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Tecnologias de ponta dão asas ao ensino profissional da ESCT
* Por Tiago Mendes Dias e Fernando Pinheiro
Se o Centro Tecnológico Especializado (CTE) da Escola Secundária de Caldas das Taipas equivalesse a uma coroa, a sua joia mais reluzente poderia ser encontrada na sala de metrologia, uma das oito que compõem essa estrutura: acompanhada pelo digitalizador 3D e pelo sistema de medição de coordenadas num espaço bem iluminado, a máquina de tomografia dispõe de um sistema de raios X que capta imagens de alta resolução a peças de médio porte e pequeno porte, conseguindo analisar o seu interior sem a destruir. “Serve para analises de erros na indústria, para verificar todas as falhas técnicas que pode ter, o que aumenta a qualidade dos produtos”, realça Marcela Araújo, docente nos cursos de ensino e formação profissional, nomeadamente os de multimédia, de design – variante industrial e de CAD/CAM.
Do investimento de 1,7 milhões de euros no CTE, 600 mil foram aplicados na máquina de tomografia, que chegou à ESCT em 28 de janeiro. Por regra, essa verba “não é suportável” para um investimento empresarial imediato. “Ficam todos perplexos como é que temos esta máquina. As empresas já nos estão a contactar. Nenhuma tem uma máquina assim. Sabíamos que ia ser uma mais-valia,”, realça a docente. A escola dispõe, por isso, de um equipamento que espera rentabilizar, mediante parcerias com instituições e requisições ocasionais pagas à hora; cutelarias, serralharias mecânicas e empresas na área dos moldes são as que podem tirar mais proveito, enumera. “Ainda não temos requisições porque a máquina ainda chegou agora. Já temos algumas parcerias. Esta máquina exige manutenção e vamos precisar de fazer receita. A intenção é criar um plano de negócios viável para a manter em perfeitas condições”, frisa.
Marcela Araújo crê ainda que a presença das empresas na ESCT pode incentivar “as trocas de informação entre alunos e profissionais”, contagiando ainda mais a dinâmica do ensino profissional, hoje repartido em oito cursos, quatro deles ligados à vertente de automação e eletrónica do CTE: o de eletrónica, automação e computadores, preexistente, e os recém-criados de logística, de design – variante industrial e de CAD/CAM.
Vocacionado para o desenvolvimento de peças e ferramentas que se adequem às necessidades de vários setores de atividade – cutelarias, construção civil, metalomecânica, mobiliário –, em concordância com as normas de higiene, segurança, saúde e proteção ambiental, esse curso de CAD/CAM foi lançado em 2023/24, coincidindo com a implantação do CTE. Aluno do 11.º ano, Gonçalo Leite, de 17 anos, testemunha várias diferenças entre o corrente ano letivo e o transato. “No ano passado, não tivemos ainda este equipamento todo. Até mexer nos computadores era diferente, porque os que vieram para o CTE são muito melhores. Com as impressoras 3D, somos capacitados a imprimir todo o tipo de peças”, realça o estudante natural de Donim.
Um manancial de tecnologia sob “controlo restrito”
Nascido de uma candidatura submetida à iniciativa do Ministério de Educação, financiada em 480 milhões de euros pelo Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), o CTE da ESCT foi contratualizado em 03 de maio de 2023, a par de 103 estruturas para demais escolas secundárias do país, e dispõe de uma verba que se reparte ainda por equipamentos de eletrónica e automação – hardware e software variado para robótica ou para simulações de indústria 4.0, com máquinas a comunicarem umas com as outras, além da máquina CNC de cinco eixos, para prototipagem rápida, com alta precisão.
Coordenador da parte de automação e eletrónica do CTE, António Pedro Silva resume o funcionamento daquela máquina, vocacionada para produzir as peças concebidas pelo departamento de design ou por empresas que necessitem da máquina. “É uma das únicas máquinas em termos escolares a nível nacional. Neste momento, está a decorrer a formação especifica da escola e de dois técnicos para uso e produção de peças. A ideia é que, a partir de junho, tenham acesso direto aos equipamentos”, realça.
