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A Taipas não é apenas «a Terra onde a lua fala»

Teresa Portal
Opinião \ quarta-feira, outubro 22, 2025
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Uma comunidade sem reconhecimento é uma comunidade que esquece as suas próprias raízes.

Nas Taipas, a lua fala, canta, toca instrumentos musicais, dança, escreve...

Vivemos num tempo em que o reconhecimento perdeu o seu lugar. As pessoas parecem ter esquecido o valor de agradecer, de valorizar o esforço do outro, de enaltecer o mérito quando ele existe. Nas Taipas fala-se muito e faz-se pouco. É a terra do deita abaixo por excelência.

Desculpem, mas moro aqui numa aldeia vizinha e continuo invisível para muita gente. E eu nem sou pequena, nem magrinha e, quando a mostarda me sobe ao nariz, bato e não é pouco. Sempre fui franca, direta e frontal e isso granjeou-me muitos inimigos, porque numa sociedade que corre apressada, distraída, absorvida pelas redes sociais e pelos números que substituem o valor humano, as pessoas deixaram de ter interesse. Hoje, mais do que nunca, o que é genuíno e verdadeiro tem dificuldade em ser visto.

A falta de reconhecimento é um espelho do nosso tempo. Já quase não se reconhece o trabalho silencioso, aquele que se faz por amor e não por destaque.

Há pilares de uma comunidade que não são valorizados: o voluntário que ajuda sem esperar nada em troca, seja na recolha de bens na igreja ou noutros lugares... Os escuteiros que ajudam e ensinam valores, quando a escla e a família se mostram incapazes de o fazer. O Rotary, que, apesar de existir há 27 anos nas Taipas, de ter um banco de cadeira de rodas que já ajudou mais de 670 pessoas e, este ano, doou um drone aos BVT, continua a não ver reconhecida essa organização não governamental a que pertence por não publicar em grandes parangonas o que faz. O pequeno comerciante, que procurou manter viva a tradição foi afastado, porque aquele centro nunca é visitado. Entra-se por uma rua lateral, que nada tem de bonita, e quase nos enfaixamos naquele bico e, quem vem do parque, só não salta aquele pedaço de passeio que comeu a estrada, ninguém sabe porquê, se estiver atento. E já houve quem saltasse. Para sair da vila, vai-se pela variante. O Centro? Morreu. Eu, que moro em Barco, não me lembra de lá passar. Só quando faço análises e, pormenor que me saltou à vista- não sei se já foi corrigido- os poucos bancos bancos estão de costas para o coreto, porquê? Para andar às voltas e reviravoltas, então sigo em frente pela variante. Os professores, que acreditam que é possível mudar o mundo ou não seguiam a carreira docente, creem numa sociedade em que o seu contributo raramente ganha voz ou visibilidade. São como a mosca que teima em sair através do vidro, mas ainda bem que há alguns que continuam a vestir a camisola, porque, quando digo que tenho saudade dos alunos, dizem que estou doida. Acho que sempre padeci desse mal ou não estava na escola das oito da manhã às oito da noite e cheguei a ficar fechada duas vezes lá dentro. Felizmente, já havia telemóvel.

O reconhecimento não é vaidade; é respeito. É o ato de olhar o outro e dizer: “Vejo o que fazes. Isso tem valor.” Mas esse olhar anda em falta. Estamos tão ocupados em correr que já não paramos para agradecer. E quando o reconhecimento se perde, perde-se também a ligação entre as pessoas. Uma comunidade sem reconhecimento é uma comunidade que esquece as suas próprias raízes.

Comecei por dizer que nas Taipas, a lua fala, canta, toca instrumentos musicais, dança, escreve...

Para quando o Concerto com a Elisabete Matos, uma soprano maravilhosa, reconhecida mundialmente, menos nas Taipas, que, em 2013, afirmou aos meus Pequenos Jornalistas da EB23 que se estava a pensar, talvez muito em breve. Não sei o significado de «breve» para os Taipenses já que continuo a ser aquela que veio do Porto. Na minha terra e aqui, significa num espaço de tempo «curto».  E não é só a Elisabete que canta, temos os cantares tradicionais,,, Nas Taipas toca-se, é a era da música por excelência, começando pela família Matos, temos também o maestro Vítor Matos, o Sérgio Silva que tem/ terá uma belíssima voz de tenor e que ainda estuda, mas que cantou uma obra em primeira audição que eu postei, tem os cantores de fados, para já não vou falar do popular, tem os cantores pop, rock, hard rock...

