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Empresas apostadas na defesa do emprego e dos postos de trabalho

Redação
Sociedade \ sexta-feira, abril 24, 2020
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O início do ano até estava a correr bem para a maioria das empresas, com aumento de vendas e de encomendas. Mas, de repente, tudo mudou.

Entre incertezas e cenários atualizados de forma permanente, os empresários foram reagindo e tomando medidas. A dada altura, com o cancelamento e o adiamento de encomendas, foi inevitável a redução temporária da produção: no caso da Herdmar, com a redução do trabalho a metade e no caso da Cristema e da Serafim Fertuzinhos com o encerramento total da produção.

Acontece que é tudo tão rápido que, desde o momento em que falámos com os empresários e a publicação deste artigo, já outras medidas podem ter sido tomadas.

A cada uma das empresas, o Reflexo colocou um conjunto de perguntas, cujas respostas transcrevemos nesta página.

1. Qual o ponto de situação das encomendas de clientes?
2. Para além das medidas já tomadas pela empresa, que outras medidas ponderam tomar?
3. Há o risco de despedimentos?
4. O que esperam que aconteça, a nível económico, no setor e nesta região onde estamos inseridos?

CRISTEMA
Emanuel Fertuzinhos, Administrador
1. Algumas encomendas foram canceladas; outras adiadas. Estamos com uma quebra de 30% e sem perspetivas de novas encomendas. O cancelamento foi geral, chegando de Portugal, de Espanha, de toda a Europa e de fora da Europa.
2. No momento que atravessamos temos de estar mais unidos que nunca, temos de lutar pela nossa empresa, pela nossa família. Não sabemos o que acontecerá nos próximos dias ou meses. Sou otimista por natureza e tenho sempre um Plano B. Mas desta vez não tenho... Não sei… estou sem respostas. A crise económica está instalada na nossa empresa, no nosso sector, no nosso país, na europa, no mundo (e foi num piscar de olhos).
3. Lutarei sempre para que isso não aconteça. É importante manter cada posto de trabalho, uma vez que as pessoas são o valor maior das empresas. Os despedimentos nesta fase serão destruidores das empresas e das famílias. A situação catastrófica que vivemos e a que se avizinha preocupa-me bastante e será a alguém externo quem decidirá: o cliente. Uma empresa vive com os seus clientes, que trazem encomendas e deixam o seu dinheiro para pagar os nossos compromissos. Caso isso não aconteça, o dinheiro não chegará.
4. A nível económico espero que rapidamente a Europa tome medidas para a retoma da economia. Deveríamos de alguma forma ser protegidos, face à concorrência da China, da Índia e do Vietname. Não conseguimos medir forças com eles. Agora, mais do que nunca, espero que não se perca o pouco que ainda existe. A Europa tem de ser muito mais produtiva, não pensar viver de serviços. Todas as fábricas de cutelarias provaram ser heroínas, ultrapassando grandes crises com muito esforço, dedicação, empenho e trabalho. E agora, de um dia para o outro, estamos a perder o que conquistámos. Somos mundialmente conhecidos por fabricar cutelaria de qualidade e não podemos perder esse feito. Temos de estar unidos, mais do que nunca.

