A proibição das redes sociais e o ChatGPT | Boas Festas
O uso de sistemas tecnológicos nas escolas continua a espalhar-se em Portugal, pese embora o que se verifica nos países de vanguarda da educação – Suécia, Noruega Finlância, Islândia em que já se está a voltar aos manuais e à proibição de tecnologias dentro das escolas.
Sem dúvida que que a Internet trouxe benefícios, mas exigia e exige a supervisão do professor, não esteja lá publicada asneirada ou não entrem os alunos em sies que nada têm a ver com o assunto. Já na minha altura, o professor podia monitorizar o que os alunos faziam, mas sabemos bem que há professores e professores e há alunos que conseguem descobrir caminhos desconhecidos dos próprios professores para darem a volta à situação
Muito antes do chatGPT, os alunos iam à Wikipédia procurar os resumos das obras de caráter obrigatório, com as quais nunca concordei, pois bastava o rótulo para afastar a leitura. Já, na altura, eu fiz uma experiência. Tinha dado o Cavaleiro da Dinamarca e, para sinplificar a minha vida, procurei um resumo na Internet. Fui buscar lenha e queimei-me, quando, horrorizada, vi que o resumo da enciclopédia estava errado. Identifiqui-me e alterei, acabando por fazer o que não queria. Não sei se ainda consta o que lá postei, mas esse está bem feito.
Agora os professores enfrentam os problemas do chatGPT que faz o trabalho pelos alunos. A máquina é uma máquina e, como tal, estúpida. Só sabe, o que nós lhes formos dizendo.
No dia 8 de dezembro, fiz a experiência. Pedi uma análise da Coletânea de Poesia «O Espaço dos Versos», cuja sessão de autógrafos decorreu na Feira do Livro do Porto, em setembro. O chatGTP não disse nada que não estivesse na sinopse da contracapa e depois acrescentou o público a que achava que podia estar destinada. A opinião final mais não é do que um jogo de palavras com o texto inicial da sínopse. Não acrescentou nada, porque ninguém se pronunciou ainda sobre a coletânea, ainda sem apresentação, mas já calendarizada. Se algo for acrescentado e publicado, é claro que, da próxima vez, o programa dará mais informações e poderá estabelecer críticas.
Para os alunos fazerem trabalhos com o chatGPT e haver queixas, isso significa que os trabalhos são feitos em casa, onde antigamente havia o pai, a mãe, o rmão mais velho, o computador... Nada de diferente. Um trabalho desses não poder ser feito em casa. É feito em aula e sem o computador.
Um colega queixou-se desse problema. Se o professor puser o aluno a escrever manualmente nas aulas e, referindo-me aos professores de português, se os alunos fizerem dois ou três trabalhos manuscritos em aula, não há chatGPT que o salve, se o professor tiver corrigido efetivamente os trabalhos recebidos e apontado as falhas.
Já poucos se lembrarão de mim, mas sabem que sempre fiz uma guerra aberta aos testes. Eu não precisava de um teste para aquilatar dos conhecimentos dos alunos. E, vejamos, nas respostas abertas num teste, o aluno tem de contestar, de confirmar, de dizer o porquê, ou seja, de redigir um texto. Nas respostas de concordo ou discordo da afirmação ou do texto apresentado, eu aceitava as duas hipóteses desde que bem defendida a tese apresentada pelo aluno. E, enquanto corretora de exames, fiz o mesmo, esperando que não houvesse nenhum pedido de revisão de prova do aluno a quem eu dava a nota com um não justificado, quando a solução apresentada pelo ministério era um sim.
Ainda andam por aí alunos que me perguntavam se eu não me levantava durante um teste, porque isso significava que ia vendo as asneiras e dizia em voz alta «Está mal», enquanto apontava para a resposta correta. Essas as de escolha múltipla e nem assim as notas se alteravam. 30% do teste estava na expressão escrita. Na altura, era assim. Agora não sei.
Exames de escolha múltipla, só se forem como os de Medicina de há 50 anos. Por cada errada descontava-se uma correta. Na dúvida, não arriscavam. Não havia pim-pam-pum que os salvasse.
Enviar trabalhos para casa, ainda vai acentuar mais a desigualdade de situação dos alunos que não tenham acesso à Internet e a todos os mecanismos que oferece. Pode igualmente fomentar a dependência da utilização desta tecnologia e os problemas técnicos que daí podem advir, como todos experienciámos com o apagão.