A equipa do Reflexo acompanha o docente num périplo por todos os recantos do CTE, valência que é alvo de um controlo restrito, quando a elaboração dos estatutos e do regulamento interno esteja em fase de conclusão. “Isto tem condições muito específicas. Os alunos entram cá dentro com os professores, e depois as portas fecham. Tem de haver controlo, porque temos aqui dentro muito investimento”, frisa o docente.
“No ano passado, já havia aulas práticas, mas não nestas condições. O que se vê aqui é um trabalho de menos de um ano. Conseguimos instalar o CTE depois de trabalhar em agosto com muito sacrifício”
António Pedro Silva, coordenador do CTE da ESCT, área de automação, design e eletrónica
Numa das salas, os alunos perfilam-se diante de computadores com programas específicos para desenho de peças (CAD) e para impressão 3D (CAM). “Esses programas suprimem uma das necessidades na indústria envolvente: a de profissionais capazes de chegarem a uma cutelaria, e desenharem novos modelos de talheres ou desenvolverem websites, com layouts informativos e decorativos para as empresas”, descreve.
Ao lado, há duas salas destinadas à aprendizagem pura da eletrónica, com equipamentos de “última geração”, e mais adiante a sala de hardware e software, onde tem lugar a montagem de computadores, a programação e a assemblagem de várias interfaces gráficos e digitais. Numa outra sala, vislumbram-se inúmeros discos rígidos de computadores prontos a serem aproveitados para a Prova de Aptidão Profissional (PAP), projeto que encerra o 12.º ano do ensino profissional, vertente em crescimento na escola taipense, adianta Carla Abreu, adjunta do diretor da ESCT, Celso Lima.
O 12.º ano conta com 69 alunos, mas o 11.º atinge os 104 e o 10.º os 115. Desses 288 alunos, 158 frequentam os cursos vinculados à componente de automação industrial do CTE: 83 encontram-se no curso de eletrónica, automação e computadores, o único com turmas nos três anos, 33 no de CAD/CAM – 19 no 10.º ano e 14 no 11.º ano –, 23 no de design – variante industrial e 19 no de logística, esses também repartidos entre o 10.º e o 11.º.
“Ficam todos perplexos como é que temos esta máquina [de tomografia]. As empresas já nos estão a contactar. Nenhuma tem uma máquina assim. Sabíamos que ia ser uma mais-valia”
Marcela Araújo, docente do Ensino Profissional da ESCT
Já o curso de Gestão e Programação de Sistemas Informáticos, que começou em 2024/25, com 18 alunos, está vinculado à vertente informática do CTE, que aguarda a conclusão dos procedimentos públicos para abrir no próximo ano letivo, sob a orientação de Francisco Xavier Araújo. O curso de multimédia também poderá usufruir desse CTE, ainda que de forma informal, numa altura em que reúne 39 alunos do 10.º ao 12.º.
Tal oferta expande a atratividade da escola para lá do território que lhe cabe servir em primeiro lugar. “Já temos cá alunos de Fafe, por exemplo, mas queremos primeiro absorver os alunos locais. Não temos capacidade ilimitada para absorver outros estudantes, porque queremos um ensino de qualidade”, vinca.
Linhas de produção, vending, parques de estacionamento: PAP para todos os gostos
Equipado em agosto último, o CTE dispõe ainda de uma sala específica para robótica, com equipamentos da indústria 4.0, robôs de apoio ao ensino e equipamento para criação de robôs de base. Esse espaço alberga também a PAP de João Marques, aluno do 12.º ano de eletrónica, automação e computadores, que apresenta a sua criação, exposta sobre a mesa. “É uma réplica de uma linha de produção de uma fábrica. Temos os quatro módulos que manobram uma peça, e o braço robótico ao meio, para fazer a ligação do movimento das peças de máquina para máquina. O equipamento que esta no bastidor é para fazer a comunicação por rede entre todas as máquinas”, diz, apontando para um engenho no teto, sobre o quadro.
