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Fotografia Matos vai fechar portas após 45 anos no coração da vila

Bruno José Ferreira
Sociedade \ quinta-feira, abril 08, 2021
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Estabelecimento comercial ligado ao ramo da fotografia situado na Avenida da República desde 1976 vai encerrar no final do mês de abril.

A pandemia precipitou uma ideia que estava a ser maturada em virtude da menor produção com o surgimento das tecnologias digitais. A loja vai fechar, mas a atividade mantém-se como hobby e como part-time, sendo que António Lima Pereira, atual proprietário do espaço, que herdou do sogro, continuará a guardar o espólio da Fotografia Matos, que retrata os últimos 45 anos da vila.

Como surgiu a Fotografia Matos, qual é a história da sua implementação no centro da vila das Taipas?

A casa faz precisamente este ano 45 anos. Foi fundada em 1976, em agosto, embora a abertura tenha sido em setembro, segundo julgo saber. O meu sogro trabalhava numa casa de fotografia, foi para a tropa e quando veio da tropa estabeleceu-se. Eu vim trabalhar pela primeira vez para aqui numa segunda-feira de São Pedro, 27 de junho de 1988, salvo erro. Nesse ano trabalhei até ao final das férias, pediram-me para vir para aqui trabalhar, para dar uma ajuda, porque era necessário. Depois, no ano seguinte, fui eu que vim cá pedir para trabalhar nas férias. Nessa altura a casa adquiriu o primeiro laboratório de fazer fotografias e ia precisar de um empregado a tempo inteiro. Foi-me dito que não dava, porque precisavam de alguém a tempo inteiro. Eu tinha treze anos na altura. Depois, através de um amigo em comum, foi lançado o desafio de eu estudar à noite e trabalhar de dia na Fotografia Matos. Com treze anos não se conseguia estudar à noite. Eu consegui, nunca percebi muito bem, alguém fez alguma coisa, e com treze anos fui estudar à noite para Guimarães no final do trabalho. De lá para cá trabalhei sempre aqui, até agora nunca conheci outra profissão que não esta.

Já tinha gosto pela fotografia, ou surgiu com a ida para a Fotografia Matos?

Nunca me imaginei a trabalhar na fotografia, na altura quando vim para aqui a trabalhar foi como que um desafio. Inicialmente até recusei, tinha os primeiros que vinham de França passar férias, mas depois em conversa em casa foi-me dito que o que ganhasse era para mim e então assim foi. O meu primeiro salário foram cinco contos por semana, corri até casa com a nota no bolso para mostrar a nota. Nunca me passou pela cabeça trabalhar nisto, até porque o meu pai não tem histórico nenhum ligado à fotografia, foi mesmo mero acaso. Depois o gosto foi crescendo.

Que tipo de trabalhos fazia quando cá chegou?

Eram tempos completamente diferentes dos de agora. A fotografia era uma arte. Continua a ser, mas era muito mais difícil de se trabalhar do que é hoje. O meu sogro trabalhava o preto e branco manualmente, tínhamos o laboratório, as fotografias eram todas retocadas à mão, inclusive negativos. Muitas fotografias tipo passe, aliás o trabalho que vim fazer para aqui foi cortar fotografias tipo passe. Os dias em que mais fotografias tirava era a segunda-feira de São Pedro e a segunda-feira de Páscoa. Depois as reportagens, comecei a acompanhar as pessoas que iam fotografar, tínhamos seis, sete e até oito casamentos por dia, alguns fazia-se de manhã e ia-se para outros, porque era diferente, não se ficava o dia todo. Fiz um pouco de tudo nesta casa. Comecei a trabalhar no minilab, comecei a fotografar, a editar filmes, filmei, passei pelos processos todos. A única coisa que não fiz aqui foi impressão a preto e branco. Ajudei sempre, quando necessário, mas foi uma coisa que nunca se proporcionou, porque quando vim já tínhamos o minilab e revelavam-se assim toneladas de fotografias. Chegámos a revelar 3500 rolos de fotografia num mês. No início as máquinas tinham ventoinhas ligadas para arrefecer, porque atingindo determinada temperatura não conseguiam trabalhar. Íamos almoçar à vez, eram coisas completamente diferentes.

Entrevista completa na edição de abril do Reflexo.

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