A sempre professora e a pandemia
Com a pandemia, pensei que as coisas iam mudar mas não. As dores de barriga dos professores continuam e vão continuar, infelizmente, porque continuam a ser o saco de pancada favorito dos políticos e o elemento distrator por excelência quando se pretende emanar algum decreto, despacho ou circular perante uma povoação que guerreia a classe docente por ter feito isto ou aquilo ou até por não ter feito nada. E desta vez, fizeram muito mais do que lhes poderia ser pedido; porém, o mérito não lhes foi reconhecido. Os profissionais da saúde (médicos, enfermeiros), os bombeiros foram heróis sem dúvida. Não lhes vou tirar o mérito mas esqueceram-se de algumas outras profissões (que não cito) que têm menos visibilidade e que estiveram também na linha da frente.
Aos professores que trabalharam em tempo pandémico com uma população proveniente de vários lugares, sujeitos a apanharem a doença, nem lhes foi reconhecida a prioridade na vacina, acontecendo apenas muito mais tarde. Mais uma vez o esquecimento da classe que prepara os homens e mulheres do amanhã. Em plena pandemia, alguns tiveram de dar aulas perante ecrãs pretos, graças à estupidez parental (desculpem, mas não encontro outro nome para esta aberração) pois não queriam que os seus filhos mostrassem a cara num site seguro onde se ministravam aulas quando nem lhes passa pela cabeça o que os filhos mostram ou deixam de mostrar nos telemóveis e postam nas redes sociais aldrabando as idades para lhes conseguirem ter acesso. Mas não são só os filhos. Horroriza-me particularmente a exposição das crianças pelos pais que depois exigem às escolas a não publicação de fotos dos filhos em situação nenhuma. Uma foto do catraio despido em casa, no jardim, na cama pode aparecer no site do pai/ mãe, uma foto a receber um prémio escolar já não pode. Expliquem-me que não percebo.
Reformada, pensei que ia ter tempo para não fazer nada e que conseguiria abstrair-me dos desmandos governamentais sobre aquela que tinha sido a minha classe- a docente. Afinal continuo a reagir e só não ataco mais no papel porque quero por força ignorar o que agora já não me devia dizer respeito. Que errada estava e estou! Uma vez professora, toda a vida professora! Sei quem não tenha esta reação, mas, perdoem-me, talvez eu seja uma exceção à regra mas vou continuar a ser.
O fazer nada não é para mim. Às vezes, bem gostava que fosse. Qual quê? Tenho os dias todos ocupados e ainda me levanto à mesma hora- 7.30h – para abrir a casa e tomar o pequeno-almoço.
Uma das tarefas que me impus foi a de consultar e utilizar o Facebook para “conviver” com novos amigos. Posso adiantar que já fiz uma meia dúzia de amigos com quem me preocupo e que se preocupam comigo… e até já reatei laços familiares com primos que estão longe e descobri novos parentes dos quais não tinha conhecimento.
E divirto-me a valer com o que é publicado e fico horrorizada com a quantidade de pessoas que, diariamente, me pedem amizade.
Não sei como é que há gente que faz do Facebook ou do Instagram um confessionário e esquecem que, depois de partilhada a foto ou a confidência, ela se torna pública. Há pessoas que publicam tudo quanto fazem e não fazem, porque por lá grassa muita asneira e mentira.
Outra das coisas é a língua portuguesa. Talvez defeito da minha profissão, porque volto a afirmar que não deixei de ser quem fui, admira-me os erros ortográficos existentes. Há pessoas com habilitação académica superior que dão erros de palmatória e não me estou a referir ao acordo ortográfico que fui obrigada a assimilar, a ensinar, a utilizar e utilizo.
Esse vai continuar a ser contestado e mal utilizado porque, não o tendo estudado, utilizam-no “ignorantemente”. Um exemplo: O nosso facto nunca perdeu o c porque nós pronunciamo-lo. Já no Brasil continuam com o fato. Nós cortámos o p ao ótimo porque não o pronunciamos, mas eles utilizam-no porque o pronunciam. Pior ainda, neste momento, no nosso país há duas escritas para a mesma palavra tendo em conta a pronúncia da zona- exemplo- característica e caraterística. Nas palavras compostas por justaposição pela Gramática Antiga - convém não esquecer que também há uma nova gramática - aí é um Deus nos acuda porque ninguém sabe quando deve ou não retirar o hífen e depois como fica a palavra: autorretrato, minissaia, fim de semana, pôr do sol…
Com as aulas presenciais no 3º período voltaram alunos e professores e também a Covid-19 com turmas inteiras a entrarem de quarentena e os professores também… Que confusão de ano, que situação caótica… Quando é que este pesadelo vai acabar?
Costumo dizer que, neste momento, para além da Covid-19, enfrentamos uma outra doença para a qual não vislumbro cura: a estupidez humana. Tanta gente sem máscara, tanta falsidade dos próprios responsáveis pelo país. Mafra e Ovar foram confinados realmente; alguém entendeu o confinamento de Lisboa com todos a circularem livremente sem verem um único agente da autoridade?
O Sporting fez a sua festa, o Braga também festejou, a final da Taça dos Campeões foi no Porto entre duas equipas inglesas (??), o S.João do Porto foi autorizado(??). Estamos em plena 4ªvaga, com os números a aumentar mas está tudo sereno.
O futuro é uma incógnita e a informação e contrainformação (esta também perdeu o hífen) é de tal ordem que as depressões começam a aumentar exponencialmente pois as pessoas isoladas (que falta faz um abraço ou um beijo!) não sabem como atuar e sentem a falta do calor humano.
Alguém saberá resolver esta equação que, pelos que se lê, foi provocada? Guerra biológica? Para a nuclear não se pode ir pois a Terra acaba de uma vez. É defesa do planeta que, de vez em quando, envia uma doença para matar milhões?
Não faço futurologia nem sou vidente, mas alguém conseguirá equacionar o problema e dar-lhe solução? Para mim, a resposta é NINGUÉM e andamos todos à nora até à altura em que o vírus perder a força e as variantes/ mutações sejam tantas que se matem umas às outras.