Cursos do IPCA abrem portas, mas falta espaço para crescerem no Avepark
O Instituto Politécnico do Cávado e do Ave (IPCA) acolhe, no ano letivo de 2021/22, 1.876 estudantes nos cursos da Escola Técnica Superior Profissional (ETESP). O número de inscritos traduz um aumento de 32,8% face a 2021/21 (1.413 matriculados) e de 65,3% face a 2019/20 (1.135), elevando a instituição nortenha ao segundo lugar entre os politécnicos que mais gente atrai para os Cursos Técnicos Superiores Profissionais: Leiria encabeça a tabela, com cerca de 2.200 estudantes neste ano, avança ao Reflexo o diretor da ETESP.
Para Filipe Chaves, esses números comprovam o sucesso da medida instituída em 2014, para tentar resolver o problema dos cerca de 365 mil jovens que, à época, “nem estavam preparados para ingressar no Ensino Superior, nem para trabalhar para as empresas” após a conclusão do Ensino Secundário. “O Governo apostou nesta formação, os TESP, que são cursos de dois anos, com uma componente muito prática. O último semestre tem 840 horas de estágio. O IPCA agarrou este desafio desde 2014”, esclarece.
Os cursos arrancaram no campus do IPCA, em Barcelos, e também em Braga, antes de começarem a funcionar no Avepark durante o ano letivo 2015/16. Passados quase sete anos, o número de estudantes no polo no parque de ciência e tecnologia em Barco é de 396, o segundo mais alto entre as cinco unidades com TESP: o polo de Vila Nova de Famalicão é o que regista maior procura, com 615 alunos (35%), surgindo Braga em terceiro (360), Barcelos em quarto (354) e Esposende, que começou a funcionar em 2021/22, em último.
A recente trajetória dos TESP no norte de Guimarães é, porém, de estagnação e não de crescimento. Segundo Filipe Chaves, o polo tem mantido os 400 alunos por ano desde 2019, ano em que os cursos passaram para a alçada da ETESP, instituição então fundada para “uniformizar a gestão e a imagem” da oferta educativa, até então repartida pelas outras quatro escolas do IPCA: Escola Superior de Design, Escola Superior de Gestão, Escola Superior de Tecnologia e Escola Superior de Hotelaria e Turismo.
Há atualmente 10 cursos em vigor para o 1.º Ano e oito para o 2.º Ano, com prevalência do design – moda, calçado e gráfico -, apesar da gestão e da tecnologia estarem igualmente representadas. O Avepark não tem, contudo, instalações vagas para aumentar a oferta, reconhece Filipe Chaves. “Estamos limitados a um só edifício”, reconhece. “No ano passado, conseguimos que umas boxes na parte de baixo de outro edifício ficassem vazias, de forma a mudar para lá os laboratórios de design de moda e de calçado, mas isso só dará para crescer mais um ou dois TESP”, descreve. A falta de uma oficina no Avepark ditou a mudança da licenciatura em Mecânica Automóvel para Barcelos, acrescente-se.
Além disso, o próprio espaço, apesar do enquadramento propício ao estudo – “verde, saudável e calmo” -, está longe de incentivar uma maior oferta dos TESP. As acessibilidades ao Avepark são difíceis, levando, por exemplo, o IPCA a descartar cursos pós-laborais naquele local: o polo de São Cosme do Vale, em Vila Nova de Famalicão, acaba por ser o destino privilegiado para esse regime que atrai 36% dos matriculados (666), parte deles de Guimarães, admite Filipe Chaves.
“As empresas convidam praticamente todos os estudantes para lá ficarem”
Com 75% de alunos do género masculino, os TESP do IPCA requerem apenas que os inscritos tenham o 12.º completo e funcionam em articulação com várias empresas do distrito de Braga, como se vê no estágio programado para o último semestre de cada curso. “Fazemos os cursos em colaboração com as empresas. Quando os alunos vão para lá, já têm as competências de que precisam. 95% dos alunos são convidados a ficar na empresa”, descreve o diretor do ETESP, professor doutorado em Engenharia Mecânica pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto.
Apesar de nem todos os estudantes permanecerem nas empresas, por preferirem seguir para licenciaturas, a ETESP dá condições aos alunos para integrarem logo no mercado de trabalho até pelo facto de muitos dos 220 docentes terem as suas próprias empresas ou desenvolverem software para elas, considera ainda Filipe Chaves. Para o responsável, a componente prática do curso é aquela que melhor se ajusta às necessidades das empresas quando procuram quadros intermédios. "Hoje em dia, as empresas facilmente encontram engenheiros ou economistas, mas quadros intermédios é mais difícil. Um engenheiro é preparado com matérias nem sempre alinhadas com o que as empresas precisam”, explica.
Entre os 35 cursos da ETESP, 12 são patrocinados pela Fundação José Neves, facilitando o acesso dos matriculados a bolsa de estudos, acrescenta Filipe Chaves, dando ainda conta do objetivo de instalar no Avepark uma parceria com a consultora Deloitte, em que os estudantes trabalham para a consultora enquanto têm propinas e outros custos pagos, já em vigor em Barcelos e em Braga.