Nas Taipas, toca-se música, seja na escola de música, seja nas aulas de Música, seja o trompete do Sérgio Silva, o violoncelo do Hugo Freitas, o violino da própria Elisabete Matos que tantas vezes ouvi, quando passava pelo centro. Nas Taipas, sempre houve bandas de música, houve o MAT (Movimento Artístico das Taipas), em que estas se multiplicaram e criaram o Barco Rock Fest que chegou a internacionalizar-se, mas que acabou por morrer, por falta de apoios camarários e não só, porque a juventude deixou de entrar porque perdeu  interesse pela música, exceção feita aos jovens que frequentam a Escola de Música Fernando Matos (meu comega na Escola tantos anos e que punha os aluns a tocar) e que alimentam a Banda Filarmónica de Caldas das Taipas.

A maioria dos grupos de rock não os sei citar. São muitos. Apenas  menciono dois (os Theo com o Conde e os Segundo Minuto com o meu filho Carlos Pedro) que, em 2016, fizeram uma magnífico concerto pro bono no Auditório dos BVT a favor do Rotary «Noite de Rock», não sei se foi este nome.

Para quando a repetição de um espetáculo ao 25 de abril, em que, no auditório dos BVT, se movimentaram mais de 50 músicos, jovens e menos jovens (7 bateristas, 13 baixistas, 4 cantores e por aí fora)... Fez-se festa, houve música, recordou-se o 25 de abril que estas eleições, desculpem-me, enxovalharam em muitos locais. Mas não quero política.

Nas Taipas, dança-se... tantos ranchos folclóricos nas freguesias vizinhas e tanto se dança à sexta-feira nos cobertos da Feira. Para quando um rancho folclórico da vila?

Que eu saiba, não temos ninguém a estudar balé, mas sei que o CART tem prémios nas danças de patinagem sobre rodas.

Nas Taipas escreve-se. Sempre escrevi para o Pequeno Jornalista. Aposentada, sou escritora, publico desde 2021. Sophia de Mello Breyner Andresen é uma espécie de mentora. Tal como ela, mas nem lhe chegando aos calcanhares, abranjo todas as faixas etárias. Até agora já foram três histórias infantis, as duas últimas dedicadas à minha neta que vai fazer quatro anos e quero que a neta leia obras escritas pela avó, três romances, três infantojuvenis , (dois de uma coleção que tem quatro e sairão em 2026, já que houve problemas de impressão em 2025)e uma obra de ficção científica e, desafiada por alguém com voto na matéria, publiquei uma Coletânea de Poesia.

E há mais quem escreva bem. Basta ler os sites do Facebook das pessoas e há coisas tão lindas lá publicadas. Para quando um concurso de poesia, ou de conto, com publicação da obra publicada pela Junta de Freguesia? Para quando uma Feira do Livro à semelhança do que se vai fazendo? Tenho a certeza de que não faltarão mentores para ajudarem na sua publicação, para levarem para fora das Taipas o nome da Terra, sem ser com o Rock no rio Febras, realizado com pessoal das Taipas deslocado para Briteiros? Até a própria Taipas, capital da Cutelaria, é defendida acerrimamente por uma pessoa que muito tem feito pelas Taipas e ao qual também não reconhecem o mérito, como merecia, o Sr. Carlos Marques.

É aqui que entra a força simbólica da frase “A Taipas é a Terra onde a lua fala.”
A lua fala nas Taipas, porque aqui ainda há quem a saiba ouvir e que, de vez em quando me encante com a leitura de poesias, não é Elisabete? Entre as ruas antigas inexistentes, agora é tudo pedra sem jardins (deve ser moda, porque o Porto está igual- aquela Avenida dos Aliados não tem jardins só granito, em Guimarães, o Toural é granito) o rio que corre ainda poluído, e a memória das termas, cujo hotel tem inauguração sine die, há uma serenidade que resiste ao tempo, porque o tempo aqui parou.

Apesar disso, Taipas é um lugar onde o passado e o presente conversam — e onde o luar ainda encontra quem o escute, agora mais que nunca nas ruas desnudas, sem ninguém. Fala em silêncio, como quem confia que será entendida. Sê-lo-á? Quando?

E talvez seja essa a grande lição que esta terra nos oferece: a importância de parar, observar e reconhecer. Reconhecer as pessoas que constroem sem serem notícia, os gestos pequenos que sustentam a vida em comunidade, as vozes discretas que mantêm vivas as tradições. O verdadeiro reconhecimento nasce do olhar atento — e não do aplauso fácil.

Num mundo onde tudo parece passageiro, é urgente redescobrir o valor do permanente,
porque reconhecer é, no fundo, uma forma de amar.

E é esse amor discreto, mas firme, que mantém o que somos vivos, mas que torna urgente enaltecer quem o merece.

Maria Teresa Portal Oliveira

escritora

16 outubro 2025