Para “dar vida ao Tapado e à freguesia”, nasce o Unidos de São Clemente
Em Sande São Clemente, na União de Freguesias de Sande Vila Nova e Sande São Clemente, não há qualquer clube desportivo em atividade. Mas há espírito em torno de uma missão: fazer o “mítico Tapado” voltar a ter vida. Cabe a Paulo Silva, imbuído das memórias de um Tapado “em terra” e de “ir buscar paus para fazer balizas”, liderar um projeto que inicialmente só previa juntar amigos para “recordar velhos tempos” e “organizar uns convívios”.
“Tudo começou com um jantar”, conta Paulo Silva ao Reflexo. Foi então que se chegou de forma unânime a uma conclusão. “Esta freguesia gosta muito de desporto, mas não tínhamos essa oferta e o pessoal vai para as freguesias limítrofes”. Desta premissa, assumida por todos, surgiu o próximo passo: criar um clube, a Associação Desportiva Unidos São Clemente. “O projeto foi logo o de fazer uma equipa de veteranos. Foi para isso que a malta se juntou, para fazer uns jogos. Mas vimos logo que tínhamos de ir mais longe, de criar um clube”, aponta.
O processo está agora na fase burocrática, de criação da associação. “Depois vamos começar a angariar sócios para aproveitar esta onda”, adianta Paulo Silva. Esta onda refere-se ao feedback de todos os quadrantes da freguesia. “Se já estava motivado com a ideia, andando no terreno ainda mais estou. A Junta tem sido inexcedível, o Centro Social também nos vai ajudar, e todas as valências de São Clemente dizem que estão connosco”, complementa, enaltecendo as “bases sólidas” de uma iniciativa que emerge da comunidade.
Campeões europeus e de Premier League na equipa
Para lá das papeladas, há “ideias” a ganhar corpo e muitas ainda no papel. O primeiro ato público do Unidos de São Clemente, um nome óbvio - “desde pequenos ouvimos este nome, ouvimos falar em Unidos de São Clemente”, confessa Paulo - foi um jogo de veteranos frente ao Vitória SC, em Campelos. “Um momento bonito”, recorda, uma pequena festa em que todos ajudaram: “No talho não nos levaram nada pelas fêveras, na padaria não levaram dinheiro pelo pão e nem o cantor que animou a festa quis nada. É um bom exemplo do espírito que se vive”.
Predominantemente branca com apontamentos vermelhos e azuis, a camisola usada no jogo tem, desde logo, uma inscrição que ajuda a perceber a mística deste grupo. “Tapado eterno”, pode ler-se. Uma alusão ao outrora rinque, hoje Campo do Tapado, de pequenas dimensões – para a prática de futebol 5 – “onde tudo começou”. “É o único espaço na freguesia para a prática desportiva. Aqui fizeram-se amigos para a vida. Toda a gente jogou aqui e era aqui que a freguesia se juntava”, relata, a partir daquele recinto.
Aconteceu assim com Cafu, atualmente ao serviço do Rotherham, do segundo escalão do futebol inglês, mas com passagem pela Premier League, ou o campeão europeu sub-17 Márcio Sousa, que já pendurou as chuteiras; os dois deram os primeiros pontapés na bola no Campo do Tapado. “Para além do Cafu e do Márcio Sousa, temos na nossa equipa o Paulo Monteiro, que jogou no Feirense, ou o Batista, que jogou na Naval”, complementa Paulo Silva. Passa um pouco por aqui a ambição do clube: “Dar vida ao Tapado, voltar a reunir aqui a freguesia”.
Três modalidades confirmadas e uma sede a caminho
Há um brilhozinho nos olhos ao falar de um projeto que ainda carece de afinações. Uma delas é a sede. “A Junta comprometeu-se a ajudar, disse-nos logo – num dos primeiros contactos – que podíamos contar com um local para sede. Ainda estamos a conversar, mas é fantástico”, pontua, mostrando-se crente na cooperação com o Centro Social, a quem pertence o Campo do Tapado.
Enquanto se confecionam estas partes, o desporto já é realidade. “Começámos a casa pelo telhado”, diz Paulo Silva, em alusão ao começo pela equipa de veteranos. Para 2024, todavia, o clube quer criar escolinhas de futebol e avançar com outros dois desportos. “Vamos ter atletismo - malta que já corre, mas vai correr com as nossas cores -, e BTT. Em dezembro deste ano, queremos fazer um torneio de petizes com as freguesias vizinhas”, vinca, assumindo que a ideia é “ter desporto para todos” para “dinamizar a freguesia”.
O clube reúne já 30 elementos e dispõe de outros 30 “por detrás, para ajudar”. “Isto está a acontecer muito rápido”, admite. Respira e lembra-se de agradecer aos patrocinadores: “Já temos patrocinadores e ainda nem começamos a bater às portas. Há malta a vir ter connosco para apoiar este projeto que é da comunidade”. Está aí a Associação Desportiva Unidos São Clemente.