
António Mota: “É importante fomentar a sustentabilidade no Centro Social”
António Mota, empresário, assumiu a presidência do Centro Social Padre Manuel Joaquim de Sousa em março, após doze anos como elemento da direção de Ricardo Costa. Em entrevista ao Reflexo, aborda o futuro da IPSS que “está a pagar a fatura dos investimentos necessários feitos no passado”. Um desses investimentos passou pela compra do terreno contíguo às instalações, para assegurar o “futuro” da instituição. É altura de projetar um futuro “sustentável” e mais orientado para a valorização e formação dos colaboradores.
Assumiu a presidência do Centro Social Padre Manuel Joaquim de Sousa (CSPMJS) há quase um ano. O que o levou, na altura, a assumir a presidência da instituição?
Foi a responsabilidade. Entendo que aquela instituição precisa de gente capaz, que saiba o caminho a trilhar. Não era de minha vontade própria, confesso, o anterior presidente saiu e a minha vontade era sair com ele, entendia que, com a sua saída, também eu deveria sair. Fui, de alguma forma, convidado a continuar o desafio, na altura pelo ex-presidente [Ricardo Costa], e a partir daí ponderei, percebi os elementos que estariam disponíveis para abraçar o desafio, consegui reunir os elementos que entendi que aportavam valor para que a instituição pudesse continuar a dar uma boa resposta e fazer um bom serviço. A partir do momento em que reuni essas condições abracei o desafio com toda a humildade, mas acima de tudo com toda a responsabilidade que se abraça um desafio desta dimensão.
Quem é António Mota, para quem não conhece? Depois de doze anos nos órgãos sociais do CSPMJS assume a presidência, o primeiro cargo desta natureza que exerce…
Sou marido e pai da Carolina e do Eduardo. Empresário e um eterno admirador de todos os que se dedicam a cuidar do próximo. Valorizo o respeito pelo outro e acredito que a solidariedade é um princípio fundamental na minha vida. Mas, já fui também presidente de um clube de futebol sensivelmente três anos [Clube Operário de Campelos]. António Mota é um homem como outro qualquer, que gosta de abraçar desafios, gosta muito de respeitar as pessoas, e parte do princípio que quando abraça um desafio é para agarrar, para levar em diante, fazer com que as coisas aconteçam. Para além disso, sou um homem de família, sou empresário há 32 anos – tenho duas empresas – o que já é uma vida muito preenchida. Bastante sofrida, diria, faz parte do crescimento, do caminho, não posso dizer que é negativo, são aprendizagens que vamos tendo na vida, que nos vão formando, o nosso caráter, personalidade, a nossa posição nesta sociedade, às vezes é difícil arranjar uma maneira de estar.
Como é que olha para estes primeiros meses de trabalho. Pode falar-se de uma liderança de continuidade?
Em certa medida, sim. Foram doze anos com o anterior presidente, doze anos de trabalho, de luta, de compromisso, claramente de crescimento, anos de investimento. Porém, nunca nos podemos esquecer de uma fase menos boa, a pandemia, que nos trouxe coisas bastante desagradáveis para todos. Do ponto de vista financeiro a instituição sofreu, como todas as instituições, o que posso dizer é que é uma continuidade do ponto de vista da resposta aos nossos utentes, ter sempre qualidade, um bom serviço e humanismo presente. Isso foi sempre a nossa bandeira. Do ponto de vista da gestão da instituição, obviamente que hoje tem o meu cunho, a minha forma de estar e de pensar mas, também, o contributo único da equipa que lidero. Levar para a instituição uma visão mais empresarial, uma visão mais agregadora, que permita no final do mês gerar valor para que possamos, também, dar o que os nossos funcionários e os nossos colaboradores merecem, para que sejam reconhecidos e valorizados. Estas instituições acabam por não ter esta capacidade de dar esta resposta, por isso temos de mudar,
um pouco, de paradigma. Temos que gerar valor, ir ao rigor, ao pormenor, ao detalhe para fazer que as coisas aconteçam e, daqui a um ano ou dois, a instituição estar em patamares que permita fazer aquilo que eu mais aprecio: valorizar e reconhecer os nossos colaboradores. São os ativos mais importantes da nossa instituição. Os nossos utentes são importantes, porém, para nós enquanto direção o mais importante são os colaboradores, que têm de estar bem, felizes, para continuar a fazer um bom trabalho. Esse tem de ser o nosso cuidado, o nosso objetivo. Estar nestas instituições é intrínseco, ter este humanismo, sentir o que estão a fazer.
