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Adesão aos Banhos Velhos triplica em 2023: “Foi a todos os níveis a melhor”

Tiago Dias
Cultura \ sexta-feira, outubro 13, 2023
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Cerca de 20 mil pessoas passaram por todas as iniciativas do ciclo cultural, com as principais enchentes a darem-se nos concertos de José Pinhal Post-Mortem Experience e A Garota Não.

Ambos os concertos decorreram no polidesportivo da Taipas Turitermas, estima o programador José Manuel Gomes. Ainda sem a certeza se vai ou não continuar à frente dos Banhos Velhos, o responsável vinca o crescente reconhecimento e carinho do público.

Bancada repleta, multidão apinhada de pé numa das metades do recinto de jogos do polidesportivo das Taipas. Quando cessaram os últimos acordes de “Dilúvio”, essa maré de gente converteu-se num aplauso coletivo à performance de uma cantautora de vincadas mensagens sociais, patentes no seu acalmado álbum “2 de Abril” (2022).

Com os seus enredos de palavras, de ritmos, de timbres acústicos e eletrónicos, A Garota Não protagonizou o último dos concertos da edição de 2023 dos Banhos Velhos. “Foi a todos os níveis a melhor”, considera José Manuel Gomes, diretor artístico desde 2016. Realizado em 22 de setembro, o concerto da artista setubalense foi o segundo que mais gente atraiu a Caldas das Taipas.

A maior enchente, essa, deu-se a 14 de julho, no concerto dos José Pinhal Post-Mortem Experience. Segundo a organização, cerca de sete mil pessoas invadiram o polidesportivo das Taipas Turitermas para ouvirem o tributo ao malogrado cantor de Matosinhos. “Foi o concerto com mais gente na história dos Banhos Velhos”, assinala, a propósito de um ciclo cultural que se iniciou em 2010.

Com o contributo evidente dos dois espetáculos, a edição de 2023 fixou um novo recorde de afluência: cerca de 20 mil pessoas nas 17 iniciativas do ciclo. “A adesão do público é a maior métrica que temos. Se vem muita gente, fica toda a gente feliz, embora não faça coisas a pensar para massas. A adesão do público foi praticamente o triplo da do ano passado. Temos tido um público em crescimento de ano para ano”, descreve o programador ao Reflexo.

Quando fechou a agenda para 2023, em novembro do ano passado, as expetativas de José Manuel Gomes estavam longe desses números – “tinha uma agenda boa, mas não a considerava a melhor entre todas as edições”, admite. A perceção começou, todavia, a mudar quando o programa foi apresentado no antigo balneário termal, em 13 de abril. “O buzz estava a ser diferente dos outros anos, para melhor”, recorda, admitindo a eventual influência nesse sentido do mal-entendido com a Lusa, que divulgou a agenda antes de ser oficialmente apresentada.

Os indicadores provenientes dos hotéis e dos restaurantes confirmavam que 2023 era mesmo um ano diferente; para o dia de José Pinhal Post-Mortem Experience, o restaurante contíguo ao polidesportivo já tinha reservas para jantares de 30 pessoas desde maio. “Nesse dia, não havia um restaurante nas Taipas que tivesse vaga”, constata. Já o Hotel das Taipas atraiu pessoas de Santiago de Compostela ou de Faro no dia d’A Garota Não. “A marca dos Banhos Velhos vai muito além da vila de Caldas das Taipas e do concelho de Guimarães”, acrescenta o diretor artístico.

 

Polidesportivo como opção e direção artística: “Ainda não há certezas”

O Polidesportivo é o traço comum aos dois eventos com mais adesão dos últimos Banhos Velhos. A principal justificação foi a meteorologia, diz José Manuel Gomes; no dia de José Pinhal Post-Mortem Experience choveu e havia dúvidas se iria acontecer o mesmo em A Garota Não. “Temos o espaço definido três ou quatro dias antes. O tempo estava bastante instável: ora dizia-se que chovia, ora dizia-se que não. Nunca quero arriscar e ter de cancelar um concerto”, esclarece.

Aquele recinto tem uma capacidade bastante superior à do antigo balneário termal – lotação máxima a rondar os mil espetadores -, mas “ainda é muito cedo para avaliar” se se devem transferir todos os concertos para lá. “Convém ver caso a caso e ir medindo o pulso à restauração e ao próprio hotel”, refere. O polidesportivo foi o palco mais concorrido de 2023, mas a crescente procura estendeu-se às restantes iniciativas.

O recinto dos Banhos Velhos “encheu completamente” em junho, para Surma, Noiserv e Mira Quebec – “havia gente que já não conseguia ver e vimos três tratores do lado de fora com pessoas a verem o concerto”, recorda José Manuel Gomes –, e em agosto, para First Breath After Coma. E as quatro sessões de cinema receberam mais espetadores, por exemplo: “Tivemos sempre mais de 100 pessoas. No ano passado, apareciam 20 e já era muito”, ilustra.

Depois de um ano em que “o trabalho foi muito recompensado”, emerge a dúvida quanto à continuidade de José Manuel Gomes; à frente dos Banhos Velhos desde 2016, o programador cessou recentemente o vínculo à Taipas Turitermas para mudar de área profissional. “Estou num trabalho novo, numa área diferente, que me está a exigir muito. Ainda não há certezas em relação ao futuro”, adianta.

 

“Um carinho muito especial”

Sete anos depois de assumir as rédeas do ciclo cultural, José Manuel Gomes enaltece a crescente atração de público a uma vila entre dois polos culturais relevantes – Guimarães e Braga -, o cuidado em “aliar a comunicação à programação” e a progressiva abertura ao público infantil, às associações e às escolas. Essa abrangência reflete-se no carinho do público. “O maior legado destes sete anos é o reconhecimento do público e este carinho muito especial. É algo que criámos. Comigo ou com outra pessoa, o projeto continuará a resultar. É uma gratidão enorme ver que os desafios foram superados nestes sete anos”, constata.