
Universidade Sénior Rotary: conhecimento e trato para quem não quer parar
Todas as quartas-feiras, às 16h00, no antigo mercado da vila, ouvem-se as cordas dos cavaquinhos que, entre o cantarolar e a troca de risos, mostram o rejuvenescimento dos seniores que decidiram não parar. As aulas de cavaquinho e de yoga da Universidade Sénior do Rotary Club de Caldas das Taipas juntam semanalmente cerca de 20 pessoas para momentos de convívio e aprendizagem. O nível de exigência não é alto, dado que o principal objetivo é a partilha de experiências e a criação de laços entre os participantes.
“Começo por ensinar os acordes, depois partilho alguns dos meus arranjos e, no fim, tocamos essencialmente música popular. Mas, claro, não faço coisas elaboradas, porque as pessoas vêm mais para conviver do que para aprender as especificidades do cavaquinho”, referiu Torcato Sousa, professor de cavaquinho da universidade sénior há cerca de seis anos. Para Torcato, que também faz parte do grupo de música popular dos Bombeiros Voluntários de Guimarães e do grupo musical do Centro da Amorosa, na cidade, esta “é uma forma de as pessoas se conhecerem e de partilharem conhecimento”.
Enquanto o Reflexo acompanhava a aula de cavaquinho, o notório entusiasmo dos alunos refletia-se nas já habituais melodias populares do país. “Desde o Minho ao Algarve, tocamos as mais variadas músicas populares portuguesas”, explicou Ângelo Costa, membro da universidade há mais de cinco anos.
Já Maria Belém, uma das mais recentes alunas, mostrava uma felicidade contagiante por ter decidido integrar o projeto há meio ano. “Adoro as aulas de cavaquinho. O professor é um espetáculo, ensina muito bem e quer as coisas bem feitas”, referiu. Tanto Ângelo Costa como Maria Belém sentem que as suas vidas melhoraram desde que passaram a fazer parte da Universidade Sénior do Rotary Club das Taipas.
“Sinto que a minha vida melhorou muito. Isto é o melhor que pode acontecer a alguém da minha idade, porque aqui conversamos, tocamos, cantamos, partilhamos ideias e, acima de tudo, saímos de casa e deixamos a solidão para trás”, Maria Belém, aluna da Universidade Sénior do Rotary Club de Caldas das Taipas
“A minha vida melhorou, sem dúvida alguma”, acrescentou Ângelo Costa, que entrou no projeto por insistência da mulher, que já frequentava as aulas. “Sempre tive curiosidade de praticar yoga e foi aqui que, pela primeira vez, tive a possibilidade de o fazer. Além disso, a música também me atrai muito. Nas aulas de cavaquinho e de yoga, convivemos com outras pessoas, o que é ótimo. Na minha casa, entretenho-me com a minha horta e com os meus passarinhos, mas não falo com ninguém”, revelou.
Yoga para tomar “consciência de nós próprios”
Enquanto se preparava para iniciar a aula de yoga às 17h00, ao som dos últimos acordes dos cavaquinhos, o professor José Santos assume que a sua motivação reside na vontade de proporcionar um envelhecimento ativo aos alunos de uma universidade sénior em que é voluntário há 14 anos.
“Nas aulas, introduzo sempre o maior pilar do yoga, que é tomarmos consciência de nós próprios. Podemos praticar yoga através da noção do nosso corpo e da nossa respiração, independentemente dos movimentos corporais que fazemos”, sublinhou o professor.
José Santos procura, sobretudo, estimular a parte cognitiva dos alunos para que adquiram uma maior consciência corporal e mental, levando essas ferramentas de autoconhecimento para os desafios da vida quotidiana. “Depois da pandemia, tive de mudar o plano da aula. Agora, como as aulas são dadas em cadeiras e não em tapetes, temos menos movimentos, mas adoto outras terapias eficazes, como a terapia do riso, que estimula muito os alunos e os obriga a estarem concentrados no momento”, explicou.
No final de cada aula, há uma pausa de 10 a 15 minutos, acompanhada por música ambiente, para proporcionar um relaxamento total do corpo. “É a chamada rotação da consciência, que percorre todos os órgãos para promover um relaxamento profundo, levando ao bem-estar e ao conforto dos participantes”, explicou o professor.
Também voluntário na universidade sénior da Póvoa de Lanhoso e de Vizela, José Santos acredita que é essencial, para as pessoas mais velhas, terem uma atividade que as motive a sair de casa. “Grande parte da população que vem a estas aulas, se não viesse, era capaz de nem tirar o robe e acabava por ficar isolada. Além disso, quando não se trabalha a parte cognitiva, os circuitos energéticos e emocionais, as pessoas vão ficando frágeis, acabando por surgir doenças como a demência e o Alzheimer”, afirmou.
Uma universidade sénior com “desafios e aspirações”… das Taipas à Guiné-Bissau
A universidade sénior do Rotary Club de Caldas das Taipas já contou com aulas de informática, mas, atualmente, por falta de um espaço com acesso à Internet e devido à escassez de associados, não é possível retomar essa atividade.
Uma das aspirações do clube, no que diz respeito à universidade sénior, é ampliar a oferta de disciplinas – como história, línguas, informática e outras áreas do conhecimento. No entanto, para tal, são necessárias mais pessoas disponíveis para trabalhar voluntariamente e um espaço adequado. Esse é um dos desafios apontados pelo presidente, que deseja ver o número de associados do Rotary Club de Caldas das Taipas crescer.
