Doutoramento: João Ribeiro propõe alterações no ensino musical em Guimarães
O salão nobre da Sociedade Martins Sarmento foi palco, no dia 15 de novembro, da apresentação pública da tese de doutoramento de João Ribeiro, intitulada “O ensino oficial e não oficial de música em Guimarães. Estudo de caso múltiplo”. O músico e professor de música, natural de Longos, deu a conhecer a sua dissertação em Estudos da Criança – Especialidade de Educação Artística, considerada por José Couceiro da Costa (provedor da Real Irmandade da Consolação e dos Santos Passos) “um trabalho notável e relevante” que vem “enriquecer a história da música em Guimarães”. Por sua vez, António José Pacheco Ribeiro, do Instituto de Educação da Universidade do Minho acredita que este trabalho “vai impactar aquilo que será o futuro do ensino da música em Guimarães”.
Isto porque, o autor explorou a história do ensino musical, as instituições e a forma como se relacionam atualmente, analisando “mais de mil instituições de 48 freguesias do concelho” onde a música, de alguma forma, é ensinada. “Este trabalho resultou do interesse profundo que nutro pelo ensino da música, mais especificamente no território do concelho de Guimarães, que é uma referência a nível cultural”, explicou João Ribeiro.
Na reconstituição histórica do ensino da música, João Ribeiro começou por elencar que “a igreja teve enorme influência na disseminação de música”, destacando-se no século XVI a Colegiada da Oliveira. Seguiram-se as bandas filarmónicas como entidades importantes, sendo que no presente o ensino de música faz-se essencialmente em escolas especializadas, destacando-se quatro instituições no estudo de caso: Conservatório Musical de Guimarães, Academia de Música Fernando Matos, Academia de Música Albano Abreu Coelho Lima e Escola de Música Professor José Neves. “Nas escolas de ensino básico a oferta musical é inexistente, as Atividades de Enriquecimento Curricular têm desporto e artes performativas, ficando a música para as escolas especializadas”, constata.
“Infraestruturas limitadas e falta de apoios financeiros”
Como principais conclusões, do estudo de caso com entrevistas aos diretores das escolas, inquéritos aos alunos e documentação, João Ribeiro considera que “em Guimarães as escolas especializadas de música têm um compromisso sério” e “existe diversidade musical e cultural” no concelho no que diz respeito ao lecionar de música, mas, por outro lado, “as infraestruturas são limitadas e há falta de apoios financeiros” para que seja possível desenvolver um projeto pedagógico global e mais sólido nesta área.
Neste contexto, o autor apresenta e desenvolve sete vetores que considera estruturantes para o ensino musical no território concelhio, permitindo assim o acesso generalizado à aprendizagem de música. Como primeira diretriz, João Ribeiro aponta a criação de Plano Municipal de Educação Musical em que seja feita a integração no currículo escolar e seja promovida a iniciação musical generalizada. Em segundo lugar é sugerida a articulação entre o ensino oficial e o ensino não oficial, através de parcerias com instituições do território, como é o caso das bandas filarmónicas, e outras. Um outro ponto é referente à implementação de incentivos e apoios ao ensino especializado, por exemplo através de bolsas de estudo a jovens talentos na área da música.
O quarto ponto da espécie de caderno de encargos da tese “O ensino oficial e não oficial de música em Guimarães. Estudo de caso múltiplo” é feito o incentivo à programação de eventos e Festivais Musicais, como por exemplo a realização de um festival anual em que sejam apresentadas as produções no âmbito do ensino musical, sendo que para proporcionar a melhoria das infraestruturas é feita a sugestão da criação de um Centro Municipal de Educação Musical. Como sexto ponto, é defendida a formação e capacitação constantes dos professores de música, e como último vetor foi sugerido o fomento da inclusão social através da música, com a implementação de projetos em comunidades desfavorecidas.
Seguro de que “a música tem a capacidade de influenciar a vida de cada um e a sociedade”, João Ribeiro terminou a apresentação sustentando que “há várias formas de financiamento disponíveis, quer a nível europeu quer a nível nacional” para implementar estes projetos.
[ndr] artigo originalmente publicado na edição de dezembro do Jornal Reflexo.