A principal vantagem dessa utilização é a ampliação do acesso ao conhecimento, uma vez que os alunos podem consultar conteúdos atualizados, plataformas educativas e recursos multimédia que tornam as aulas mais dinâmicas e interativas. E aqui está o busílis. O uso excessivo desses sistemas pode reduzir a interação direta entre professores e alunos. O professor não pode ser um robô na sala de aula. Tem de se movimentar, de vigiar, de interagir com os alunos a respeito de algum ponto do trabalho produzido, de aconselhar, de ajudar efetivamente. Dessa forma, torna-se essencial que a tecnologia seja utilizada de maneira equilibrada, como uma ferramenta de apoio ao ensino, e não como um substituto das práticas pedagógicas tradicionais e do papel do professor.
Uma máquina não é uma pessoa, não tem sentimentos nem consegue criar empatia com um ser humano. Apenas reage friamente, executando o que lhe ordenam.
O melhor método para reduzir o ChatGPT nos trabalhos começa precisamente por não se dar hipótese aos jovens de o poderem utilizar.
Há hipóteses para se fugir a este problema. Já as citei: conhecer o estilo do jovem, apresentar propostas humanas que fogem à compreensão do programa exigindo exemplos pessoais, relatos de experiências reais, ligação com assuntos trabalhados em contexto da sala de aula. Outra hipótese é pedir ao aluno que explique o trabalho que apresentou e logo se fica a saber se foi ele ou não que o fez.
Mas, nada melhor que os textos produzidos na aula sem a utilização do computador, que exijam o pensamento do aluno, os seus conhecimentos, nem que seja apenas por um pequeno exercício de brainstorming.
Em conclusão, quanto a mim devíamos seguir os países mais avançados no campo da educação que estão a voltar aos manuais e proibir terminantemente o uso de telemóveis até à conclusão do 9º ano, pelo menos.
Nas escolas, acabavam-se com os computadores de uma vez para sempre e, batam-me, mas, como sou velhinha e todos acham que antigamente todos entravam na universidade, então fiquem já a saber que entravam na universidade os que tivessem média igual ou superior a 14 (numa altura em que as notas máximas nos liceus era o 16) e o numerus clausus era determinado pelos exames de aptidão à faculdade.Se havia 200 lugares e tinham já entrado 50 com média igual ou superior a 14, isso significava que apenas podiam entrar 150 alunos. Se concorressem 300 a exame, entre a prova escrita e a oral, tinham de ficar 150 pelo caminho. E é tão fácil reprovar um aluno numa oral!
Nem fiquem traumatizados por não entrarem no curso que querem. Querer todos querem. Os meus alunos ficavam logo a saber quem tinha hipótese de concorrer a Medicina ou não. Ainda está na moda? Quem anda pelos 3, nunca será médico. Os de 5 terão sorte ou não dependendo das notas que tirem na Escola Secundária e nos exames nacionais, um verdadeiro totoloto.
Eu queria Farmácia, só há pouco tempo as pessoas sabem disso, desde que tenho site/ blogue, e segui Letras, porque a mim quem me estragou a juventude «foi um professor de Matemática» como disse Vergílio Ferreira. Mas, atenção, no 5º ano (equivalente ao 9º de agora) tinha média de 15 a Ciências e segui Letras. Coitadinha de mim! Ainda digo mais. Tirei Filologia Germânicas (Inglês e Alemão), dei um ano aulas no Liceu Nacional de Guimarães (dei Alemão ao 11º,ano de exame na altura, Inglês IV- únca turma de Guimarães, pois o Francês ainda era a Língua escolhida e foi-o durante muitos anos (e muito bem) e mandaram-me dar aulas para o ciclo (Português e Inglês), quando segui o meu curso por causa do Alemão. Adoro as Línguas gramaticais (Português, Francês, Alemâo, Latim) e, em 5º lugar o Inglês. Adorei Latim. Nós não temos o determinante artigo neutro mas o Alemão tem. Nós utilizamos expressões latinas Curriculum Vitae (o currículo da vida) que forma o plural em Curricula Vitae, porque é neutro. Fico arrepiada quando ouço os currículos vitae, nem é carne nem é peixe, é ignorância.
A maior parte da carreira dei Português por opção e fui muito feliz. Tornei-me o dicionário da escola com o AO (Acordo Ortográfico) e a Gramática com a TLEBS (Terminologia Linguística para os Ensino Básico e Secundário).
Adoro Português e só lamento não ter saúde, porque, se tivesse, ainda era uma das maluquinhas que me oferecia para dar aulas ou para dar Oficinas de Escrita Criativa.
Mas, isto ainda posso fazer. Uma ou outra oficina não me mata.
E, como estamos em dezembro e já regresso em janeiro, um Santo Natal e uma Ótimo 2026 para quem me segue e, desde já, o meu muito obrigada.