José Miranda:“Prescindi de muita coisa, mas ganhei vivências que não teria”
Um exemplo de dedicação, admite que abdicou de várias coisas ao longo dos anos. Mas, acrescenta que ganhou também vivências, e amizades, que sem o GCR Barco não teria.
Ainda se lembra da forma como se processou a sua chegada à presidência do GCR Barco? O que o levou, há 37 anos, a assumir os destinos da instituição?
Comecei como delegado do desporto já desde a fundação do grupo, em que tivemos grandes equipas de atletismo e grandes equipas de futebol de salão. Tínhamos, por natureza, os melhores jogadores de Guimarães e ali da zona das Taipas, como era o caso do Peão, o Tarita e o Joãozinho, uma série deles. Mais tarde passei para a vice-presidência do grupo, o presidente na altura acabou por sair e assumi a presidência. Entretanto, fiquei no cargo após concorrer nas eleições em 1986.
São quase cinquenta anos da coletividade, sendo que em grande parte teve o seu cunho…
Oficialmente o grupo vai fazer 48 anos, mas se fosse pela atividade já tinha feito as bodas de ouro. O grupo é fundado em 1976, a nível de estatutos, mas a sua origem anda ali entre 1973 e 1974, porque a legalização de uma associação era muito difícil, tratar de todas as burocracias. Por acaso nessa altura a associação tinha uns jovens dinâmicos, como o Nuno Fernandes, que deram seguimento a isso. A associação é criada oficialmente em 1976, mas a realidade é que antes já tinha muitas atividades. A fanfarra, que é a secção ex-líbris do grupo, começa muito antes, o próprio desporto e mesmo a música popular começa tudo antes.
Como é que olha para esse período, em que grande parte da sua vida e da vida do clube teve-o como presidente? Sente que deu um contributo importante para esta comunidade?
Acho que sim, modéstia à parte, acho que dei o meu contributo. Embora, contando sempre com a colaboração de muitas pessoas, porque trabalhamos todos em conjunto, os órgãos sociais, o que é muito importante e tem de se dizer isto. Da minha parte, acho que dei um bom contributo e cheguei a prescindir de muita coisa na minha vida, porque senti muito aquele grupo, como ainda hoje sinto. Cheguei a ter convites para liderar outras coisas e recusei sempre em prol desta coletividade. Talvez hoje pudesse estar, quem sabe, noutro lugar ou até ter saído. Mas, abdiquei sempre em prol desta associação.
Que balanço faz da sua presidência? Cumpriu os objetivos que ambicionava? Ficou alguma coisa por cumprir?
Acho que fiz aquilo que queria. A nível de atividades nas duas últimas duas décadas realizámos muitas atividades, o grupo deu um salto qualitativo porque teve muita juventude inserida na sua gestão. Somos uma associação juvenil, as leias mudaram e o presidente não pode ter mais de trinta anos. Na direção só pode haver um elemento com idade superior a essa, que neste caso sou eu. A juventude trouxe novas ideias, novas dinâmicas e creio que no essencial conseguimos desenvolver os nossos projetos. Projetámos a cultura, proporcionando oferta a esse nível às pessoas da freguesia, mas não só, muitas pessoas das redondezas não têm na sua terra a mesma oferta e têm na nossa associação uma oferta válida.
A nível de infraestruturas temos um auditório apetrechado com tudo o que é necessário e com qualidade, e temos já um projeto para fazer obras na sala de convívio, bar e secretaria, porque estes espaços estão totalmente obsoletos. O projeto está feito e já tivemos uma reunião com o vereador da cultura, que inclusive já foi ao local, e contamos que a obra possa avançar brevemente, se possível para ser inaugurada antes de a associação celebrar os cinquenta anos. Era a única coisa que gostaria de ter feito no meu mandato e não consegui, mas está tudo encaminhado para avançar.
Esse espaço, a sede, foi concretizado em 1995 já com a sua presidência. Foi importante para a associação, e continua a ser?
Foi muito importante. Os nossos instrumentos começaram por ser guardados na família do Sr. Fernandes e na residência do Pe. Arnaldo. As primeiras reuniões também começaram por se realizar aí, na residência paroquial. Depois teve de ser demolida para se aumentar à igreja, passámos para outro local pertencente à igreja, até que sentimos a necessidade de pensar em ter instalações próprias. A primeira direção que cá esteve, era eu delegado do desporto, já tinha pensado num projeto, que passava por construir instalações no Campo do Maninho, junto ao Avepark, mas não foi possível ceder o terreno. A obra estava orçada em 2 mil contos, na altura, até que nós depois conseguimos. Foi muito difícil encontrar terrenos na altura, porque a freguesia de Barco deu um salto muito grande a nível de construção e conseguir algo ali na zona mais central não era fácil. O pouco que havia as pessoas pediam muito dinheiro. Depois construiu-se um loteamento, pelo Sr. Antunes – que é sócio benemérito do grupo – e ficou um lote reservado para construir algo de interesse para a freguesia. Acabou por não se construir nada e nós conseguimos esse lote através da Junta de Freguesia de Barco e da Câmara Municipal de Guimarães, e ali conseguimos as nossas instalações. Ainda hoje são muito importantes, e vão ficar melhores com a requalificação do bar e da secretaria. Acima de tudo são nossas.
