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A confiança perdeu-se nas notícias –e os jovens já desistiram de procurá-la

Alexandra Pimenta
Opinião \ quinta-feira, junho 19, 2025
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O mundo pode estar a arder, mas o jornalismo não pode apenas vender incêndios.

Vivemos num tempo em que a informação está por todo o lado — e, paradoxalmente, é cada vez menos procurada. O mais recente Digital News Report Portugal 2025 revelou um dado preocupante: a confiança dos portugueses nas notícias caiu para 54%, o valor mais baixo da última década. E são os jovens os que mais se afastam do jornalismo tradicional.

Este fenómeno não me surpreende. Basta olhar à volta. Nas redes sociais, onde a maioria dos jovens consome conteúdos diariamente, as notícias aparecem entre um vídeo de dança, um meme e um anúncio de fast fashion. O que é sério e o que é superficial misturam-se num scroll infinito. O resultado é uma relação de desconfiança — e, muitas vezes, de indiferença.

Mas o problema não é apenas o meio. É também a forma como as notícias são apresentadas: títulos sensacionalistas, discursos repetitivos, foco constante no conflito e no drama. O mundo pode estar a arder, mas o jornalismo não pode apenas vender incêndios. Os jovens — e não só — estão cansados da overdose de negatividade, da falta de nuance e de uma linguagem que muitas vezes os exclui.

Há ainda outro ponto importante: muitos jovens não se veem representados nas notícias. Os seus problemas, lutas e visões do mundo são frequentemente ignorados ou tratados com superficialidade. Fala-se sobre os jovens, mas raramente com eles. Quando a informação parece vir de um lugar distante, paternalista ou desatualizado, o desinteresse é quase inevitável.

Isto não significa que os jovens sejam desinformados. Pelo contrário: estão mais atentos do que se pensa, mas recorrem a outras fontes — fóruns, vídeos explicativos, newsletters alternativas, criadores de conteúdo com sentido crítico. Procuram informação que seja útil, compreensível e contextualizada. O jornalismo tradicional, se quiser sobreviver, terá de ouvir esta geração com humildade e reinventar-se.

Enquanto isso não acontece, a confiança continuará a diminuir. E com ela, diminui também a nossa capacidade coletiva de compreender o mundo. Num tempo de desinformação, ruído e manipulação, precisamos mais do que nunca de um jornalismo responsável, plural e próximo das pessoas — especialmente das mais jovens. Caso contrário, não será apenas a confiança nas notícias a desaparecer. Será o próprio sentido do jornalismo.