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Requalificação pode fazer as noras voltar a “andar à nora”

Bruno José Ferreira
Sociedade \ sexta-feira, agosto 27, 2021
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Protocolo entre a Agência Portuguesa do Ambiente e a Junta de Caldelas permitirá requalificar as noras existentes junto ao rio Ave. Luís Castro chegou a trabalhar com elas e recorda a experiência.

As noras de água existentes junto ao rio Ave, entre o Parque de Lazer das Taipas e o Parque de Lazer da Praia Seca, vão ser reabilitadas ao abrigo de um subsídio que a Junta de Freguesia de Caldelas conseguiu junto da Agência Portuguesa do Ambiente (APA). Esse subsídio, de 50 mil euros, que será utilizado de forma mais abrangente, para realizar intervenções de limpeza da margem, reflorestação com espécies autóctones ribeirinhas, colocação de sinalética de todo o trilho no âmbito do projeto da Ecovia do Ave e, então, por último a reabilitação das duas noras que ficaram a descoberto com a limpeza.

Ainda não é conhecido, para já o nível da intervenção que será feita. A Junta de Freguesia está a estudar o estado de degradação destes
equipamentos, a verba necessária para os recuperar e, hipoteticamente, caso seja possível, recolocar as noras em funcionamento de forma lúdica.

Luís Castro, atualmente com 73 anos, morou no Canto de Baixo durante vários anos, paredes meias com o edifício da Pensão Vilas, e recorda-se perfeitamente de as noras estarem ainda em funcionamento e em uso pleno. “Trabalhei lá, com as noras, até aos meus vinte anos”, recorda ao Reflexo.

“As noras funcionavam para regar os campos, o milho e tudo que lá houvesse como era também o caso dos feijões, e outras coisas, era para isso que as noras funcionavam”, explica Luís Castro, pormenorizando a forma de funcionamento. “Tinham uns paus, que se punham lá presos e depois os bois andavam à roda e ao andar à roda faziam a água subir do rio para uns canecos. Por sua vez, desses canecos, grandes, a água caía nuns regos e ia para os campos”, explica.

Entretanto, Luís Castro foi para a tropa e deixou de trabalhar com as noras, ainda que tenha noção que as mesmas continuaram a laborar até meados da década de setenta. “Penso que as noras terão trabalhado até 1975, por aí”, diz, apontando o surgimento dos motores como o motivo para que se deixasse de utilizar estes instrumentos de captação de água que utilizavam tração animal. “Começaram a vir os motores de rega e começou a perder-se isso, o uso da nora. Acredito que tenha estado funcional até aos anos oitenta, mas com a falta de uso, acabou por deixar de ficar funcional”, sublinha Luís Castro ao Reflexo.