Como referiu, a fanfarra continua a ser um dos principais elementos do GCR Barco. Continua com vitalidade? Tem sido fácil atrair os mais novos?
Sim, a fanfarra continua a ser um dos elementos principais. Muitas associações, com a pandemia, tiveram dificuldades. Neste caso temos a sorte de a nossa fanfarra ser constituída sobretudo por famílias. Não tivemos essa dificuldade, a fanfarra mantém-se inclusivamente reforçada, porque entrou muita gente nova. Claro que há sempre a preocupação de renovar instrumentos, o fardamento, mas está tudo operacional e com vitalidade.
A fanfarra tem mais de quarenta elementos. Há pessoas que já saíram, mas quando precisamos estão disponíveis para nos ajudar, o que é muito importante. Como disse, há famílias com vários elementos na fanfarra e se há uma festa, um casamento ou assim, são logo muitas baixas. Mas temos essa retaguarda de pessoas que nos ajudam sempre.
O objetivo inicial da associação passava por dinamizar a freguesia, a nível cultural e desportivo. Esses pressupostos mantêm-se com as dinâmicas diferentes da sociedade?
No desporto praticamente abdicamos dessa vertente. Vamos realizando algumas atividades, mas mais pontuais, uns torneios de dominó, de cartas, e também torneios de futebol. Estamos mais vocacionados para a cultura, que já não é pouco. Mas ainda assim, promovemos passeios de BTT, temos o nosso passeio agendado para o dia 25 de junho, uma iniciativa de BTT que realizamos em novembro e é das maiores do Minho, entre outros eventos mais esporádicos.
É através do GCR Barco que tem sido possível estender o programa municipal Excentricidade até à freguesia…
Foi uma luta muito grande que tivemos na associação. Começou na inauguração do nosso auditório; até aí o programa Excentricidade particamente só chegava a algumas vilas e nós conseguimos trazer também até Barco. Hoje, a nível e espetáculos estamos a conseguir ser atrativos. Há quinze dias realizámos um espetáculo, no âmbito de uma residência artística, do grupo Onda Amarela, que foi um grande êxito, sendo nós – da associação – os protagonistas em palco, juntamente com os seniores da freguesia. Temos alguns espetáculos que, inclusivamente, fazemos em parceria com a Junta de Freguesia de Barco, como é o caso do sunset e do evento de rock que vamos fazer em agosto, e também uma caminha colorida que fazemos conjuntamente.
É evidente que as atividades antigas temos procurado manter, que é o caso da celebração do aniversário, a festa de Natal e o magusto. Essas atividades procuramos manter sempre, fixas, e depois vamos fazendo novas, como a celebração do Dia Mundial da Criança, a 3 de junho. Temos uma série de atividades, como o passeio convívio, que vamos mantendo.
Olhando para trás, terá perdido muito da sua vida em prol da associação, mas também ganhou muitas coisas que provavelmente não teria ganho…
Sim, sem dúvida. Ganhei vivências e amizades que certamente não teria. Ainda agora me homenagearam, algo que eu nem cria, com um almoço. Não sabia de nada do que se passava. Tenho muitos amigos que fiz na associação. Abdiquei de algumas coisas, é certo, mas acho que ganhei muito. Experiência ao longo a vida, vivências que hoje não teria.
A nível de sócios como está a associação? Mantém-se dinâmica?
Temos cerca de trezentos sócios, o que é considerável. Vamos proceder a breve prazo a uma campanha de angariação e novos sócios. Temos sócios que já faleceram, algumas pessoas mais antigas que eram sócios, e nesse sentido vamos tentar captar novos associados. Já temos conseguido alguns
Nestes 37 anos alguma vez pensou em sair, ou teve sempre motivação para continuar?
É uma boa questão. Houve ali uma ocasião, passados oito a dez anos de estar na presidência, em que fiquei na expetativa a ver se aparecia alguém. Já estava lá há algum tempo, não aparecia ninguém, numas eleições criou-se uma comissão administrativa em virtude da falta de alternativas. Mas, o pessoal votou para que fosse o líder da comissão administrativa. Como não apareceu ninguém, acabei por me candidatar novamente. E cheguei até agora, fui ficando por mais trinta anos.
Como é que olha para o futuro?
O presidente é o meu filho e posse dizer que me surpreendeu. Já estava ciente das capacidades dele, mas pensei que ia ficar na retaguarda, mas tenho visto que ele assumiu o desafio e tem demonstrado competência. Tomou posse no dia 4 de fevereiro, no dia de São Brás. Mantenho-me na vice-presidência, a minha experiência e de outros colegas que lá andam, talvez seja importante, mas ele tem assumido bem as funções, o que é bom.
[ndr] Entrevista originalmente publicada na edição de junho do Jornal Reflexo.