Plano Ação Biodiversidade: uma centena de espécies registada nas Taipas
O Laboratório da Paisagem apresentou em reunião de câmara o Plano de Ação Local para a Biodiversidade Guimarães 2030, concluindo através do documento que no nosso território “há uma ação positiva” nesta área, mas há também “muito trabalho pela frente. A apresentação foi feita por Carlos Ribeiro, diretor executivo do Laboratório, sendo o projeto encarado como “um instrumento importante” para o concelho, mesmo não se tratando de uma medida obrigatória por parte dos municípios.
Este plano conta com um diagnóstico da realidade concelhia no que à fauna e à flora diz respeito, algo inexistente até agora, tendo sido registadas mais de 1300 espécies, num trabalho colaborativo em que foram envolvidas as juntas de freguesia e as brigadas verdes, estruturas “determinantes” para a realização do diagnóstico. Das mais de 1300 espécies registadas, 609 são respeitantes à fauna (37 espécies apresentam estatuto de ameaça) e 721 são respeitantes à flora (registando-se 441 espécies não nativas).
Ao Reflexo, Ana Pinheira refere que “no âmbito do Plano de Ação para a Biodiversidade Guimarães 2030 foram realizadas várias ações de monitorização na zona da Vila das Taipas, com particular destaque para a Praia Seca”. Neste local de monitorização “foram instalados detetores de morcegos para estudar a diversidade destas espécies, que desempenham um papel crucial nos ecossistemas urbanos e naturais”, dá conta a investigadora especialista em biodiversidade e recursos hídricos do Laboratório da Paisagem, que explica a importância desta espécie: “As espécies potenciais detetadas incluem o Pipistrellus pipistrellus, Myotis daubentonii, Miniopterus schreibersii e o Nyctalus leisleri. Os morcegos são importantes porque atuam como controladores naturais de insetos, regulando as populações de pragas, o que contribui para o equilíbrio ecológico”.
Espécies “emblemáticas” como a vaca-loura e vaquinha entre as detetadas
No trabalho desenvolvido nas Taipas foi registada sensivelmente uma centena de espécies, destacando-se a vaca-loura, uma espécie emblemática, conforme explica a investigadora. “Foram recolhidos dados de ciência-cidadã na área da Vila das Taipas, registando-se cerca de 100 espécies, incluindo espécies emblemáticas e de elevada importância ecológica, como a vaca-loura (Lucanus cervus) e a vaquinha (Dorcus parallelipipedus)”.
No caso da vaca-loura, trata-se do “maior escaravelho da Europa”, expõe Ana Pinheira, complementando que “é uma espécie considerada vulnerável e está em declínio devido à perda de habitat, sendo um símbolo da necessidade de conservar os espaços naturais ricos em árvores velhas, como Quercus sp. onde esta espécie se desenvolve”. Já no que concerne à vaquinha, “um outro escaravelho de destaque”, a especialista destaca que “desempenha um papel semelhante no ciclo de decomposição da madeira, sendo fundamental para a reciclagem de nutrientes nos ecossistemas”.
Por outro lado, foi registada também a presença de insetos, como borboletas, que “são considerados bioindicadores, ou seja, espécies que refletem a saúde dos ecossistemas em que vivem”. “As borboletas, em particular, são sensíveis às mudanças ambientais, como a poluição, o uso de pesticidas e a degradação do habitat, o que faz delas excelentes indicadoras da qualidade do ambiente. A presença de uma diversidade rica de borboletas é um sinal positivo de que os ecossistemas estão equilibrados e a funcionar adequadamente”, expõe Ana Pinheira, sinalizando três espécies existentes nas taipas: a almirante-vermelha (Vanessa atalanta), a borboleta-limão (Gonepteryx rhamni), a coma (Polygonia c-album), e a fritilária-dos-lameiros (Euphydryas aurinia).
Já no que toca às aves, foram registadas várias espécies como o guarda-rios (Alcedo atthis), o tordo-pinto (Turdus philomelos), o papa-moscas-comum (Ficedula hypoleuca), o pintassilgo (Carduelis carduelis) o pica-pau-galego (Dryobates minor), entre outras, “todas elas essenciais para monitorizar a saúde dos ecossistemas locais e reforçar a importância da preservação das zonas naturais”.
Laboratório aconselha “zonas de interesse municipal pela biodiversidade
Na apresentação do Plano de Ação Local para a Biodiversidade Guimarães 2030 ao executivo municipal, Carlos Ribeiro contextualizou que “à escala global temos uma perda muito significativa de biodiversidade”, sendo possível constatar o “aumento significativo das espécies ameaçadas”, pelo que “urge adotar estratégias para evitar essa perda”. No documento é lançado o desafio ao município para se criarem “zonas de interesse municipal pela biodiversidade”.
O diretor executivo do Laboratório da Paisagem salientou ainda que “precisamos de aumentar as áreas verdes, a área florestal no concelho”, tendo como objetivo atingir a neutralidade climática até 2030, um desígnio de Guimarães.