“Abracei o desafio com toda a humildade, mas acima de tudo com toda a responsabilidade que se abraça um desafio desta dimensão”
Que retrato é possível fazer da instituição?
Temos a instituição nas nossas mãos com a clarividência que é preciso ter para tomar decisões, diria o mais assertivas possível, ao ponto de perceber que todas as decisões que possam ser tomadas vão ter repercussões no futuro. Não só do ponto de vista financeiro, mas do ponto de vista da instituição em si. Neste momento, o trabalho que está a ser feito está a ser feito com a responsabilidade necessária. A pandemia veio baralhar um pouco o trabalho que estava a ser feito. Mas não só. A mudança do Programa Quadro também limitou o acesso a Fundos Europeus. Diria que está estável o suficiente para continuar o trabalho, para prestar um serviço de qualidade e diferenciado que é necessário ter. É, contudo, preciso ter cuidado para que haja perceção que há investimentos que são necessários fazer para que possamos, mais à frente, dar resposta que queremos dar; olhar mais para os nossos colaboradores. A instituição, do ponto de vista operacional está bem, rapamos sempre no final do mês o que se vai gerando, mas maioritariamente não chega, porque os investimentos que foram feitos estes anos foram altos, mas necessários, temos essa noção e sabemos que foi feito com responsabilidade. Mas, hoje estamos a pagar uma fatura que tem de ser paga e tem um peso significativo.
A creche é uma das ofertas que o CSPMJS tem. Há o flagelo por todo o país da falta de resposta a este nível. Qual é o cenário?
Há uma lista de espera muito grande. Para nós o problema nem está tanto na creche, mas sim no pré-escolar. É uma valência que temos bastantes dificuldades e todos os meses temos prejuízo. É uma valência que, claramente, dá prejuízo. A creche é pena não ter as condições, para já, necessárias para poder ter mais crianças e, a partir daí, ter mais receita para fazer face às nossas despesas. Não estamos bem nessa matéria, claramente,
mas esperamos que o governo rapidamente permita ter também a gratuitidade, para que a instituição possa dar resposta às necessidades da comunidade porque de facto é uma responsabilidade com um peso muito grande para a nossa instituição.
Dada a centralidade das Taipas no território o CSPMJS recebe crianças de várias freguesias. Há algum tipo de critério de entrada?
Fazemos a parte que é necessária, o CSPMJS analisa caso a caso, mas geralmente são questões que a Segurança Social define, se tem condições, ou não de entrada. Porém, a creche, tendo em conta a gratuitidade, estamos cá para servir as pessoas sejam de onde for. O nosso papel não é o de decisão, mas sim de acolhimento. Gostávamos de dar resposta a todos, mas é o que é…
Desde que está implementada a gratuitidade o processo junto da tutela tem funcionado bem?
As coisas estão bem. Não vamos tendo desafios importantes, está bem estruturado e equilibrado.
O lar de idosos é outra das vertentes do CSPMJS. Também há lista de espera?
Temos a casa cheia e também uma lista de espera bastante grande. Vamos fazendo o que é possível para dar resposta, essencialmente às pessoas que estão sob a nossa alçada. Aqui sim, temos algum critério, damos sempre
a prioridade a quem frequenta o centro de dia, se quiser, avançar para o lar. Temos esse cuidado.
