21 novembro 2024 \ Caldas das Taipas
tempo
18 ºC
pesquisa

Este lugar não é para velhos: “Aqui as pessoas sentem-se válidas”

Bruno José Ferreira
Sociedade \ quarta-feira, junho 07, 2023
© Direitos reservados
Em fase de crescimento, após a quebra provocada pela pandemia, as atividades que “fazem bem ao corpo e à cabeça” continuam no projeto lançado pela Junta de Freguesia de Caldelas.

Em 2018, a Junta de Freguesia de Caldelas sentia que existia “uma necessidade na vila para a qual não havia resposta”. Com a tendência de envelhecimento da população, há cada vez mais “respostas para quem, de alguma forma, já tem alguma dependência”. Mas, e para quem já está “inativo do ponto de vista profissional” e ainda “tem muito para oferecer”? Foi neste quadro que se pintaram os primeiros traços do Espaço de Convívio Sénior das Taipas - Este Lugar Não É Para Velhos.

De lá para cá, as atividades têm vindo a intensificar-se – com uma paragem forçada pela pandemia pelo meio – com o intuito de criar condições para que as pessoas possam “envelhecer de forma diferente”, dá conta Patrícia Correia, responsável, no executivo da Junta de Freguesia de Caldelas, pelo pelouro da ação social. “Isto é um centro de convívio, um local onde as pessoas têm um espaço para se encontrarem e onde podem desenvolver uma série de atividades que vão ao encontro dos seus interesses”, apresenta, de forma genérica.

Diana Gonçalves junta-se à conversa e explica que, mais do que um espaço ou um programa ocupacional, o Este Lugar Não É Para Velhos é um conceito de valorização pessoal e de partilha de afetos. “É importante percebermos que este espaço faz mesmo a diferença na vida das pessoas; aqui sentem que afinal não estão sozinhas”, destaca a coordenadora do projeto do Espaço de Convívio Sénior (ECS) das Taipas. “Faz bem a tudo: ao corpo e à cabeça”, sustenta.

 

“Mais resistentes”, os homens ainda estão em falta

Passando da teoria à prática, a oferta é diversificada. Entre atividades de literacia digital, cuidar da horta, música, trabalhos manuais, entre outros, é possível fazer de tudo um pouco. “As pessoas inscrevem-se e frequentam os ateliês com que se identificam”, explica Patrícia Correia. “Temos pessoas que vão mais às atividades físicas, outras mais aos trabalhos manuais e há outras que querem tudo e mais que houvesse”, retrata.

Atualmente são 72 as pessoas inscritas, sendo que um grupo de 25 participa de forma mais ativa nos diversos eventos. Um número aquém do que acontecia antes da pandemia, aborda a vogal da Junta de Freguesia de Caldelas. “Estamos numa fase de expansão”, realça; “Arrancámos em 2018, em 2019 trabalhámos muito bem, mas depois foi o que se sabe com a pandemia. Tivemos mesmo de fechar o espaço, de suspender as atividades, e isso notou-se no regresso. Algumas pessoas perderam faculdades, outras tiveram muito receio em voltar”.

O discurso tem sido feito sempre no feminino, e isto acontece porque o projeto não tem conseguido atrair os homens. São “mais resistentes”, dizem as responsáveis. “É o nosso grande desafio: trazer os homens. Ainda não conseguimos, mas somos teimosas e vamos continuar a tentar”, sustenta Patrícia Correia, acrescentando que, por enquanto, apenas vai marcando presença um homem, essencialmente para assistir às atividades. Enquanto os homens ainda não chegam, sublinhando-se o “ainda”, Diana Gonçalves olha para o grupo atual de participantes como “pessoas muito ativas e com muita vitalidade”, o que de certa forma ajuda a cumprir o propósito da iniciativa. “Temos como prioridade o bem-estar das pessoas, que se sintam confortáveis no que estão a fazer. Percebemos que estão ocupadas, quer no aspeto físico quer mental”, aponta a coordenadora, tocando num aspeto que considera “muito importante”: a vertente “mental”.

“A parte física é importante, queremos que a funcionalidade das pessoas se prolongue, mas a parte cognitiva preocupa-nos muito”, reconhece. O trabalho desenvolvido é “de extrema importância a nível da saúde mental, de prevenção de quadros demenciais e da própria autoestima”: “Já tivemos testemunhos que nos transmitiram que estavam no fundo do poço”, complementa.

 

A “trabalhar num novo espaço”: é “fundamental”

Recentemente o projeto Este Lugar Não É Para Velhos, mais precisamente a Junta de Freguesia de Caldelas, enquanto promotora da iniciativa, viu a Câmara Municipal de Guimarães atribuir-lhe um apoio de 25 mil euros, encarado como “um reconhecimento do trabalho desenvolvido”, segundo Patrícia Correia. “Trabalhamos muito com prestadores de serviços, como professores e instrutores para as atividades”, refere, sustentando ainda que é feito um trabalho em rede junto de várias instituições, como a Escola Secundária de Caldas das Taipas, a cooperativa Tempo Livre, a Unidade de Terapia da Taipas Termal ou a Comissão de Festas dar Vida à Vila.

Não estando diretamente relacionado, este apoio também visa a concretização de outro desígnio do ECS: o de ter uma nova casa. O projeto está em marcha, e é considerado “fundamental”. “Com o crescimento que temos, entendemos que necessitamos de ter outras condições para receber as pessoas”, crê a vogal da junta. “As senhoras chamavam ‘a nossa casinha’ ao anterior espaço”, situado junto à feira, lembra.

A pandemia, a juntar ao facto de o espaço existente ser exíguo, levou a que as atividades se dispersassem por vários locais - biblioteca, a Sala Multiusos do Antigo Mercado ou a Escola Secundária. Motivos que tornam ainda mais necessária a existência de um espaço próprio para o projeto: “Estamos a trabalhar nesse novo espaço, que precisamos mesmo, com outras condições para receber as pessoas e ter outras iniciativas”, remata Patrícia Correia.