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Hibernamos para acordar a tempo de ver os Banhos Velhos darem "um salto"

Pedro C. Esteves
Cultura \ segunda-feira, outubro 25, 2021
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Num "esforço de descentralização", a cultura banhou vários espaços da vila termal. Tertúlias, concertos, cinema: os Banhos Velhos são isto e muito mais — e o desafio da "reinvenção" foi ultrapassado.

Vimo-nos a braços com uma pandemia e logo se ouviram vozes que acenavam com as “oportunidades” a explorar perante a adversidade. Discurso vago e, muitas vezes, pouco pragmático. Mas que descreve em pleno o que foi planear uma temporada cultural de Banhos Velhos que começou lá em junho com Manel Cruz e só terminou a poucos dias de começar o outono, com Clã a fechar os dez anos de programação cultural. É que falamos de um evento cultural que se viu privado do habitat natural e, por isso, calcorreou a vila termal. Um verdadeiro esforço de “descentralização”: algo previsto há algum tempo, explica José Manuel Gomes, mas só agora executado (também) em virtude das restrições pandémicas.

“Nos Banhos Velhos tivemos um grande entrave a ultrapassar, precisamente pelo espaço físico que não tivemos à nossa disposição. Com as restrições e regras da Direção-Geral da Saúde (DGS) caberiam lá umas 30 pessoas. Desde muito cedo vimos que tínhamos de levar a agenda para outros sítios”, explica o programador cultural. E assim foi: concertos no polidesportivo, Manel Cruz a tocar com a fachada “romântica” do edifício termal como pano de fundo, tertúlias ao abrigo da pérgola que segura as trepadeiras que escondem o sol quente das piscinas de verão. “A ideia foi, por um lado, arranjar as condições para que houvesse um número aceitável de público presente e, por outro, enfrentar o desafio da própria reinvenção (que era inevitável). E isso acabou por ser uma oportunidade”, salienta.

O que aconteceu foi haver gente a descobrir recantos da vila termal – algo que não aconteceria quando o melhor do pop/rock nacional tocava só no balneário termal: “Uma grande percentagem das pessoas que vêm aos concertos é de fora; embora conheçam os Banhos Velhos, sentimos que ficaram a conhecer estes espaços novos. Dificilmente vou esquecer a surpresa das pessoas no primeiro concerto, perante a fachada do edifício termal. Muita gente nunca tinha passado ali”.

Assim, e se “foi uma dificuldade tremenda adaptar tudo”, José Manuel Gomes acredita que, a partir da dificuldade, foram criadas “oportunidades de valorizar a programação e pontos de interesse da vila”. E se havia “expetativa” para ver a reação do público – o concerto de Manel Cruz foi o regresso à música ao vivo para muita gente e, como explica o programador cultural, os confinamentos sucessivos “interromperam rotinas”, quase como que nos hibernaram –, reina o sentimento de que “correu tudo bem”. “Estávamos muito receosos. Mesmo com as inscrições nada impede que no dia a pessoa não apareça. Sentimos que conseguimos dar um salto mesmo com estas limitações todas”.

Fotografia: GRUA