Que principais desafios se colocam a para a terceira idade atendendo a que cada vez mais a esperança média de vida é maior e com necessidades cada vez mais específicas. Isso tem sido motivo de reflexão?
A pergunta é pertinente, mas de resposta difícil. O que era suposto ter é pessoas com alguma mobilidade, mas hoje temos quase 50% das pessoas do nosso lar com muitas dificuldades de mobilidade e mesmo acamadas. Isso cria dificuldades acrescidas para as equipas e custos extraordinários para a instituição. Há muito a fazer e tentamos dar uma resposta personalizada.
O problema é que muitas vezes estas instituições são chamadas para fazer aquilo que não conseguem fazer. As pessoas chegam até nós com dificuldades e o que fazemos? Damos a mão, não damos a mão? Correndo o risco de
estar a pisar o risco e estar em incumprimento. Isso deixa-nos frustrados, tristes. Somos colocados em situações complicadas que não deviam existir. Queremos muito dar a resposta necessária, ajudar as pessoas, mas o caminho é bastante penoso e muitas vezes as pessoas não têm noção do que é estar numa situação desta grandeza. Hoje a nossa IPSS (Instituição Particular de Solidariedade Social) é uma casa que merece muito respeito. Estamos abertos à comunidade e queremos esta também mais participativa.
“No CACI só iremos avançar definitivamente para o terreno caso cubra 100 por cento da despesa. De outra forma, nos próximos três anos não avançaremos”
Um dos projetos que vem da anterior presidência, é público, é o objetivo de criar o Centro de Atividades Ocupacionais. Como está esse projeto? Mantém-se como objetivo?
Claramente mantém-se como objetivo. Há um caminho a fazer, esta direção tem o compromisso de só avançar se houver condições para o fazer. Se, porventura, houver candidaturas, iremos fazer isso. Mas, só iremos avançar
definitivamente para o terreno caso cubra 100 por cento da despesa. De outra forma, nos próximos três anos não avançaremos. Claro que, cada caso é um caso, iremos analisar ponto a ponto, se a valência gerar valor ao ponto de cobrir a despesa, poderá ser uma possibilidade, mas não estamos a pensar assumir mais compromissos bancários. Estamos muito focados nos nossos colaboradores. Nos últimos anos houve investimento na valorização salarial e formação, era uma necessidade, mas agora temos que desacelerar e pensar nos colaboradores, para lhes dar melhores condições de trabalho. Merecem. Não podemos estar sempre na linha vermelha.
Um dos investimentos que fizemos a pensar no CACI (Centro de Atividades e Capacitação para a Inclusão) foi o investimento no terreno comprado ao lado da nossa instituição, 5 mil metros quadrados, um investimento claro. Percebemos o peso que ia ter, mais uma responsabilidade e um custo que a instituição iria ter, mas que era necessário. Do ponto de vista estratégico é o futuro da nossa instituição, não podíamos deixar fugir aquele terreno. Uma das coisas que disse ao engenheiro João Felgueiras – na altura fui eu a estar na parte negocial – foi que o terreno tinha que ser nosso, nem que a direção tivesse de bater às portas. É claramente um objetivo, é futuro para a nossa instituição. Sabemos que íamos ter dificuldades a seguir, é preciso pagar, ainda hoje estamos a pagar a fatura, mas pagamos com tranquilidade, com a consciência que esse passo foi dado com muita tranquilidade. Hoje olhamos para a instituição, com todas as dificuldades diárias e mensais, mas temos uma instituição em que os ativos cobrem claramente os passivos.
A Escola de Balazar está cedida ao CSPMJS, num contrato de comodato para esse projeto. Está em stand-by?
Está em stand-by. Esse espaço está contratualizado, o terreno foi comprado depois de assinar esse contrato, ainda bem que o fizemos, queremos muito centralizar os serviços. Do ponto de vista da gestão, uma coisa é ter um edifício a 5 ou 6 quilómetros de distância, outra coisa é ter um edifício ao lado da nossa instituição. A compra do terreno foi para otimizar recursos para dar uma resposta mais assertiva e gerar valor ao final do mês.