Herdmar
José Avelino Marques, Administrador e Diretor Financeiro
1. Ao exportar 90% da nossa produção para 75 países estamos de alguma forma habituados a mudar o foco de acordo com as tendências de consumo e as oportunidades de negócio. Contudo, é obvio que o contexto crítico que hoje se vive é global e temos atualmente alguns pedidos suspensos e outros com expedições adiadas. Todos diretamente relacionados com as medidas aplicadas pelos governos dos respetivos mercados, havendo mesmo em alguns deles lugar a embrago de importação de bens não essenciais. Está claro que, diariamente, o paradigma altera e num curto prazo não se avizinham tempos prósperos.
2. Para além das atuais medidas de contenção e segurança e organização da estrutura de trabalho, a empesa não descarta a possibilidade de recorrer a medidas extremas, ou estratégias de atuação futura distintas. Na atual situação em que nos encontramos, todos os planos são a curto-prazo, e todos os dias são distintos, analisando a informação dia-a-dia, para que possamos agir o melhor possível.
3. As rescisões de contrato, são, como sempre foram para nós, a última via a optar face a situações críticas e cenários económicos desfavoráveis. Como média empresa, produtora de cutelaria e geradora de inúmeros postos de trabalho, enfrentamos e iremos enfrentar muitas mais dificuldades ao longo desta batalha, estando certos de que o caminho a percorrer não será, de todo, fácil. Contudo, se os agentes económicos, se toda a cadeia de abastecimento (como os fornecedores de matéria-prima) e clientes/mercados nos permitirem e se, essencialmente, os colaboradores cooperarem com os instrumentos aos quais a empresa possa recorrer, tudo iremos fazer para não correr esse risco, assegurando a viabilidade da empresa e os respetivos postos de trabalho. Essa é uma das nossas principais preocupações.
4. O cenário que se vive é semelhante ao de uma “guerra”, onde todos os dias enfrentamos várias batalhas e em que vamos planeando dia-a-dia. Ninguém estava preparado para isto: empresas, associações, instituições governamentais, parceiros económicos. As dificuldades no pós-pandemia também serão bastantes: esperamos uma economia frágil, onde não só o sector, mas o país e o mundo enfrentarão, cremos nós, uma grande recessão. Sentíamos desde o inicio do ano um ligeiro aumento de procura, devido ao encerramento obrigatório das empresas chinesas, o que “esbarra” agora no viver da mesma situação pela Europa e, de seguida, pelo continente Americano, indicando um sentido Oriente-Ocidente que pode e deve ser considerado no plano estratégico para o curto e o médio prazos. E é precisamente isso que estamos a fazer, estudando desde já alternativas para uma resposta forte às futuras oportunidades.

Serafim Fertuzinhos
Jorge Silva, membro do conselho de administração
1. Nos últimos dias recebemos de diversos clientes pedidos de suspensão das encomendas, principalmente nacionais e espanhóis. Isto tornou também muito difícil a gestão da produção, pois estava a acontecer recorrentemente estarmos a trabalhar para uma encomenda que era suspensa. Focávamo-nos noutra e essa também era suspensa. Então decidimos parar e reorganizar… “contar espingardas”. Mas nos dois primeiros meses deste ano estávamos com um crescimento a rondar os 30% em relação ao mesmo período do ano passado. Março também ia manter essa dinâmica… até que na semana passada vieram as suspensões de pedidos em massa!
2. Nesta altura estamos a reforçar ainda mais os pontos de lavagem das mãos e estamos também a encetar contactos para o fornecimento de máscaras a nível internacional, pois a oferta nacional nesta altura é inexistente, estando concentrada para os meios de “primeira linha de combate” que são os que mais precisam. O mesmo acontece com as luvas. Na empresa temos postos que usam este tipo de equipamentos de proteção e costumamos ter stock. Mas não é suficiente para as necessidades de um uso generalizado. A nível de gestão, estamos atentos às medidas do governo. E seguramente teremos necessidade de nos socorrer de algumas ajudas para que possamos manter-nos nesta fase e ter força para alavancar a produção quando isto passar… pois vai passar!
3. Não! Nem queremos pensar nisso, temos uma responsabilidade para com os nossos funcionários e a nossa função é arranjar formas e soluções para manter toda a gente a trabalhar, pois vamos precisar de todos!
4. Há muita indefinição ainda. Mas muita coisa vai mudar e vamos ter de nos adaptar a uma nova realidade! Não é uma guerra convencional mas tem efeitos económicos muito parecidos. Ainda é cedo para detalhes, mas haverá uma retração muito grande dos mercados, pelo menos.