
Praia Seca: proximidade a zona de captação de água dificulta classificação
A classificação da Praia Seca como água balnear com vista à criação de uma praia fluvial não é impossível, mas a proximidade a uma área de captação de água impõe medidas mais restritas de segurança. Qualidade da água e da vegetação das margens do Ave tem melhorado, circunstâncias que reforçam a convicção da Câmara Municipal de que será possível criar alguma praia fluvial ao longo do rio.
Frequentado por centenas de pessoas verão após verão, o parque de lazer da Praia Seca vai atravessar 2025 sem a desejada classificação de água balnear para o caudal do Ave que ali passa, chave para a criação de uma praia fluvial. Divulgada em janeiro, a lista da Agência Portuguesa do Ambiente (APA) para este ano inclui 36 sítios com água balnear classificada no Norte de Portugal, nenhum deles no concelho de Guimarães. As candidaturas de anos anteriores esbarraram sempre no não da APA, algo que não tem só a ver com a qualidade da água, mas também com a proximidade a uma zona de captação de água.
Apesar do objetivo por cumprir, o presidente da Junta de Freguesia de Caldelas, Luís Soares, vinca ao Reflexo que “não se pode desperdiçar o trabalho feito nos últimos sete anos”, desde que o seu executivo avançou para a requalificação do espaço e o transformou num parque de lazer, inaugurado em 2019. “São sete anos de avanços. Disponibilizámos a margem do rio às pessoas. Cada pessoa pode ser um vigilante, monitorizando o seu aspeto. A Junta de Freguesia tem feito o trabalho físico-químico para verificar se as águas têm ou não qualidade”, destaca.
Na verdade, a qualidade da água do Ave está “cada vez melhor”, assim como a vegetação ripícola nas margens, mas a classificação como água balnear não depende apenas desses critérios, esclarece Dalila Sepúlveda, diretora do Departamento de Ambiente e Sustentabilidade da Câmara Municipal de Guimarães.
Em articulação com a Vimágua, com o Laboratório da Paisagem, que conta com uma equipa “dedicada quase em exclusivo às linhas de água”, e com a Vitrus, através dos guarda-rios, a autarquia tem realizado “análises contínuas à monitorização da qualidade da água no rio Ave”, mas a classificação atende a outros critérios: condições de segurança, tipo de vegetação do ecossistema do rio, tipo de areia, condições de apoio ao espaço balnear – casas de banho, por exemplo – e acessibilidades – têm de permitir o acesso de uma ambulância, por exemplo –, enumera a responsável.
A Praia Seca já dispõe de acessibilidades, mas tem o handicap de estar próxima de uma zona de captação de água, circunstância que eleva as exigências de segurança e leva a APA a atribuir um estatuto de maior proteção ao local. “Por norma, zonas de captação de água não devem ser zonas de prática balnear. A prática balnear muitas vezes altera a qualidade da água. E são precisas raias de segurança. Isso também conta para a classificação. Não quer dizer que não seja possível, mas é mais difícil”, esclarece Dalila Sepúlveda.
O presidente da Junta de Caldelas acrescenta que os casos de “ligações indevidas de saneamento a águas pluviais, em alturas de cheias” e de “comportamentos menos adequados do setor agrícola”, com lançamento de efluentes para o rio, têm “pouca expressão nas análises físico-químicas da água”, mas já contribuíram para a APA rejeitar pedidos de classificação, situação que considera injusta. “Há praias fluviais que têm resultados negativos, que encerram e voltam a abrir com uma contra-análise. As praias sem classificação têm um resultado negativo e estão excluídas”, diz Luís Soares, defendendo que não se desista de um objetivo que valoriza o rio Ave como “património natural”.
“Temos ecovias, temos parques, faltam as praias”
Embora a Praia Seca seja “um local muito aprazível”, Dalila Sepúlveda realça que os banhos no local devem ser desaconselhados, precisamente pela falta de classificação. Entretanto, a Câmara Municipal está a monitorizar outros locais no norte do concelho – União de Freguesias de Arosa e Castelões, União de Freguesias de Souto São Salvador, Souto Santa Maria e Gondomar, bem como União de Freguesias de Briteiros Santo Estêvão e Donim – com potencial para classificação como água balnear, circunstância que exige um historial de pelo menos três anos com resultados positivos. Durante três anos, a água tem de ter classificação como «boa» ou «muito boa»”.
A diretora do Departamento de Ambiente e Sustentabilidade da Câmara espera assim que Guimarães possa dispor de um local com água classificada a ponto de se tornar praia fluvial. “Temos ecovias, temos parques, faltam as praias. Estamos a fazer por isso. Queremos ter praias com segurança, acessibilidade e vigilância. O rio Ave há de ter uma praia. É para isso que o município está a trabalhar”, reitera.
[Conteúdo publicado originalmente na edição de Abril 2025 do jornal Reflexo]
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