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Um encontro de amigos e de gerações marca o ritmo para 10 anos a Taibombar
Sábado à noite, 18 de janeiro, cerca de 400 pessoas afluem ao espaço Multiusos da Escola Secundária de Caldas das Taipas (ESCT) para apreciarem um espetáculo concebido e interpretado pela comunidade; cantares tradicionais ganham vida com as vozes de alunos e mães da Escola Básica da Charneca e do grupo sénior da Junta de Freguesia de Caldelas, as guitarras do coletivo informal Quarta às Nove, os sons dos Amigos dos Reis das Taipas e as batidas dos Taibombar. Foi a partir desse grupo de percussionistas da vila termal que nasceu “Dar(se)Mente, Olaré, cantaremos”, culminar de uma década a rufar. “No palco, estávamos quase 100 pessoas. No final, foi muito bom ver as pessoas virem ter connosco e dizerem que nunca viram algo do género, que é para repetir”, vinca Alberto Silva, ao Reflexo.
Presidente da Academia de Percussão Taibombar – nome oficial do coletivo –, o arquiteto de 48 anos contava algumas participações no Pinheiro, nas Nicolinas, mas estava pouco acostumado aos ritmos das caixas, bombos e timbalões quando tudo começou, em fevereiro de 2015. Ainda assim, aventurou-se pela percussão, porque os seus encontros de amigos estavam a precisar de um foco. “Queríamos ter um objetivo, mas o contexto era muito familiar, quase como uma brincadeira. Nenhum de nós tinha tocado bombo”, recorda.
Embora olhado como um hobby, o projeto não tardou a ganhar robustez artística graças à colaboração de Pedro Oliveira. Residente em Vila Nova de Sande, mas acostumado à vila das Taipas desde criança, o músico especializado em bateria e percussão soube da criação dos Taibombar graças a uma empresa para a qual trabalhava e prontificou-se a ajudar de imediato. Acompanha o grupo desde o primeiro ensaio, aliás.
“Começámos com alguns ritmos, algumas músicas compostas por mim. Notei desde o início que era um grupo forte e fácil de trabalhar. Rapidamente resolvíamos qualquer dificuldade em termos musicais. Comecei não tanto a ser formador, mas amigo”, testemunha. No fundo, assumiu o leme de “um grupo amador, mas com grandes aspirações artísticas”, cada vez mais intergeracional e pronto, desde cedo, para animar as ruas em festas populares.
“Porque é que não fazemos um espetáculo assim?”
Os Taibombar atuaram pela primeira vez em 13 de dezembro de 2015, num evento solidário, e viriam a pontuar o ritmo em muitas outras iniciativas públicas: a Corrida de Atletismo de Caldas das Taipas, a cerimónia de assinatura da geminação entre Caldelas e Saint-Michel-Sur-Orge, em 2017, festas paroquiais várias, o São João de Braga ou a Feira Afonsina, no centro histórico de Guimarães.
O horizonte para produções artísticas mais ousadas abriu-se, porém, em 2022, com a aparição em “o outro desconhecido”, espetáculo evocativo dos primórdios da Outra Voz, coletivo vocal que serve o território vimaranense desde 2010. “Com esse espetáculo, surgiu a ideia de unir os instrumentos de percussão com as vozes e com outros instrumentos”, assinala Pedro Oliveira.
Emergia assim um novo paradigma de atuação, patente em “Uma espécie de coisa”, outra criação com a Outra Voz, para assinalar os 10 anos do encerramento da Capital Europeia da Cultura, e no primeiro espetáculo com o cunho dos Taibombar, “25 escudos por um cravo”, alusivo aos 50 anos do 25 de Abril e estreado em 01 de maio de 2024. “As pessoas adoraram participar nesses espetáculos da Outra Voz e perguntaram: “Porque é que não fazemos um espetáculo assim?”. Surgiu a necessidade de fazermos as próprias produções”, prossegue o diretor artístico.
O “Dar(se)Mente, Olaré, Cantaremos” germina precisamente desse embalo e de uma premissa a que se mantém fiel. “Quero sempre que o próximo espetáculo seja o melhor, nem que seja o último. Tento incutir isso nas produções que fazemos”, descreve.
“Entrar num concerto do Zé Amaro”
O grupo de amigos na origem dos Taibombar evoluiu para um coletivo intergeracional de “pais, filhos e avós”, dos sete aos 67 anos, que nunca, ao longo da década, abdicou do seu ensaio semanal na Escola Básica da Charneca. O natural entra e sai de percussionistas não abala a coesão, reitera Alberto Silva. “A percussão sempre teve isto: entram novas pessoas e há pessoas que vão para a universidade e saem. Temos um grupo muito variado”, frisa.
Virada a página dos primeiros 10 anos, a associação prioriza a “camaradagem e a união entre o grupo”, mas piscando o olho a novos desafios performativos. A participação num concerto de um músico reconhecido pelo público é um sonho que gostaria de ver concretizado. Há, aliás, um nome que vem logo à baila: Zé Amaro, cantor popular que reside em Caldas das Taipas. “Gostávamos de participar na abertura de um concerto, através da junção entre percussão e vozes, ou de entrar numa ou duas canções dele. O Zé Amaro é daqui e tem um profissionalismo acima da média”, confessa.
Quanto aos espetáculos comunitários, são para continuar. Os Taibombar já garantiram, aliás, o apoio para uma segunda versão do “Dar(se)Mente, Olaré, Cantaremos”, a apresentar no próximo verão, ao ar livre. O principal intuito é o de reforçar os elos entre quem se junta para criar na vila, atesta Pedro Oliveira: “O Dar(se)Mente é espalhar esta mensagem de que todos juntos conseguimos fazer um produto artisticamente interessante. Temos vidas ocupadíssimas, e é muito difícil gerir grupos e horários. É dar um pouco de vida para que os grupos não acabem”.
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