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“Tocar com pessoas de quem gosto faz com que queira deixá-las orgulhosas”

Pedro C. Esteves
Cultura \ sexta-feira, maio 27, 2022
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Anita Oliveira (na foto: segunda à esquerda) é taipense, tem 21 anos, e estuda no conservatório Royal Northern College of Music, em Manchester, que acolhe jovens músicos talentosos de todo o mundo.

Em entrevista ao Reflexo, a jovem saxofonista recorda o papel da Academia de Música Fernando Matos e a escola de música Workshop – atual Palco 21 – no seu crescimento. Antes do saxofone que agora aprimora no Reino Unido, houve a bateria e a guitarra. Pelo meio, anda sempre a Banda Musical de Caldas das Taipas, uma “grande família”.

O saxofone não foi o teu primeiro instrumento. Recordas-te da tua descoberta musical?

Os meus pais influenciaram-me a ouvir música, influenciavam-me a mim e à minha irmã nas Artes. Acho que sempre tive esse bichinho. E, segundo eles dizem, quando era pequena, abria os armários da cozinha e pegava nas panelas e começava a fazer ritmos. Quando comecei o ciclo quis tocar bateria. Disse aos meus pais e ofereceram-me uma daquelas elétricas. Entrei na Workshop, uma escola de música no Passerelle que agora é a Palco 21, e comecei a aprender com o Pedro Gonçalves. A minha mãe gostava muito de guitarra, queria que eu aprendesse e um ano depois de entrar no Workshop comecei. Pouco tempo depois fui à Banda Musical de Caldas das Taipas, eles estavam a iniciar o projeto da Academia, e comecei a aprender saxofone.

Tinhas que idade?

Comecei com 13 a aprender saxofone.

E pelo que percebi a tua mãe te incentivou. Ela está ligada à área ou é por gosto?

Por gosto, sim. A minha mãe não tem ligação à música, mas gostava que eu aprendesse um instrumento de cordas ou sopros. E eu sempre gostei do saxofone.

Por alguma razão específica? O saxofone está muito ligado ao jazz e cruza-se com diferentes géneros musicais.

Acho que foi um bocado pelo jazz e pelo facto de haver muitas músicas que têm grandes solos de saxofone. Grandes baladas e grandes bandas como Dire Straits e Supertramp. O meu pai tinha discos dos Supertramp e gostava muito de ouvir os solos.

Aproveitava para voltar à Academia, intrinsecamente ligada à Banda Musical de Caldas das Taipas. Começas quando na Banda?

Entrei em 2017.

E que tipo de aprendizagem adquires? Tens a tua formação clássica, mas depois, na banda, suponho que haja algo mais: um sentimento de comunidade. O que é que a banda te deu?

Gosto muito da Banda das Taipas. Ainda faço parte e gosto de tocar lá. Principalmente pelo sentimento de união: é quase como se fossemos uma grande família. Foram as pessoas da banda que me incentivaram muito a seguir este percurso na música. Foi importante por causa disso, por sentir que fazer música era fazer música com eles – e isso era ainda melhor. Fazer música com pessoas de quem gosto faz com que queira deixar as pessoas orgulhosas, de querer estudar ainda mais e ser melhor.

Mesmo estando agora em Manchester, ainda tens oportunidade de tocar com a Banda das Taipas?

Sim, no Natal consegui fazer o concerto em Guimarães. Agora em abril vim na Páscoa e consegui fazer uma procissão. Agora estas próximas romarias, que retomaram por causa da covid-19, não vou conseguir fazer, mas quando voltar no verão faço sempre o gosto de ir tocar com a banda sempre que posso. E sei que sou sempre bem-vinda.

Como foi este processo de entrar Royal Northern College of Music (RNCM). Era um objetivo teu?

No 10.º ano concorri ao Conservatório [Calouste Gulbenkian] e no 12.º, enquanto Ensemble de saxofones do Conservatório, fomos ao Porto a um convívio. O professor que dá aulas aqui no RNCM viu-nos tocar e convidou-nos para tocar em Manchester. Viemos em 2018. Adorei a cidade, a universidade e fiquei com a ideia de vir para aqui estudar. Depois acabei por fazer a licenciatura na Universidade do Minho porque achei que ainda era muito nova para sair do país, precisava de amadurecer. No fim da licenciatura em Música na Universidade do Minho concorri, foi por gravações, depois fiz uma entrevista e entrei.

Como é o teu dia-a-dia?

Intenso. Porque tenho sempre de definir horas para o estudo diário, tenho sempre aulas, projetos e está sempre muita coisa a acontecer
na universidade. E chega a um ponto que eu quero tanto estar envolvida em tudo que às vezes preciso de parar para respirar. Mas tem sido incrível, era mesmo aquilo que eu queria e sonhava desde sempre. Sinto que sou mesmo sortuda de estar aqui.

O ensino é muito diferente quando comparado com o de Portugal?

É praticamente quase tudo prático. Era muito aquilo que eu queria. Eu gostei muito de estudar em Portugal, foi muito bom, aprendi muito, mas o que eu notava é que não havia grandes oportunidades. Estava-me a sentir frustrada por causa disso. E foi uma das coisas que me fez pôr a hipótese de vir para fora do país.

És a única portuguesa no RNCM?

Somos dez este ano. No saxofone sou a única. O resto do pessoal é violino, violoncelo, contrabaixo, fagote.

E foste também a única portuguesa selecionada para ser uma das três finalistas num concurso que envolve a Banda do Príncipe de Gales. Podes densificar um pouco sobre isso?

Aquilo foi uma competição que houve em que a final, agora em maio, era tocar com a Banda do Príncipe de Gales. Tinha de enviar um vídeo a tocar e como não tinha custos a inscrição eu decidi enviar o vídeo. E fui selecionada.

Há algo planeado para o futuro?

Tenho mais um ano na RNCM. Agora, por cá, estou com um projeto em mente.

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