A rodopiar pela madeira fora: patinagem atraiu centenas às Taipas
Fruto de um trabalho que envolveu dezenas de voluntários, pais sobretudo, o 2.º Open de Patinagem Artística de 2023 mereceu alguns reparos pela logística do pavilhão, mas sobretudo elogios pelo “acolhimento”.
Da bancada, o público fixava os olhos nas atletas que, uma a uma, serpenteavam pela madeira nos esquemas preparados para as competições femininas de patinagem livre, em juvenis, e de solo dance, em cadetes. Ao seu estilo, cada patinadora desdobrava-se em figuras e coreografias várias, enquanto os juízes, 20, e os membros do comité técnico da Federação Portuguesa de Patinagem (FPP), cinco, as examinavam. A música e o movimento entrelaçados davam, no piso de cima, lugar ao burburinho do serviço de refeições e de um improvisado balcão de atendimento, postos a funcionar por voluntários e pais dos atletas do CART.
"No sábado, houve pessoas que estiveram aqui desde as 08h00 às 22h00. Tentámos criar as melhores condições possíveis. (…) Todos os pais uniram-se e organizaram o bar, pedindo apoios a nível de água e de alimentação", descreve Maria Lopes, presidente do CART, à medida que o sol se erguia, no final da manhã de domingo.
Esse esforço deveu-se ao 2.º Open de Patinagem Artística, que reuniu em Caldas das Taipas mais de 180 atletas de Portugal Continental, Madeira e Açores a 25 e 26 de março. Numa época desportiva que se desenrola de janeiro a dezembro, o evento organizado pelo CART foi o segundo de cinco opens em que patinadores de vários escalões concorrem pelas notas mínimas de acesso aos campeonatos nacionais de 2023. Cada atleta pode participar em dois opens para garantir o apuramento; caso não o consiga, resta-lhe obter um dos cinco primeiros lugares no respetivo campeonato distrital, explica.
Embora uma lesão tenha afastado a representante do CART, Lícia Gonçalves, o “crescimento competitivo” do emblema azul e vermelho, patente na recente convocatória para a seleção nacional de Carolina Novais, Letícia Marinho e Diogo Nogueira, motivou a candidatura a um open já em 2022. A federação recusou então, face a uma distribuição das provas mais a sul, mas “comprometeu-se a entregar uma prova neste ano”, recorda a dirigente. A promessa cumpriu-se, mas a organização do evento deu-se em contrarrelógio. “Só no fim de semana de 4 e 5 de março soubemos quantos atletas vinham. Não tivemos muito mais do que duas semanas de antecedência para preparar isto”, confessa Maria Lopes.
Garantir alojamento para atletas e treinadores estava à responsabilidade de cada clube, mas a responsabilidade perante juízes e comité técnico recaía sobre o CART; com o apoio da Câmara Municipal, o clube tratou desse encargo, explica a dirigente.
Do alto onde repousam troféus e galhardetes do CART, o vice-presidente da FPP para a patinagem artística contemplava o aquecimento para as provas de domingo à tarde. “Faço um balanço bastante positivo do evento”, vinca José Raimundo. A apreciação respeita ao “nível técnico elevado”, que torna “árdua” a “missão de filtrar os atletas para os campeonatos nacionais”, mas também a “excelente receção do CART”, não “faltando nada” à prova.
Eventos como o open, prossegue o dirigente, são momentos de “desenvolvimento não só desportivo”, mas também “social”, ao promoverem a “integração” entre atletas de todos as regiões do país.
“Competição é sinónimo de evolução”. E de convivência
Treinador de patinagem há 33 anos, Filipe Viegas aponta o contratempo da patinadora que treina, Isabel Moniz, para descrever a relação vivida entre clubes e atletas no fim de semana. “Quando a Isabel fez a prova, teve um bloqueio e esqueceu-se do esquema. Imediatamente os treinadores dos outros clubes vieram ter connosco para dar apoio e ajudá-la a rebobinar o esquema”, conta.
Isabel representa a Escola de Patinagem de Ponta Delgada, um dos quatro emblemas açorianos presentes nas Taipas, e ficou-se pela 23.ª melhor marca na patinagem livre, escalão de juvenis. À boleia da cunhada de Filipe, residente em Braga, conheceu o Bom Jesus e o Sameiro no sábado, testou o pavilhão do CART nessa noite – tinha de ver se “escorregava ou não escorregava, que “rodas usar”, como “acelerar”, detalha o treinador – e testou os seus limites no domingo, mesmo com o bloqueio que se apoderou dela. "Competição é sinónimo de evolução. A Isabel fez aqui elementos que nunca tinha conseguido”, reitera.
Quando Isabel deslizava pelo pavilhão do CART, Maria Miguel Fonseca observava da bancada: a patinadora do Centro Recreativo Popular da Ribafria, na Benedita, concelho de Alcobaça, competiu no sábado e obteve a sexta melhor marca na patinagem livre sénior; o “apuramento para o nacional era o mais importante” para a atleta que já foi a uma Taça da Europa e conseguiu-a (30,14), mas o fim de semana foi mais do que isso. "Há sempre o stress da prova, mas conhecer sítios diferentes é sempre fixe. Daqui para a frente, vou treinar para melhorar no nacional", testemunhou.
É preciso outra “logística” para o pavilhão
O clube da Benedita apresentou-se no open com três atletas. Assegurou os custos, organizou o transporte e conseguiu alojamento em Ponte, junto à reta de Toriz, após encontrar esgotada a unidade hoteleira das Taipas, já há cerca de um mês, relata a delegada, Cidália Domingos. Agradada com os espaços de restauração que a equipa visitou e com o acolhimento do CART, a responsável deixou apenas reparos às “condições técnicas” do pavilhão, aquém das de outros palcos de opens.
Maria Lopes reconhece que o número de juízes, alinhados no lado oposto à bancada, foi demasiado para a “logística” que o pavilhão apresenta no momento, situação que quer reverter com a construção dos novos balneários entre a EB1 da Charneca e o pavilhão, contemplada nos apoios da Câmara Municipal em 2022.