Professor da ESCT, Sérgio Cunha também escreve. Agora sobre o ídolo Laureta
Os cinco livros que ganharam vida pela mão de Sérgio Cunha repousam cuidadosamente sobre a secretária, na Escola Secundária de Caldas das Taipas (ESCT). Entre eles, sobressai a imagem de um futebolista na casa dos 20 anos, com uma camisola do Vitória do início da década de 80. Como atesta o título, “Laureta – uma incomparável paixão”, é ele o protagonista da mais recente obra do professor de educação física da ESCT, apresentada em 21 de outubro no Estádio D. Afonso Henriques, com o antigo lateral esquerdo, com o autor do prefácio, Abel Sousa, e com o vice-presidente do Vitória, Pedro Meireles. "A certa altura, decidi que gostava de escrever algo sobre aquilo de que gosto muito, o desporto e o futebol. Faltava-me um tema concreto. Não me foi difícil encontrar aquilo sobre o que queria escrever. Era sobre ele", recorda o escritor de 56 anos, ao Reflexo.
Laureta é, afinal, um ídolo desde o final da década de 70, quando o futuro internacional português era júnior do Vitória SC e Sérgio Cunha jogava entre os infantis e os iniciados, após passagens pelo andebol do Académico de Guimarães e do Francisco de Holanda. “Na altura, ele era um homem e eu um miúdo”, denota. Essa relação evoluiu para uma amizade e agilizou um processo de criação com pontapé de saída em 14 de novembro de 2022. “Fui falar com ele ao Vitória, onde trabalha, e pedi-lhe para escrever a biografia. Ficou satisfeito. Apanhei-o desprevenido, mas disponibilizou-se para tudo o que fosse preciso”, recorda.
A bola começou então a rolar. Até março deste ano, Sérgio Cunha falou inúmeras vezes com o biografado no café. “No gravador, tenho seguramente uma dezena de horas”, confessa. Mais tarde, passou horas em bibliotecas a consultar jornais e revistas, e recebeu depoimentos de quem conhece o lateral que representou Vitória, FC Porto, Sporting de Braga, Gil Vicente e Académica, além de envergar a camisola de Portugal por uma vez, em 08 de junho de 1983, na derrota frente ao Brasil (4-0).
Estavam reunidas as peças para o autor organizar “Laureta – uma incomparável paixão”, título que homenageia a paixão do ex-jogador pelo futebol e a atitude “muito profissional, exigente e ambiciosa” que exibia em campo. À venda desde setembro, com 100 exemplares disponíveis, o livro de 162 páginas conta, por exemplo, a frágil relação entre Laureta e o treinador Artur Jorge, que o motivou a deixar o FC Porto e a ficar aquém, quem sabe, de “outros patamares” na carreira e também a origem do nome Laureta, que remonta à década de 1920. “O nome Laureta vem da bisavó, que era a dona Laura. O avô dele já foi jogador de futebol do Vitória. O pai também e o Laureta também. Basicamente a história começa na década de 1920, quando o Vitória é fundado”, refere o autor.
“Nos outros livros, veio tudo mais de dentro. Neste, veio de fora”
A escrita surge na vida de Sérgio Cunha quando estuda desporto, em Vila Real. Estudante universitário tardio por influência dos pais, após uma adolescência em que estudar pouco lhe dizia, o vimaranense teve dificuldades em adaptar-se à vida na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, embora gostasse do curso, dos amigos e do companheirismo das pessoas transmontanas. “O meu feitio não se adaptou”, resume. Começou então a escrever para passar o tempo, primeiro em forma de argumento. É precisamente a transformação de argumento em prosa que dá origem ao seu primeiro livro: romance publicado em 2007, “Faz-me feliz” versa sobre um amor proibido e mereceu o interesse de um produtor de cinema, Tino Navarro. O autor espreitou depois o humor, com “Queridas mulheres” (2008), voltou ao romance – “Amas como respiras” (2011) – e aventurou-se pelo universo político e social, com “Visita a uma república decadente” (2021), antes de enveredar pela biografia de Laureta. "O que este livro teve de diferente foi a pesquisa. Foi muito mais exaustiva. Nos outros livros, veio tudo muito mais dentro de mim. Neste, veio muito de fora”, compara. Publicado o quinto livro, o professor da ESCT diz-se “pronto para o próximo livro”, outra biografia, mas tem ainda de “consolidar a ideia”.