“Neste momento, o nosso quadro social é constituído por 10 associados, o que é manifestamente pouco para as ações que temos realizado e para que possamos aumentar a nossa atividade e levar a cabo projetos de maior impacto”, referiu Joaquim Matos Fernandes. Ele frisou ainda que qualquer “cidadão de boa vontade, que goste de conviver, fazer amizades e sinta que pode colocar os seus conhecimentos e competências ao serviço dos outros” é “bem-vindo no Rotary Club das Taipas”
Apesar de o grande foco ser a comunidade local, o Rotary Club das Taipas, como todos os clubes rotários, não tem fronteiras, participando em diversas iniciativas internacionais. Uma das mais recentes contribuições deu-se a 7 de março, quando o Rotary Club de Caldas das Taipas entregou ao Rotary Club de Viana do Castelo diversos artigos para a cantina de uma escola infantil situada na região de Cacheu, na Guiné-Bissau, que será frequentada por 100 crianças.
Todos os materiais entregues pelo Rotary Club das Taipas são de inox, para garantir uma maior durabilidade e evitar a propagação de bactérias. Os itens foram doados pelas empresas Herdmar e Jomafe, sediadas em Barco e Vila Nova de Sande, respetivamente.
Apoiar quem precisa e valorizar o mérito na comunidade
No caso do Rotary Club de Caldas das Taipas, esses objetivos concretizam-se através das diferentes ações sociais pelas quais o grupo já é conhecido na comunidade. Além da universidade sénior, o grupo dispõe de um banco de cadeiras de rodas, gerido em parceria com os Bombeiros Voluntários das Taipas, e organiza ações pontuais consoante as necessidades da comunidade, como a mais recente caminhada solidária realizada em parceria com o Centro Sócio-Cultural e Desportivo de Sande S. Clemente.
A primeira iniciativa tem como objetivo facultar apoio às pessoas carenciadas que, de forma temporária ou permanente, padeçam de dificuldades de mobilidade. As cadeiras são emprestadas gratuitamente, sendo apenas pedida ao utilizador ou ao seu representante uma caução, que é devolvida após a devolução da cadeira, caso esta não tenha sofrido danos substanciais.
Já a caminhada solidária, realizada a 30 de março, permitiu a angariação de fundos para a aquisição de um drone com uma câmara de vídeo térmica e capacidade de visão noturna. O equipamento será entregue aos Bombeiros Voluntários de Caldas das Taipas para ajudar na prevenção de incêndios e na busca de animais ou pessoas desaparecidas de forma mais eficaz.
No que respeita à valorização do mérito – um dos objetivos do grupo –, desde a sua fundação, o Rotary Club de Caldas das Taipas promove anualmente o reconhecimento do mérito aos melhores alunos do 6.º e 9.º ano dos Agrupamentos de Escolas EB 2,3 da área de influência da vila – Briteiros, Ponte e Taipas –, bem como ao melhor aluno do 12.º ano da Escola Secundária das Taipas. Para esse fim, o clube solicita o apoio de algumas empresas locais que patrocinam os prémios monetários entregues aos alunos.
Dos 120 anos do Rotary International aos 26 anos do Rotary das Taipas
O Rotary começou com a visão de Paul Harris, um advogado que, juntamente com mais três amigos, fundou o Rotary Club de Chicago no dia 23 de fevereiro de 1905. A intenção era que profissionais de diferentes setores pudessem trocar ideias e criar amizades duradouras. Com o tempo, o Rotary ampliou gradualmente a sua área de atuação para os serviços humanitários e, 16 anos depois da sua fundação, já contava com clubes em seis continentes.
Hoje conta com associados em todos os cantos do mundo que não têm medo de sonhar alto e definir metas ambiciosas. “Exemplo disso foi termos começado a nossa luta contra a pólio em 1979, com um projeto para imunizar seis milhões de crianças nas Filipinas. Fizemos um progresso incrível, pois, em 1988, a doença assolava 125 nações e, hoje, apenas dois países continuam endémicos: o Afeganistão e o Paquistão”, referiu Joaquim Fernandes.
O projeto tem como objetivos: a melhoria da comunidade pela conduta exemplar de cada um na sua vida pública e privada; o desenvolvimento do companheirismo; o reconhecimento do mérito pessoal e profissional; a difusão das normas de ética profissional; a aproximação dos profissionais de todo o mundo, visando a cooperação e a paz entre as nações.
Para assinalar o 120.º aniversário do Rotary International, o presidente do grupo dos rotários taipenses destacou a frase do seu fundador, Paul Harris: “Seja qual for o significado do Rotary para nós, para o mundo ele será conhecido pelos resultados que alcançar.”
Em 27 de maio, o Rotary Club de Caldas das Taipas assinala o 26.º aniversário. A efeméride será marcada pela cerimónia de reconhecimento do mérito profissional a um cidadão taipense. Ano após ano, os rotários distinguem um cidadão ou uma empresa da comunidade pelo seu percurso profissional regido pela “boa conduta, pelo seu contributo e pela sua relevância na comunidade”.
[Conteúdo publicado originalmente na edição de Abril 2025 do jornal Reflexo]