Secundária das Taipas é Nicolina: “Projeto nasceu por vontade dos alunos”
O rufo das caixas e bombos ecoou na Escola Secundária das Taipas (ESCT) no passado dia 13 de novembro, naquele que foi o primeiro ensaio para as Nicolinas realizado na escola. Os alunos quiseram, lutaram por isso e a Secundária das Taipas é, a partir deste ano, uma Escola Nicolina, juntando-se assim à tradição secular dos estudantes das escolas secundárias vimaranenses.
Apesar de se fazer sentir este ano, todo o processo já se iniciou no último ano letivo com a preparação deste momento. No âmbito na criação do Conselho Consultivo Jovem da ESCT foram auscultadas todas as turmas “para apurar o que os alunos gostariam que acontecesse na escola”, introduz a professora Carla Abreu, adjunta do diretor e responsável pelo pelouro alunos. “Desta auscultação resultaram sete ideias diferentes, que foram depois votadas como se de uma eleição se tratasse – em todas as turmas – e chegou-se à conclusão de que a prioridade dos alunos, o projeto mais votado, foi as Nicolinas, a vontade de fazer parte”, explica.
Estava dado o primeiro passo para ver rufar dos tambores nas Taipas, num trabalho que foi preparado e tem vindo a ser executado em vários momentos. “O grupo de trabalho – constituído por alunos – que no ano passado ficou responsável por este projeto contactou os Velhos Nicolinos, que vieram cá à escola e explicaram o que era necessário para ter tal estatuto”, dá conta Carla Abreu, acrescentando que “os alunos leram, estudaram, fizeram uma apresentação ao Conselho Pedagógico e resolveram – com autorização da direção, que estava alinhada com eles – juntarem-se às outras secundárias de Guimarães para passarem, efetivamente, a ser uma escola com estatuto Nicolino”.
Na edição deste ano das Nicolinas os alunos tiveram tolerância de ponto no Pregão (05 de dezembro) e nas Maçãzinhas (06 de dezembro), tendo participado com um carro alegórico nas Maçãzinhas, ornamentado pelas turmas de Oficina de Artes do 12.º ano. Para além disso, a Comissão de Festas Nicolinas tem marcado presença na ESCT com o intuito de fazer com que os alunos do 10.º ano “possam estar informados sobre esta tradição que vai muito para além do que as pessoas pensam à partida”, considera Carla Abreu, acreditando que “isto é apenas o começo”, atendendo ao entusiamo dos alunos.
“Acreditamos que nos poderia aproximar da cidade de Guimarães e das Nicolinas”
Com dezoito anos, Francisca Castro é agora aluna da Universidade do Minho. Membro do Conselho Consultivo Jovem no último ano letivo, foi a responsável pelo grupo de trabalho que implementou as Nicolinas na ESCT. “Já conhecia a tradição das Nicolinas”, refere, lembrando que há dois anos participou empunhando a caixa e, no ano passado, lá esteve com o bombo. “Ganhei o bichinho logo da primeira vez que fui a uma moina”, acrescenta, ficando marcada pelos ensaios que antecedem as festas.
“Este projeto nasceu da vontade de tantos alunos que, como eu, participavam nas Nicolinas, mas gostariam que a ESCT se tornasse mais envolvida como um todo, para termos ensaios e as regalias que os restantes alunos das outras escolas têm”, considera, destacando o trabalho coletivo realizado, não só por alunos pertencentes ao Conselho Consultivo Jovem. “Felizmente, tivemos o apoio de muitos professores, nomeadamente da professora Carla Abreu, que, apesar de ser um projeto dos alunos e para os alunos, orientaram-nos e ajudaram nesta jornada”, dá nota a jovem estudante de Ciências da Comunicação.
A Associação Velhos Nicolinos “mostrou-se recetiva desde o primeiro minuto”, assim como a Comissão de Festas do ano passado. “Sentimos que nos queriam acolher nas festas e que estavam felizes por esta iniciativa e por termos dado este passo em frente”, seguindo-se as várias etapas, com palestras e apresentações sobre a tradição nicolina. Uma semente lançada, então, no ano passado, que tem os seus frutos visíveis este ano, quer com a realização do ensaio, quer com a participação dos Nicolinos no magusto.
“Apesar de este ano já não ser aluna na ESCT, acredito que quem ficou está a beneficiar muito com a iniciativa, que na altura foi, e é, uma prioridade realmente por nos sentirmos distantes de uma coisa que poderia ser tão próxima e tão nossa. Assim como eu, acredito que muitos alunos participavam ou pelo menos conheciam a tradição e gostavam de estar mais incluídos nas festividades, e que a escola onde andam se integrasse. Todos acreditámos, desde o início, que este projeto nos poderia aproximar da cidade de Guimarães e das Nicolinas, e assim tem sido”, destaca a ex-aluna da ESCT. “Ver os alunos usufruírem agora de algo que eu senti falta no meu secundário deixa-me imensamente feliz, mas saber que contribuí para que tivessem esta oportunidade faz-me sentir ainda mais realizada”, ressalva a aluna natural das Taipas.
Para além das Nicolinas, os outros dois projetos mais votados estão relacionados com literacia financeira, já estando a ser implementadas sessões nesse sentido, e no terceiro período será realizada uma feira das profissões. “É um processo de crescimento dos alunos, percebem que sendo ativos enquanto cidadãos dá outras competências e é dessa forma que os queremos envolver, lutando pelos seus anseios”, finaliza Carla Abreu, lembrando a preponderância de Celso Lima, diretor da ESCT, pela iniciativa de auscultar os alunos e avançar com o Conselho Consultivo Jovem.
[ndr] artigo originalmente publicado na edição de dezembro do Jornal Reflexo.