Mosteiro de Souto: monumento quase milenar “voltado para o Ave”
A comunidade já se habituou à sua essência, usando um monumento com mais de nove séculos como igreja paroquial. O Mosteiro de Souto é um exemplo de longevidade, chegando aos dias de hoje com a estrutura original, pese as diversas intervenções ao longo dos tempos. Teve em 1758 a última grande recuperação. Aqui foi resgatada, pelo Abade de Tagilde, documentação que se encontrava abandonada e em risco de ser destruída.
As pedras graníticas estão lá desde o século XII, há sensivelmente nove séculos. Tudo em redor se foi alterando, incluindo os próprios adereços dos blocos que compõem a estrutura do Mosteiro de Souto. A rede viária transformou-se, e a pacatez do local não é a mesma, embora o ambiente bucólico permaneça em Souto São Salvador, freguesia que integra a União de Freguesias de Souto São Salvador, Souto Santa Maria e Gondomar. No quadro atual, o mosteiro – que é também a igreja paroquial do Divino Salvador – está voltado para o cemitério e é ladeado por um coreto e por uma gruta com imagens de Nossa Senhora de Lurdes e Bernardete.
Segundo o portal Hereditas, projeto do município que constitui uma base de dados digital do património concelhio, “o Mosteiro de São Salvador do Souto foi fundado no século XII por D. Paio Guterres” e albergou uma comunidade de cónegos de Santo Agostinho. Contudo, de acordo com o Repositório de Recursos e Documentos com Interesse para a Genealogia, já em 1059, é referida no inventário das herdades e igrejas do mosteiro de Guimarães “uma igreja com invocação de São Salvador”. Na mesma fonte é descrito que “Paio Guterres foi alcaide do castelo de Leiria, cuja defesa lhe fora confiada por D. Afonso Henriques em 1135”.
Percorrendo o curso da história quase milenar do Mosteiro de Souto, é na Idade Média que é transformado em paróquia. “No final da Idade Média a multiplicação de patronos e comendatários dos mosteiros que daí colhiam rendimentos, aliada à decadência dos costumes, levaram à supressão de muitos conventos”. Entre esses conventos, também o Mosteiro de Souto não resistiu à crise monástica e “acabou entregue a administradores particulares” e “convertido em paróquia secular.
Intervenção em 1758 para ganhar os contornos que tem hoje
Ao longo dos tempos este monumento, que não tendo qualquer proteção classificada, destaca-se pela sua traça e pela longevidade, foi sofrendo intervenções. “MOSTEIRO DE SOUTO EXPENSIS FRVCTVVM REEDIFICATVM ANNNO DE 1758”; essa é a inscrição que se pode ler junto à porta principal. As marcas do tempo dificultam a leitura, mas um olhar atento permite decifrar a frase latina que se traduz por “Reedificada a expensas do rendimento do mosteiro no ano de 1758”. Ou seja, a última grande intervenção no Mosteiro de Souto, que lhe terá conferido a configuração aproximada do que temos hoje, aconteceu há 265 anos.
“É, de facto, um grande monumento, interessante, mas que já faz parte da comunidade local, que sempre conviveu com ele e tem ali a sua igreja paroquial” destaca o pároco Albano de Sousa Nogueira, dando conta de arranjos pontuais que têm sido feitos, como pinturas ou intervenções para tentar combater as normais infiltrações. Pelos recantos daquela que é, então, a igreja de Souto São Salvador, há outras indicações visíveis, como a placa que se situa junto às escadas de acesso torre sineira, que diz “grades das escadas para a torre oferta de Joaquim de Freitas”. Em obras mais recentes, a Direção-Geral de Património Cultural inventaria no seu sítio na internet a recuperação dos telhados, pavimentos e tetos em 1992; regista também obras de remodelação do salão paroquial em 1986 e, antes disso, obras de remodelação da casa e salão paroquial em 1951.
É precisamente no site da Direção-Geral de Património Cultural, na página destinada ao Mosteiro de Souto, que encontramos uma descrição detalhada deste local de culto “implantado em encosta voltada ao rio Ave”. Trata-se de uma construção de “planta longitudinal composta por nave única e capela-mor, mais baixa e estreita, retangulares, com torre sineira e sacristia”. Destaque ainda para o “coro alto sobre arcaria, de madeira pintada, imitando aparelho de granito, composta por três arcos abatidos”, consta na descrição.
Documentação resgatada por Abade de Tagilde, já no século XIX
A importância do Mosteiro de Souto percebe-se, para lá da sua antiguidade, também pela documentação aí encontrada em finais do século XIX, vários documentos com informação que permitem perceber um pouco da realidade da região em que se insere e, sobretudo, das vivências dos seus antepassados
“Em finais do século XIX, o padre João Gomes de Oliveira Guimarães, Abade de Tagilde, recuperou no Mosteiro de Souto documentação que se encontrava abandonada e em risco de destruição”, consta no Repositório de Recursos e Documentos com Interesse para a Genealogia. O documento mais antigo encontrado pelo padre conhecido como Abade de Tagilde data de 1172, que publicou em 1896 a monografia intitulada ‘Documentos inéditos dos séculos XII-XV, relativos ao Mosteiro de Souto’.
Esta documentação é constituída por vendas, doações, sentenças, escambos, prazos e testamentos, entre outros, segundo a mesma fonte, sendo que o Arquivo Municipal Alfredo Pimenta tem já disponíveis online documentos resgatados por Abade de Tagilde, onde estão incluídos os títulos descritivos e os respetivos transladados.