A intervenção na Ara de Trajano
O Penedo de Trajano numa gravura de 1886, da autoria de João de Almeida (Sociedade Martins Sarmento)
É do conhecimento público a recente intervenção de conservação realizada na Ara de Trajano, no centro das Taipas, através da iniciativa da Junta de Freguesia de Caldelas. É um trabalho importante na medida em que nunca antes se tinha realizado, e porque conta com o importante apoio técnico da equipa do Museu Regional de Arqueologia D. Diogo de Sousa. É de louvar esta iniciativa da autarquia taipense no sentido de preservar o que é o símbolo mais antigo que conhecemos da vila, pese embora, como já anteriormente aqui referimos, o pouco conhecimento que temos sobre a sua escultura e colocação, presumivelmente há mais de 1900 anos.
Deve-se este desconhecimento, como também já tivemos oportunidade de aqui referir, à escassez de trabalhos arqueológicos realizados no perímetro da vila das Taipas, fruto de muitas décadas de ausência de políticas de proteção do património arqueológico neste núcleo urbano do Concelho, que justificaram a significativa construção urbana sem qualquer tipo de estudo prévio ou acompanhamento. O estado atual dos conhecimentos revela pouco mais que a suposição de existência de um aglomerado populacional de época romana. Não sabemos até que ponto se trataria ou não da sede de um município.
Tal como esta operação de conservação do Penedo de Trajano, a proposta e a execução de trabalhos arqueológicos nas Taipas com fins puramente científicos não pode prever propriamente um retorno de qualquer investimento que se venha a fazer. Sabemos que estes trabalhos têm um retorno que, não sendo contudo quantificável, acaba por se refletir na qualidade de vida dos habitantes e na oferta turístico-cultural das Taipas.
Sendo assim, fazemos um alerta e lançamos um desafio, quer à Junta de Freguesia de Caldelas, quer ao Município de Guimarães. O alerta no sentido de criação, diligenciando junto da Direção Geral do Património Cultural, de uma Zona Especial de Proteção para o núcleo antigo da vila das Taipas, garantindo assim a realização de trabalhos arqueológicos em todas as obras que se venham a realizar (incluindo as obras públicas, naturalmente). O desafio no sentido de investir, futuramente, num projeto de estudo, envolvendo as instituições de ensino superior, e portanto especialistas na área, em torno desta antiga povoação romana das Taipas. O que aqui defendemos é um gesto de altruísmo por parte das autarquias locais, dando um passo significativo na dignificação desta vila e na valorização dos seus vestígios do passado.