Quando começou o seu percurso na ESCT, o CTE ainda estava na fase de candidatura e de contratualização, pelo que as primeiras aulas decorreram no piso superior, em salas mais apertadas. “Com o centro tecnológico, os projetos aumentam em escala. O meu projeto nunca acabaria na sala lá em cima”, assume. O coordenador do CTE corrobora das palavras de João: “No ano passado os cursos ainda funcionaram em cima. Já havia aulas práticas, mas não nestas condições. O que se vê aqui é um trabalho de menos de um ano. Conseguimos instalar o CTE depois de trabalhar em agosto com muito sacrifício”, vinca.
António Pedro Silva acompanha a PAP do aluno de 17 anos, natural de Barco, e as de muitos outros estudantes: um parque de estacionamento inteligente numa cidade ou uma máquina de vending automatizada com recurso a arduínos – microcomputadores com componentes integrados. Ao lado, Telma Castro ainda tem de concluir este ano letivo e de cumprir um outro para apresentar a PAP, mas já se apercebe das potencialidades do CTE nesse sentido. Até no facto de os computadores serem melhores se vê a diferença. “Conseguimos fazer um trabalho mais fluido, divididos em turnos, com computadores para cada aluno. É muito mais fácil assim. Toda a gente aprende”, realça a aluna do 11.º ano de eletrónica, automação e computadores, natural de Souto Santa Maria.
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Centro Tecnológico Especializado da ESCT ©RFX
CTE: estímulo para estudar e abrir horizontes profissionais
Enquanto observava a sua Prova de Aptidão Profissional (PAP), que ainda estava em desenvolvimento, João Marques fez uma retrospetiva daquilo que foi o seu percurso até ao momento no ensino profissional. Agora finalista do curso de Eletrónica e Automação, o aluno chegou à ESCT com um historial de desmotivação com a escola, realça Carla Abreu: “Veio um bocadinho desmotivado, revoltado até, com o ensino em geral. (…) Encontrou aqui o seu espaço, o seu caminho, e neste momento, tenho a certeza de que é um aluno completamente realizado”.
Um jovem que antes do CTE estava desmotivado com o ensino ambiciona hoje rumar para o ensino superior e continuar os estudos na área. “Penso seguir estudos em eletrotécnica”. O envolvimento de João com o CTE foi além das aulas. Ele dedicou-se ativamente à preparação do espaço, chegando até a abdicar de parte do seu verão para contribuir para o projeto. Para ele, o CTE não é apenas um centro de formação, mas uma segunda casa, um ambiente onde descobriu novos sonhos e ampliou os seus horizontes profissionais.
Ao seu lado estava Telma Castro, aluna do 11.º ano de eletrónica, automação e computadoras. A aluna revela que quis embarcar na aventura do CTE pela sua vontade de estabelecer contacto direto com área. Revela ainda que este grande investimento que chegou à escola suscitou-lhe muito interesse, e foi um grande fator na sua decisão em aderir ao curso. “Eu vim para este curso porque gostava mesmo desta área, eu sabia que ia haver este investimento neste centro. Na altura estava na escolha entre este curso e o cientifico-humanístico, mas decidi vir para este, mesmo por causa de querer trabalhar mais nesta área.”
Noutra sala estava Gonçalo Leite, aluno do 11.º ano do curso de CAD/CAM. Segundo Gonçalo, o CTE dá-lhe um estímulo porque o “aproxima da vida profissional e abre muitos caminhos”. O jovem destaca a maré de oportunidades que o CTE e o seu curso lhe dão e alimenta a convicção de seguir carreira na área.
O ambiente moderno e equipamentos de ponta do CTE não só está a preparar os estudantes para o mercado de trabalho, como também os incentiva a continuar os estudos. O centro mostra o potencial do investimento ao ensino profissional, com o âmbito de ajudar jovens a encontrarem o seu caminho e a acreditarem no seu potencial.
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