A palavra lida, escrita e falada!
É um terreno conhecido, amigo, onde me sinto acolhida com toda a deferência e com grande à-vontade. Depois da professora, nasceu a escritora, sufocada durante tantos anos!
Considero-me uma boa conhecedora da minha língua materna, que adoro, talvez porque educada num tempo em que esta era um dos símbolos da pátria, de que hoje ninguém fala. Voltar-se-á alguma vez a falar neste conceito com esta era da globalização, em que o mundo nos engole e nos comanda? Pior ainda, deram a essa palavra uma conotação bem estranha «fascista». Se ser patriótica é ser fascista, então ontem vibrei e bem com a medalha de bronze ganha pela nossa atleta judoca Patrícia Sampaio. Com os Molinhas, vibrei e continuo a vibrar. Parabéns, jovens, que levaram longe o nome de Portugal e já agora o das Taipas.
Quem não vibra como eu, paciência. Como é impossível andar para trás, então olhemos para a frente e ala.
Adorando a minha língua, não me acanhava de recorrer ao «pai dos burros» sempre que necessário (entenda-se dicionário), uma vez que as dúvidas assaltam qualquer um e quantas vezes, sem querer, somos levados a embarcar no mesmo erro… E não queria falar no Acordo Ortográfico, mas vou ter de o fazer. O tal dicionário que seja o da Porto Editora, corretíssimo. Ou então pergunte diretamente ao Dr. Google: pôr-do-sol ou pôr do sol? Com hífens ou sem hífens? Pois é. Atualmente escreve-se sem hífens. E, como se não bastasse, o AO ter sido apenas adotado pelo Ministério da Educação, temos palavras que têm duas escritas dependendo da pronúncia.
Nos órgãos de comunicação social (rádios, televisões, jornais), sem me referir ao Reflexo, as chamadas gralhas que o não são abundam. As legendas dos programas televisivos arrepiam-me pelos erros ortográficos que apresentam e os dos jornais são escandalosos. Desde quando a separação da desinência «-mos» ou «-te» das formas verbais (fazer-mos, fize-mos, soubes-te, fizes-te) ou a ignorância da conjugação pronominal, principalmente no futuro e no condicional (farei-os, respeitarás-os), podem ser consideradas gralhas? E há muitas outras falhas, mas não comungo da ideia geral de que os erros ortográficos atuais têm origem na linguagem truncada e «idiota» que os jovens usam para mandar emails ou SMS.
Todos sabemos que a aquisição da leitura e da escrita têm graus de diferente dificuldade para as crianças. Para algumas, esta aquisição é um ato absolutamente normal, natural, o qual adquirem quando entram para a escola e que as vai levar a caminhos inexplorados e desconhecidos. Estas crianças, atraídas pela curiosidade e extremamente motivadas, querem embarcar nessa aventura. Para outras, a aprendizagem da leitura e da escrita é um ato intimidante, que as faz sentir desconfortáveis e inseguras. Talvez estas sejam as tímidas que não gostam de navegar por águas mais revoltas que as levam por terrenos desconhecidos e, por isso mesmo, aterrorizadores.
Mas, falava de erros e vou deixar aqui um conselho de quem já tem uns aninhos e, claro, foi professora!! Já alguma vez pegaram num dicionário e o folhearam por puro prazer? Hum! Que cara feia! Chamem-me doida (já me terão chamado coisa bem pior! Professora durante 42 anos, que esperavam?), mas, quando era criança, teria os meus nove/ dez anos, adorava divertir-me com um passatempo a que agora chamo «o comboio das palavras». Começava com uma e ia encadeando um sinónimo atrás do outro e ficava assim horas…Como veem, já nessa altura não era «bem apanhada dos carretos». Quem pode tirar prazer de uma atividade destas? E se vos disser que, nessa altura, só havia rádio, a televisão só funcionava à noite (tinha uns sete / oito anos quando ela apareceu lá em casa!) e não havia computadores nem consolas nem telemóveis? Pois, já sei que pertenço à era dos dinossauros, mas a vida podia ser bem divertida. Deleitava-me com a descoberta do significado da palavra e ficava a conhecer novas palavras. E eu queria aprender novas palavras e, quanto mais complicadas fossem, melhor.
A propósito, não resisto a contar-vos uma história dos meus anos de faculdade. Um dos meus colegas (já entradote, pois eu pertencia à turma dos voluntários por me chamar Teresa!) aguardava a chegada do professor de Alemão, no corredor, encostado à parede, a estudar o dicionário de Alemão. O homem era um «dicionário ambulante». Tinha um vocabulário riquíssimo (o que não era de admirar!) e o próprio professor recorria à sua ajuda quando lhe faltava algum termo. E assim conseguiu fazer o Alemão, apesar das grandes falhas que tinha na construção frásica. Quem me considerou completamente descarrilada, ficou a saber que não estou nem estava sozinha.
E, ainda hoje, adoro estudar expressões idiomáticas. Já me acusaram de ter um estilo redondo, quiçá de difícil compreensão, por usar e abusar de tais recursos…Bem, a cada cabeça sua sentença e a cada maluco a sua maluqueira. E até o «calão» estudei e estudo diariamente, já que vivo nesta terra à beira do Ave há quarenta e quatro anos. A quem me conhece, posso, finalmente, atrever-me a dizer que «sou Taipense», ou seja, já me «saem» algumas dessas expressões, muito em segredo e entre amigos, que nunca sonharia sequer verbalizar quando para cá vim. Pelo contrário, casadinha de fresco, passava horas à porta do então Piteco (quem não se recorda do café-restaurante?) a assinalar as «…utas que…iu» e o «… da-se» e outras quejandas no tal bloquinho de notas que sempre me acompanha. Um passatempo idiota? Não façam essa cara de falsa modéstia, que não estou a mentir. Em quarenta e quatro anos, muita coisa mudou… e vai continuar a mudar. É a vida!
Vejam onde me levou a palavra lida, escrita e falada!
Umas Boas Férias e leiam muito. Deem um bom exemplo aos vossos filhos e ofereçam-lhes livros, muitos livros. E, já agora, ofereçam os meus. Entrem na minha página do facebook, no meu perfil ou no meu site de escritora. Basta escrever Maria Teresa Portal Oliveira e a página aparece bem como o site/ blogue. Subscrevam-no.
Boas férias!