Falar do CSPMJS é falar de uma instituição com um elevado grau de complexidade, com vários colaboradores e utentes…
Claramente. Damos resposta a mais de 400 pessoas. A instituição conta com mais de 105 trabalhadores, em todas as valências. Os números valem o que o valem, mas é uma instituição já com um peso muito grande e com responsabilidade muito acrescida.
Queremos ter a instituição cada vez mais aberta à comunidade, queremos comunicar mais com a comunidade, queremos que a comunidade se identifique com a nossa instituição. Precisamos de pessoas a ajudar, precisamos de mecenas, pessoas que olhem para a instituição e sintam que vale a pena. É nesse intuito que vamos trabalhar, chamar os empresários à nossa instituição, as pessoas que querem ajudar.
O município é um parceiro estratégico das IPSS. Como é que tem sido trabalhar com a Câmara de Guimarães e com a Junta?
Ao longo destes doze anos, hoje com a minha presidência – juntamente com os meus colegas de direção – há, acima de tudo, respeito por todas as instituições. Cumprimos o nosso papel e queremos sempre contar com a Câmara, na pessoa do Dr. Domingos Bragança e com a Junta de Freguesia, com espírito de ajuda e de missão. A Câmara vai sempre ajudando, claro que queríamos mais, precisamos de mais respostas. A Câmara de Guimarães percebe que somos um parceiro a ter em conta, não somos uma instituição qualquer, damos uma resposta clara à comunidade. A Câmara sabe isso.
Quais são os principais objetivos para o futuro da instituição?
Acima de tudo, o mais importante é promover a sustentabilidade da instituição. Mas, também que nos possa dar essa estabilidade a nós, de forma a ser refletida nos colaboradores, para melhor servirmos a comunidade. Estamos a fazer investimento, a fazer trabalho, estamos a candidatar-nos a um projeto de energia renovável, um investimento superior a 200 mil euros para otimizar equipamentos, apostando claramente nas energias renováveis, em painéis fotovoltaicos, nos últimos anos temos pago uma fatura muito elevada a nível energético, tem sido bastante penoso. Este é um dos caminhos, espero que a candidatura nos venha ajudar nas nossas condições.
O futuro passará sempre por estabilidade, criar condições para que os nossos colaboradores sejam valorizados e reconhecidos, para que após isso também – caso haja essa possibilidade – seja possível candidatar a outras valências e possamos estar, do ponto de vista financeiro, mais equilibrados e estáveis. Diria que é um futuro ambicioso e responsável.
Uma altura, um jovem universitário, numa palestra de fim de curso, dizia que os rios não bebem a sua própria água, as árvores não comem os seus próprios frutos, o sol não brilha para si mesmo e as flores não espalham a sua fragrância para si mesmas. A natureza permite- -nos perceber que vivemos para servir o outro. Reflete a essência da nossa instituição, existimos para servir e fazer o bem.

"Reunimos elementos que aportam valor à instituição" Um dos principais fatores de ponderação de António Mota para a assumir a presidência do Centro Social das Taipas foi a equipa que o rodeia. “Consegui reunir os elementos que entendi que aportavam valor para que a instituição pudesse continuar a dar uma boa resposta e fazer um bom serviço, só a partir daí avancei”, destaca o presidente do Centro Social das Taipas, sublinhando que a equipa é fundamental para se poder desempenhar um bom trabalho “numa instituição com a complexidade do Centro Social Padre Manuel Joaquim de Sousa e com os desafios diários que temos”. A direção é composta por Patrício Ferreira (Supervisão e Coordenação dos Serviços de Saúde), Luís Silva (Análise Económico-financeira e Supervisão Financeira), Luís Salvador (Gestão de Infraestruturas & Qualidade e Tesouraria) e Francisco Castro (Serviços Sociais e Recursos Humanos). |
Pub