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A propósito de botões

Teresa Portal
Opinião \ sexta-feira, dezembro 22, 2023
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Tinha tantos assuntos “sérios” para tratar, mas não consegui concentrar-me e saiu uma crónica sobre BOTÕES.

Sempre gostei de estar rodeada de silêncio. Questão de temperamento, talvez! A mim, o silêncio inspira-me, porque relaxante, convidando a introspeção.

Gosto de «pensar com os meus botões», frase que tão bem explica o que adoro fazer, se bem que «botões» é coisa que praticamente não existe no meu vestuário. Só os casacões os têm e esses são muitas vezes substituídos pelos quispos, um substituto com vantagens. Detesto camisas e blusas sendo adepta das t-shirts de alças, com meia manga, com manga curta ou comprida, com um ar mais ou menos sofisticado e camisolas de gola chegada, com meia gola, sem gola, com decote em V ou em barco, redondo ou quadrado…

Botões! É verdade que não os tenho na roupa para abotoar, contudo existem em abundância como enfeites, como adornos,… Talvez seja mais fácil dialogar com esses que não têm a função para a qual foram criados, a de abotoar, e que passam pela vida com uma função paralela, menor.

E não consigo deixar de olhar com simpatia para os três botõezinhos que, no escapulário da camisa de dormir, são os olhos e o nariz de um engraçado ursinho que me olha com um ar espantado de quem me julga severamente e pensa certamente que não estou boa da cabeça. Só alguém a ficar pílulas de todo é que podia começar a falar em botões, em discorrer sobre um assunto que não tem assunto.

Os botões são pequenos objetos concretos e só uma pessoa como eu para lhes atribuir a importância de serem trazidos para as luzes da ribalta. O momento da fama do senhor Botão! Será que existe uma senhora? Engraçado pensar nisso… Como seria o género feminino de botão? Botoa, botã ou botona? Não sei porquê, a primeira hipótese é mais simpática. Seja. O sr. Botão e a Srª Botoa caminham lado a lado, sob a luz dos holofotes, pela longa passadeira vermelha aveludada, em direção ao seu minuto de apoteose. Resta saber se o senhor Botão é de osso, de madrepérola, de plástico, trabalhado ou simples, forrado a seda, a couro, a cetim, a algodão, a malha, com dois ou quatro buracos ou sem buraco nenhum. E o momento passou e o sr. Botão não se decidiu.

Com tanta vestimenta e adereços, deixou de ser o simples objeto que fechava, que escondia o que não podia andar à mostra e mostra-se às três pancadas, por tudo quanto é sítio, quantas vezes desabotoado em ar de desafio e provocação. Já ninguém estranha, ninguém comenta. Não se perdem reputações, não se perdem nem ganham meninas…

O botão foi destronado pelo fecho éclair, muito embora tenha ganhado o seu lugar ao sol, embora com a tal função mais decorativa. Qual a função preferida do botão? Isso não sei. Só quem conseguir falar com ele poderá saber; ora isso só acontecerá com os tais que não têm todos os parafusos apertados e que correm o risco de plissar, de escorregar perigosamente na calçada da vida. Feita em granito polido, extremamente gastada pelo uso, são tantos os que nela escorregam ao longo da existência!

A cada macaco o seu galho, a cada casa o seu botão. Isso é verdade!

Podia ainda falar de outro tipo de botões, por exemplo, para ligar e desligar o computador, a luz, a máquina de lavar a louça ou a roupa, o rádio, a televisão, … e há o botão de rosa ou de outra flor, qualquer rebento,… mas, esses botões ficam para outra altura. Já chega de falar de botões.

E, como não me sinto com vontade de falar de coisas muito sérias, resta-me desejar a todos umas Bom Natal e um 2024 cheio de amor, de paz e de esperança num mundo melhor.

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