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Há 30 anos em “reinvenção permanente”, o Guimarães Jazz volta em pleno

Pedro C. Esteves
Cultura \ quinta-feira, novembro 11, 2021
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A música de "um festival transcontinental que abarca muita coisa” está prestes a fluir em Guimarães. A 30.ª edição do festival arranca esta quinta-feira. Até 20 de novembro, há mais 11 concertos.

Hip hop, a música clássica contemporânea e algum do legado cultural da Índia são vocábulos da música que vai pelo ecoar pelo Grande Auditório do Centro Cultural Vila Flor (CCVF) a partir das 19h30. A abertura da 30.ª edição do Guimarães Jazz está aí com o The Vijay Iver Trio, formação norte-americana em busca de alargar fronteiras, que, além de Iver, inclui a contrabaixista Linda May Han Oh e o baterista Tyshawn Sorey.

“É outra loucura, mas a gente precisa de ser assim”. Ivo Martins, diretor-artístico do Guimarães Jazz, abordava a performance de Niels Klein trio com a Orquestra de Guimarães no 30.º Guimarães Jazz, aquando da apresentação do programa. Mas as palavras também se podiam aplicar (no melhor sentido) a uma viagem com três décadas que fizeram do evento “uma referência não só em Portugal, mas em todo o lado”, salientou César Machado, presidente da direção do Convívio, que faz a “festa em casa”.

Foi precisamente na sede da associação que A Oficina apresentou as linhas mestras de um festival que “presta o maior serviço público à causa do jazz em Portugal”. Como é hábito, “um programa equilibrado, embora heterogéneo”, disse Ivo Martins, vai trazer os arrulhos de pianos, a bateria, contrabaixos e trompetes ao Centro Cultural Vila Flor e ao CIAJG - Centro Internacional das Artes José de Guimarães entre 11 e 20 de novembro.

Este ano, junta-se a satisfação de ver o festival fluir normalmente – as tradicionais jam sessions, divididas entre a sede da associação Convívio e o Café Concerto do CCVF, interrompidas no ano passado, estão de regresso – e a celebração de uma data redonda. “Ao falar dos 30 anos, temos de pensar o quão importante foi não desistirmos e, em 2020, termos realizado a 29.ª edição. Para nós, é um privilégio fazer esta conferência de imprensa na sede do Convívio”, vincou Ricardo Freitas. O diretor-executivo d’A Oficina lembrou ainda que são 30 anos “a tentar, a acertar, a falhar” -- e este processo de tentativa e erro também ajudou a fazer do Guimarães Jazz “um festival tão icónico”.

Ao celebrar “uma data histórica”, depois de um “ano e meio difícil”, Ivo Martins ressalvou “o grande amor à música e ao jazz” dos muitos que trabalharam “para que isto acontecesse”. E o que vai acontecer em Guimarães é “um festival transcontinental que abarca muita coisa”. “Queremos pôr em confronto alguns territórios, alguns pontos-limite, perto daquela zona que as pessoas consideram jazz e não jazz. Queremos confrontar maneiras de ver as coisas”, enquadrou o diretor-artístico.

Vijay Iyer Trio abrem a porta e deixam-na escancarada para a torrente de música que advém. Samuel Blaeser & Marc Ducret, Miguel Zénon e o seu quarteto – que vão transpor o mundo musical de Duke Ellington -, Chris Ligthcap’s Superbigmouth – uma big band de oito músicos –, Ryan Cohen a dirigir a banda do ESMAE são algumas das performances que vão mostrar “o mapa global que se chama jazz”. Nesta cartografia não fica de fora a política. O concerto de Black Art Jazz Collective é uma forma de “afirmar a importância de termos alguém que forneça uma perspetiva política na abordagem ao jazz. “Damos aqui voz ao importante contributo dos afro-americanos para o jazz”, disse Ivo Martins.

Orçado em 165 mil euros, o Guimarães Jazz vai decorrer de novo sem restrições de lotação, após a limitação de 50% que teve de cumprir em 2020, sendo que os concertos se repartem pelo CCVF e pela black box do Centro Internacional de Artes José de Guimarães.

A edição assinala ainda o regresso das jam sessions ao café-concerto do CCVF e ao Convívio, envolvido na criação do festival, em 1992. Na sede, no Largo da Misericórdia, vai estar ainda patente a exposição 60/30, referente à criação da associação e às três décadas de jazz em Guimarães.

Com Tiago Mendes Dias

Fotografia: © Dirk Ostermeier