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Alterações Climáticas e Resiliência

José Cunha
Opinião \ quinta-feira, maio 23, 2019
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Caro Presidente da Câmara, lamento informar mas não percebeu nada do que a jovem Greta Thunberg tem dito nos seus discursos. O que ela diz de forma clara e enfática é que não há tempo!

Nesta sexta-feira (24 de maio), e pela segunda vez este ano, jovens estudantes de todo o mundo vão para a rua reclamar dos seus governantes ações urgentes de combate ao aquecimento global que revertam esta trajectória de catástrofe anunciada pela comunidade científica.

As alterações climáticas estão na ordem do dia, e em boa parte devido à exposição mediática despoletada pela determinação e assertividade da Greta Thunberg, uma jovem adolescente da Suécia, precursora deste movimento, que decidiu fazer greve à escola, e durante três semanas permaneceu frente ao parlamento sueco em protesto pela falta de ação face à crise climática.

A notoriedade da sua iniciativa fez dela a representante das futuras gerações nas questões climáticas, tendo sido convidada a discursar nas Nações Unidas, no Fórum Económico Mundial e na União Europeia.

Na última Assembleia Municipal, o responsável pelo executivo fez uma referência à Greta Thunberg, dizendo que gostou muito de ouvir os seus discursos, e afirmou que: “ela está certa e nós vamos estar ao lado dela e a liderar aqui no concelho de Guimarães os objetivos que ela propôs de uma forma tão sincera, tão autêntica. Mas não é nada fácil, é tudo muito difícil e uma questão que vai demorar muito tempo.”

Caro Presidente da Câmara, lamento informar mas não percebeu nada do que a jovem tem dito nos seus discursos.

O que ela diz de forma clara e enfática é que não há tempo! As alterações climáticas têm de ser tratadas como uma crise, “como se a casa estivesse a arder”.

Ela diz que os políticos falharam nas questões climáticas, são hipócritas, falam de crescimento verde com receio da impopularidade, mas na realidade continuam com as más soluções que causaram o problema.

Diz que sem ação não há esperança. O foco deve estar no que é necessário e não no que é politicamente possível.

Nessa Assembleia Municipal, uns minutos depois dessas declarações do Presidente da Câmara, foi aprovada por unanimidade uma declaração de Interesse Público Municipal para instruir um pedido de desclassificação de terrenos da Reserva Agrícola e Ecológica para a construção de uma estrada que irá “resolver constrangimentos” e “facilitar acessibilidades" ao tráfego automóvel.

É anunciado um plano de mobilidade que preconiza a redução do uso automóvel privado, mas ao mesmo tempo são criadas facilidades que incentivam o seu uso.

A Greta Thunberg está certa! Os políticos falharam, são hipócritas, só pensam na popularidade e no que é politicamente possível para a manter, ao invés de terem a coragem de fazer o que realmente é necessário.

As alterações climáticas são uma realidade com que temos de lidar, mas também vamos ter de lidar com as inevitáveis e bem mais próximas medidas de crise para as combater. Caros decisores políticos, caros cidadãos, qual será a capacidade de resiliência de Guimarães num muito provável cenário de taxação das externalidades dos combustíveis fósseis? Que mobilidade teremos?