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Uma infância pela Barroquinha do moleiro

Carolina Pereira
Freguesias \ terça-feira, maio 25, 2021
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É por caminhos velhos que descobrimos um bocadinho da história de cada pessoa e freguesia. Pelo caminho da Barroquinha do moleiro, Carlos Ribeiro viveu “momentos marcantes” nos seus tempos de petiz.

Não se passava de outra forma que não a pé e fazia-se quase como que uma rota com pontos obrigatórios a parar. Assim que os pequenos, nos seus 8 a 10 anos saíam da escola primária da Penela, em Souto Santa Maria, a primeira paragem era a Capelinha, onde “toda a juventude”, conta Carlos, agora com 45 anos, se juntava para brincar e conviver no final das aulas.

Na altura o acompanhamento não era o mesmo dos dias de hoje e as crianças tornavam-se rapidamente mais independentes. “Nós sabíamos que tínhamos de ir para a escola e tínhamos de regressar da escola. Mas o regressar da escola não era logo casa, no primeiro carro de bois que passasse, pendurávamos neles, fosse para onde fosse, a gente o que queria era ir. Depois à noite chegávamos a casa, pelas 18 ou 19h. Tínhamos consequências. Mas essa era a liberdade e facilidade com que vivíamos.”. Liberdade que permitiu a Carlos e ao grupo de amigos, fazer o seu primeiro picnic, durante uma noite, sozinhos, com apenas 10 anos.

Não se passava de outra forma que não a pé e fazia-se quase como que uma rota com pontos obrigatórios a parar. Assim que os pequenos, nos seus 8 a 10 anos saíam da escola primária da Penela, em Souto Santa Maria, a primeira paragem era a Capelinha, onde “toda a juventude”, conta Carlos, agora com 45 anos, se juntava para brincar e conviver no final das aulas.

Na altura, o acompanhamento não era o mesmo dos dias de hoje e as crianças tornavam-se rapidamente mais independentes. Os pais indo trabalhar, encarregavam o cuidado dos filhos aos avós que, na casa dos 60 ou 70 anos, acabavam por não ter pedalada para as fugas dos mais novos que só passavam nas suas casas, para deixar as sacolas e corriam de imediato para o rio. “Nós sabíamos que tínhamos de ir para a escola e tínhamos de regressar da escola. Mas o regressar da escola não era logo casa, no primeiro carro de bois que passasse, pendurávamos neles, fosse para onde fosse, a gente o que queria era ir. Depois à noite chegávamos a casa, pelas 18 ou 19h. Havia sempre uma preocupação da parte dos nossos pais para saber para onde tínhamos ido, tinham receio que fossemos para o rio, mas nas férias sabiam que estaríamos lá. Tínhamos consequências. Mas essa era a liberdade e facilidade com que vivíamos.”. Liberdade que permitiu a Carlos e ao grupo de amigos, fazer o seu primeiro picnic, durante uma noite, sozinhos, com apenas 10 anos.

Já no verão, o lugar mais ocupado era o rio. Há 30 anos, poucos eram os que procuravam por praias para passar férias. “As nossas férias eram marcadas no rio ave. Não em praias, porque éramos filhos de gente trabalhadora, que só vivia do trabalho e que necessitavam de todo o dinheiro para a nossa alimentação. Outra coisa marcante era o facto de, principalmente no mês de agosto, os emigrantes todos, os nossos tios e primos, regressarem. Então era ali que passávamos o mês. Posso dizer que tínhamos dias, naquela praia, em que apareciam 150 a 200 pessoas.”, recorda Carlos Ribeiro.

Com tanta gente a passar na zona, com campos por perto e numa altura em que uvas já amadureciam, Carlos Ribeiro recorda as façanhas dos agricultores para evitar que as frutas fossem roubadas. “Para não as comermos, eles colocavam pó de telha vermelha, com o objetivo de intimidar dizendo que era veneno.”.

Segundo Carlos, o rio não está igual ao que era à 30 anos. Uma das diferenças está na poluição, que outrora chegou a fazer o rio mudar de cor para azul e vermelho. E, também, a levada. No passado, o rio engoliu um campo da parte de Santo Estêvão e expandiu a sua área. “Essa parte não existia e era fantástico, porque mergulhávamos sempre da parte de cima do rio e víamos aquele que nadava mais, aquele que aguentava mais, e o que mergulhava mais fundo. Depois também nos ocupávamos com pesca.”. Para esta última ocupação, era na Barroquinha do moleiro que compravam os essenciais.  Sempre que alguém cismava em ir à pesca, o ritual seria arranjar uma cana da índia, passar pelo senhor António Marinho na Barroquinha do moleiro e comprar o anzol, a sediela e o chumbo. Depois, sim, regalavam-se ao longo da tarde, entre conversas e risos, à espera que saísse algum peixe. “Uns com mais habilidade do que outros.”.