“Pista de velocidade” da reta de Toriz tem “incomodado” moradores
O silêncio das noites de fim-de-semana tem sido perturbado pelos motores a carburar a alta velocidade. A reta de Toriz, em Ponte, um troço da Estrada Nacional 101, tem servido de palco para testar os limites da velocidade numa situação que se arrasta ao longo dos anos e que “incomoda” os poucos moradores que existem neste eixo rodoviário.
Dois quilómetros separam duas rotundas, dos quais sensivelmente quilómetro e meio é asfalto em linha reta. Um cenário quase perfeito que convida os amantes da velocidade, os “aceleras”, a carregar no acelerador contrariando todos os limites impostos pelo código da estrada. “Rapidamente vão de um lado ou outro e regressam após dar a volta na rotunda. Isto é uma autêntica pista de velocidade”, confidencia um dos habitantes desta zona ao Reflexo, preferindo manter o anonimato.
Composta essencialmente por estabelecimentos comerciais e de restauração, que por norma já estão fechados quando a ação decorre, um pequeno punhado de habitações dispersas não consegue fugir a este “incómodo”, como dá nota o mesmo habitante. “É uma situação que acaba sempre por incomodar, essencialmente no verão, quando está o tempo mais quente e ocorre com mais frequência”, desabafa.
A escassos metros, uma outra moradora traça um cenário idêntico. “O barulho incomoda muito, estamos sempre em sobressalto. É um inferno”, relata sem conseguir esconder a angústia. Por norma o pior dia é à sexta-feira, “porque no dia seguinte não é dia de trabalho e o movimento fica mais calmo mais cedo”, sendo que o aglomerar de pessoas junto à reta também é normal ao sábado, ainda que mais tarde, pois “ao sábado há mais movimento até tarde na estrada”.
Acidente podia ter “servido para aprender, mas não”
“Percebe-se muito bem quando é um carro que vai mais de pressa no seu destino, na sua vida, e quando é a juventude nas corridas. Os carros têm uns apetrechos no escape que ainda fazem mais barulho”, reclama a moradora que diz estar várias vezes em sobressalto, até porque os acidentes nesta reta, não só neste contexto, acontecem com relativa frequência.
À memória vem um acidente recente, ocorrido a oito de maio, que fez duas vítimas mortais. “Era uma bomba”, um BMW i8 no qual seguiam quatro passageiros naquela noite de sábado, dos quais dois acabaram por não resistir. O carro despistou-se, embateu numa árvore em seguida capotou, aparentemente a grande velocidade.
“Há pouco tempo houve aqui um grande acidente, grave, com duas mortes e tudo. Não sei se tem alguma coisa relacionada com isso ou não, mas podia servir para as pessoas aprender, mas não. Passado pouco tempo já andavam novamente aí”, dá conta uma das moradoras com quem o Reflexo falou.
Autoridades ao corrente da situação
Segundo os moradores esta é uma realidade que se nota já há vários anos, havendo quem diz que antigamente até era mais motas. “Desde que me lembre esta reta é usada para isto. Ainda poucos carros havia e já as motas vinham para aí dar gás” complementa um morador, que refere que as autoridades, nomeadamente a GNR (Guarda Nacional Republicana), que tem a tutela desta zona, já foi por diversas ocasiões chamada ao local.
“Por norma juntam-se na bomba de gasolina e junto à JOM e depois vão a toda a velocidade de uma rotunda à outra. É feita queixa várias vezes, mas não adianta de nada”, lamenta um dos moradores. “As autoridades são alertadas, mas normalmente só chegam quando já acabou, ou então com poucos polícias para tanto aparato e para poderem atuar convenientemente. Acaba por não dar em nada, a não ser acabar com as corridas nessa noite”, complementa.
O Reflexo contactou a GNR, através das Relações Públicas do Comando Territorial de Braga, que assumiu ter conhecimento desta problemática e ter “o registo de denúncias de condutores a praticar velocidades desadequadas para a via e local em apreço”. Esta força policial informa que “tem privilegiado o patrulhamento de visibilidade, mantendo uma presença regular naquela zona, de forma a dissuadir eventuais comportamentos desviantes”.
Nesta mesma reta foram elaborados três autos por alteração das características de construção de viaturas no ano 2018, dois autos no ano seguinte e dois no decorrer do presente ano, de acordo com informação prestada pela GNR. Ao que o Reflexo conseguiu apurar, este tipo de atuações obriga à realização de operações com elementos especializados por parte das autoridades, de forma a aferir possíveis alterações, o que dificulta a atuação da GNR, que muitas vezes sete dificuldades para enquadrar legalmente os ilícitos praticados.
[ndr] artigo originalmente publicado na edição de dezembro do Jornal Reflexo.