Marcelo enaltece 24 de junho como "momento fundador" de um país
Eram 12h05, quando Marcelo Rebelo de Sousa saiu do veículo presidencial e, lado a lado com Domingos Bragança, se dirigiu à versão do rei fundador esculpida por Soares dos Reis. Aí, Chefe de Estado e autarca de Guimarães se detiveram perante duas coroas de flores: uma com as cores azul e branca, referentes à fundação deste retângulo à beira-mar, e outra com o verde e vermelho da atual bandeira.
Esse momento de contemplação perante os 893 anos da batalha de São Mamede, decisiva para formação de Portugal, não foi, porém, um sinal de que a efeméride deve ser um mero desfile “de saudosismo, de nostalgia e de engrandecimento do passado”; pelo menos é essa a visão do Presidente da República. “Aquilo a que nos apela hoje a celebração da batalha de São Mamede é a capacidade de nos sabermos unir no essencial, de sabermos a riqueza de vivermos numa sociedade aberta. Temos de fazer deste um dia de engrandecimento do futuro”, vincou, na conclusão do discurso proferido na Sessão Solene do 24 de Junho.
Dois anos depois de lhe ter sido atribuída a Medalha de Honra do Município de Guimarães, numa Assembleia Municipal decorrida a 19 de Junho, Marcelo esteve em Guimarães para a receber e salientou que Portugal tem um dos “passados mais longos como pátria independente”, com São Mamede a marcar o “começo desse longo caminho”. Mas o futuro é “ainda maior”, prometeu.
Sem transmitir qualquer posição relativamente à pretensão de Guimarães elevar esta efeméride a feriado nacional, o Chefe de Estado disse ainda que o confronto entre os partidários de Afonso Henriques e os da mãe, Teresa, há quase 900 anos é “passado, presente e futuro”, já que a pátria sobreviveu pela “cultura”, pelo “património” e por toda “uma solidariedade que se constrói e reconstrói ao longo dos séculos”.
Com referências ao historiador José Mattoso – o autor da expressão “a primeira tarde portuguesa” -, e ao pintor Acácio Lino – representou em tela a batalha de São Mamede -, Domingos Bragança invocou o poema “D. Afonso Henriques”, inscrito na Mensagem, de Fernando Pessoa, para que o “exemplo do rei fundador” se “estenda com toda a força” sobre o Presidente da República e o faça manter uma postura de “tolerância, humanismo e diversidade”, dignas de uma “sociedade contemporânea culturalmente consciente”.