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A campanha de escavações de 2019, na Citânia de Briteiros

Gonçalo Cruz
Opinião \ quinta-feira, setembro 26, 2019
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Os dados revelados pela escavação de 2019 vieram reorientar a interpretação do conjunto, trazendo à luz o espaço de habitação e trabalho de uma família de agricultores.

Aspecto dos trabalhos arqueológicos na Citânia de Briteiros, em Julho de 2019. Fotografia Paulo Dumas

Tal como tínhamos noticiado há poucos meses, decorreu no passado mês de Julho uma pequena intervenção arqueológica na Citânia de Briteiros, enquadrada numa longa cooperação mantida entre a Sociedade Martins Sarmento e a Universidade do Minho, que tem ajudado a deslindar o percurso histórico de um dos mais destacados monumentos arqueológicos portugueses.

A campanha do presente ano deu continuidade à intervenção num espaço doméstico que já no ano passado tínhamos identificado como uma adaptação indígena de uma domus romana. Depois das escavações realizadas na acrópole da Citânia, entre 2005 e 2014, bem como nos dois balneários, é importante obter evidências materiais da ocupação e evolução de outros pontos deste grande castro, sendo essa a principal razão para se escavar numa das encostas, neste caso a que está voltada para nascente.

A interpretação deste espaço habitacional vai-se obtendo com o evoluir dos trabalhos, desde as poucas informações que tínhamos dos trabalhos iniciais de Sarmento e de Cardozo, passando pelos indícios detetados com a limpeza inicial, feita em 2018, até aos dados mais conclusivos proporcionados pela abertura de várias sondagens, ou valas de escavação. Ainda no ano passado colocávamos a hipótese da existência de uma forja anexa a esta casa, já levantada por Sarmento, bem como a possibilidade de existência de um tanque no interior do espaçoso átrio, ideia que provinha também do século XIX.

Os dados revelados pela escavação de 2019 vieram reorientar a interpretação do conjunto, trazendo à luz o espaço de habitação e trabalho de uma família de agricultores. Não que este facto seja excecional na Citânia, pelo contrário, mas nunca até agora tinham aparecido neste castro vestígios tão concretos do processamento de produtos agrícolas no que, assim cremos, nos irá ajudar a perceber como se organizava o trabalho e o aproveitamento dos recursos da terra, bem como clarificar as transformações operadas no povoado com o processo de Romanização.

Iremos aqui detalhar e discutir, nas próximas publicações, vários resultados e questões específicas que a campanha de 2019 veio levantar.