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Ativismo não é espetáculo: é coragem

Alexandra Pimenta
Opinião \ terça-feira, outubro 21, 2025
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O ativismo moderno apenas ganhou novas formas e espaços. Redes sociais e plataformas digitais permitem amplificar vozes que antes seriam silenciadas.

Quantas vezes já ouvimos alguém dizer que protestar ou mostrar apoio a uma causa é apenas “para aparecer”?

Esse tipo de comentário tornou-se comum, mas ignora uma verdade essencial: o ativismo, hoje como ontem, é coragem e compromisso, não um espetáculo pessoal.

As pessoas que participam em marchas, campanhas ou movimentos digitais não estão preocupadas com a fama, mas com a causa. Criticar o ativismo chamando-o de espetáculo pessoal é, na verdade, ridicularizar a própria luta por justiça.

Pensemos nos heróis do passado. Aristides de Sousa Mendes salvou milhares de vidas durante a II Guerra Mundial, arriscando tudo pelo que acreditava. Os resistentes contra o salazarismo enfrentaram prisão, censura e perigo de vida para defender a liberdade e dignidade. Hoje, se aplicássemos a mesma lógica cínica, esses atos seriam tachados de exibição pessoal e menosprezados, muitas vezes com a típica frase que se ouve hoje: “Eles já sabiam para o que iam”. Fica claro que coragem e visibilidade podem caminhar lado a lado.

O ativismo moderno apenas ganhou novas formas e espaços. Redes sociais e plataformas digitais permitem amplificar vozes que antes seriam silenciadas. Cada hashtag, cada partilha e cada participação pública é uma forma de garantir que a causa chegue mais longe. Reduzir isso a espetáculo pessoal é negar o valor da participação/envolvimento e da visibilidade.

O que nos cabe, então, é olhar além do formato e valorizar o que realmente importa: a intenção e o impacto. O ativismo não precisa ser discreto para ser legítimo. Mostrar-se, mobilizar e inspirar outros é parte do próprio poder da ação social.

Se criticarmos todos os que se expõem por uma causa, estaremos a desvalorizar toda a história da luta por justiça. Ativismo não é sobre likes, é sobre mudar o mundo. E mudar o mundo exige visibilidade, coragem e persistência, seja no passado, seja hoje.