembleia Municipal. Apesar de o ter feito há mais de meio ano e de já ter insistido no pedido, ainda não obtive qualquer resposta.
Enganado pela informação prestada, o perito que analisou este indicador reconhece que Guimarães tem um PMUS com boas metas e que a cidade está comprometida com o plano, mas refere que “teria sido bom saber como os cidadãos foram envolvidos na sua elaboração”. O que teria sido bom é que ele soubesse que os cidadãos não foram tidos nem achados até aquela data, pois talvez assim o Município ganhasse vergonha na cara.
A verdade é que o descaramento é tanto que os responsáveis por este indicador, reconhecem na candidatura que “pouco será realizado sem o envolvimento total dos cidadãos. É necessária uma visão e estratégia global e não medidas pontuais”, levando quem lê a crer que é isso que se faz em Guimarães. No entanto eles estão bem cientes de que não foi nada disso que se passou com o PMUS.
Esta prática de decidir nos gabinetes e deixar os cidadãos na ignorância ainda se mantém, pois como recentemente foi noticiado, a Câmara Municipal de Guimarães pretende construir várias zonas 30 no segundo trimestre de 2021, mas, e apesar dos estudos datarem de 2016, não houve até hoje qualquer envolvimento dos cidadãos no processo.
Como creio ser bem evidente, também neste indicador o discurso e a imagem projetada não passa de “ficção mais do que verde de uma realidade pouco mais que cinzenta”, e neste caso, cinzenta de asfalto.